CULTURA
Jornalista paraibano lança biografia de Renato Russo
História do líder do Legião Urbana está em Renato Russo - O Filho da Revolução. Jornalista autografa livro nesta quinta-feira (17), a partir das 19h, no Zarinha Centro de Cultura.
Publicado em 17/12/2009 às 7:53
Astier Basílio
Do Jornal da Paraíba
Quando escreveu sobre a cidade de Brasília, a grande poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner disse que naquela cidade de concreto, “O Brasil emergiu do Barroco e encontrou o seu número”. Pode-se dizer que também foi lá que o rock brasileiro adquiriu seu idioma e encontrou seu intérprete: Renato Russo.
A história do líder do Legião Urbana está contada num estilo literário cheio de requintes cinematográficos na biografia Renato Russo - O Filho da Revolução (Agir, 415 págs, R$ 59,90). Autor da obra, o jornalista paraibano Carlos Marcelo, autografará o livro nesta quinta-feira (17), a partir das 19h, no Zarinha Centro de Cultura, em João Pessoa.
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Foi em Brasília, em 1985, que o jovem Carlos Marcelo escutou na fitinha k7 tocada no carro de um vizinho que lhe dava carona para ir à escola, os versos da canção “Geração Coca-Cola”: “Somos os filhos da revolução/ Somos burgueses sem religião/ Somos o futuro da nação”. Era a primeira vez que Carlos ouvia Legião. O futuro jornalista não sabia que, anos depois, estaria vasculhando a vida de um dos grandes mitos da cultura brasileira. “O que me bateu foi a forma muito diferente, incisiva e urgente, das letras e das músicas”, conta.
Se é de “Geração Coca-Cola” que Carlos Marcelo pega inspiração para o subtítulo, o autor lembra que a vontade de “saber mais sobre aquele cara”, veio quando assistiu ao polêmico show do Legião Urbana, em 1988 no estádio Mané Garrincha, que teve bombinhas no palco e agressão a Renato Russo. Esta cena, também não por acaso, integra a abertura da biografia. “(...) Vai ficar tacando bombinha em Legião Urbana, meu irmão? Stop! Somos tão jovens, tão jovens...”.
“Os capítulos iniciais estão com períodos mais longos e os capítulos finais, mais curtos. Eu costumo dizer que o começo é rock progressivo e o final é mais punk”, compara. A ocasião para dar início à biografia aconteceu no ano 2000. Foi quando Carlos Marcelo, a convite da revista Bizz, fez uma série de matérias, de dez páginas cada, sobre a história do rock em Brasília. “A ideia inicial era fazer um livro da relação de Renato Russo com Brasília”, explica. Todavia, o livro foi ganhando uma outra dimensão à medida em que a pesquisa avançava.
“Entrevistei inicialmente as pessoas anônimas, os amigos invisíveis, alguns nunca tinham dado entrevista na vida. Eu me reporto à época em que ele era o Júnior”, informa. Após recolher esses fragmentos de históricas, Carlos Marcelo procurou tanto a família Manfredini, como os amigos conhecidos. “Até para não perguntar as mesmas coisas”.
Uma das preocupações de Carlos Marcelo, atualmente editor executivo do jornal Correio Braziliense, é de contextualizar. “Sou um discípulo fervoroso da contextualização. É impossível falar da trajetória de Renato sem falar dessa recente história do Brasil”.
Quando fala sobre o golpe de 1968 relaciona o episódio à Frente Única da Música Popular, quando Caetano canta “Alegria, Alegria” que o autor, repetindo a máxima do compositor, afirma que aquela canção, “é a primeira a citar o mais popular refrigerante da época (...)”. A informação não é correta. Antes de Caetano cantar “Eu tomo uma coca-cola, ela pensa em Casamento”, em 1956, Luiz Gonzaga no compacto “Siri Jogando Bola” cantava: “vi um jumento beber vinte coca-cola/ ficar cheio que nem bola”.
Há muitas curiosidades. Uma delas é que o deputado baiano, homem forte do PMDB, Geddel Vieira foi colega de turma de Renato Russo que o considerava “in-su-por-tá-vel!”. O Trovador Solitário era um ávido devorador de livros. Sempre que na escola pediam para relacionar os livros que se havia lido, os professores sempre saíam com gracinhas do tipo: “não pedi para você dizer os livros que os seus pais têm em casa, mas os que você leu”.
Renato Russo também foi um grande cinéfilo. Muito engraçada é uma briguinha que ele teve com o amigo e também cantor Dinho Ouro Preto, que não aguentou ficar durante toda a exibição do filme O Tambor (1979, Volker Schlöndorff). Quando estreou Os Caçadores da Arca Perdida (1981, Spielberg”, Renato comentou, irônico: “O Dinho vai adorar esse filme...”.
Renato Russo também teve uma incursão pelo mundo do teatro. Chegou a atuar, no grupo da Cultura Inglesa, na peça “The Real Inspector Hound”. O curioso é que o autor desse texto, o celebrado dramaturgo Tom Stoppard cuja mais recente obra, montada este ano no Brasil, é nada menos que Rock’n’Roll, com direção de Felipe Vidal e Tato Consorti.
Quem é o Renato Russo que emerge desta biografia, então? “É alguém muito interessante, multifacetado que alguns consideravam um gênio e outros, um chato”, Carlos Marcelo afirma o poder da obra de Renato Russo que ainda se mantém entre os jovens. “Eu acho, inclusive, que a obra de Renato Russo é mais perene que a de Cazuza, em termos de idolatria. É uma força equivalente a de Raul (Seixas), pois, permanece no coração e na mente dos jovens”.
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