CULTURA
Da dor à alegria
Fenômeno de vendas no Brasil, romance 'A Culpa é das Estrelas' de John Green, aborda o universo de adolescentes com câncer.
Publicado em 04/10/2012 às 6:00
John Green é uma figura. Jovem, extrovertida, nerd (criou o movimento ‘Nerdfighters’), canta e é um fenômeno nos Estados Unidos. Também dá aulas gratuitas de história e biologia no projeto ‘Crash Courses’, tem mais de 1,2 milhão de seguidores no Twitter, é um sucesso com seu ‘Vlogbrothers’ (canal no Youtube que mantém com o irmão) e escreve sobre adolescentes com câncer em estágio terminal.
Talvez o jeito fanfarrão de Green o leve a uma sensibilidade única para escrever sobre um tema tão delicado como o câncer. A combinação deu tão certo que A Culpa é das Estrelas, lançado pela Intrínseca no mês passado, se tornou um fenômeno em escala global.
O livro de 288 páginas é o quinto título mais vendido da editora (que tem como carro-chefe 50 Tons de Cinza), com 18 mil exemplares comprados no Brasil em pouco mais de um mês, a um preço médio de R$ 24,90 (o livro) e R$ 14,90 (o ebook).
O romance é, sob certo prisma, até bobinho: Hazel tem 16 anos e vê sua vida virar de ponta a cabeça quando conhece o bonitão Augustus Waters, um ano mais velho. Juntos, eles vivem uma paixão paulatina, curta, mas intensa.
Até aí tudo bem, se o ponto de partida desse romance não fosse o Grupo de Apoio a Crianças com Câncer, se Hazel não tivesse um tumor na tireoide que lhe comprometera os pulmões – daí ela andar pra cima e pra baixo arrastando um tubo de oxigênio – e Waters ter perdido uma perna para um osteossarcoma.
“Só tem uma coisa pior nesse mundo que bater as botas aos 16 anos por causa de um câncer: ter um filho que bate as botas por causa de um câncer”, diz Hazel, que costuma teorizar que a depressão não é um efeito colateral do câncer, mas um efeito colateral de se estar morrendo.
Com habilidade, Green transporta o delicado mundo triste dos pacientes terminais para um ambiente mais leve, repleto de referências pop com literatura, música e videogame, construindo seu texto com sacadas inteligentes e linguagem acessível, adocicada com um romance comedido que chega a ser até emocionante.
E constrói muito bem seus personagens: Hazel tem uma personalidade forte, ideias afiadas e uma grande paixão pelo livro 'Uma Aflição Imperial’, cujo autor vive na Europa, e sua missão é descobrir alguns pontos soltos do enredo. Gus é um grande adepto das ressonâncias metafóricas, tem ótimo senso de humor e adora ironizar os clichês do mundo do câncer.
Com frequência, Augustus costuma aparecer com um cigarro na boca... apagado! “Eles não matam se você não acender”, justifica Augustus Waters, logo no primeiro capítulo. “É uma metáfora.
Tipo: você coloca a coisa que te mata entre os dentes, mas não dá a ela o poder de completar o serviço”.
A jornada de Hazel e Gus passa por partidas de videogame com Isaac – cujo câncer o deixa cego, mas não lhe tira seu bom-humor – e uma viagem a Amsterdã, onde o casal conhece o recluso Peter Van Houten, autor de 'Uma Aflição Imperial', narrado por uma menina chamada Anna, diagnosticada com um tipo raro de leucemia.
Green, que tem 35 anos, dedica o livro a uma de suas fãs, Esther Earl, uma jovem de 16 anos que morreu de câncer em 2010. Por vezes, seu texto é engraçado e corajoso, mas também brutal e sentimental. Mas é sempre brilhante.
De acordo com a Intrínseca, os direitos de publicação de A Culpa é das Estrelas já foram negociados em 32 países e a adaptação cinematográfica ficará a cargo da Fox 2000.
O autor já disse que gostaria de ver Hugh Grant (Um Grande Garoto) no papel de Augustus Waters. O problema é só encaixar um ator de 52 anos em um personagem de 17.
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