ECONOMIA
Escalada da inflação deve 'encolher' classe C este ano
Com perda de poder de compra, famílias da classe emergente cortam despesas e lazer já é considerado supérfluo
Publicado em 08/03/2015 às 15:00 | Atualizado em 19/02/2024 às 17:06
Responsável por um terço de todo o consumo da Paraíba, as famílias da classe C emergente, com renda média familiar de R$ 2.900, deverá encolher o seu potencial de consumo este ano. O alerta vem da pesquisa “O Bolso do Brasileiro”, um estudo inédito do Instituto Data Popular. A queda no poder de compra desta população é reflexo do contexto econômico atual, marcado por uma inflação persistente em patamar alto, encarecimento do crédito, aumento de juros e reajuste de serviços essenciais como energia e combustível.
Nesse turbilhão de fatores, o custo de vida está mais caro e o reajuste salarial dos trabalhadores não consegue acompanhar o ritmo mais intenso de subida dos preços de produtos e serviços. A pesquisa do Instituto Data Popular, que ouviu 3.050 brasileiros, apontou que 47% dos entrevistados inseridos neste segmento reduziram as compras nos supermercados, comparado aos últimos 6 meses. Outros 41% que informaram que compraram a mesma quantidade de produtos, enquanto apenas 12% disseram que aumentou o consumo. Detalhe: as respostas da pesquisa foram colhidas ainda em janeiro, ou seja, antes das altas sucessivas de energia e dos combustíveis que vai provocar repasse de custos para os demais produtos.
Considerando a condição financeira em que estão atualmente e projetando os próximos seis meses, 45% dos entrevistados contaram que pretendem reduzir o consumo; 36% planejam adquirir o mesmo volume de produtos e 19% pensam em comprar mais.
O presidente do instituto de pesquisa Data Popular, Renato Meirelles, citou algumas formas adotadas pela classe emergente para reduzir o consumo. “Hoje, a classe C tem adotado várias medidas para fugir da alta dos preços. Como forma de reduzir os gastos no supermercado, a classe média compra produtos de marcas diferentes das de costume ou deixa de consumir alguns itens”.
O diretor da IPC Marketing Editora e coordenador do estudo sobre consumo IPC Maps, Marcos Pazzini, enfocou que na Paraíba, assim como em todo o Nordeste, a Classe C tem uma participação muito relevante, tanto em termos demográficos como em participação no volume de compras. Para ele, a migração de domicílios da base da pirâmide para a Classe C foi o principal motivo do crescimento da região nos últimos anos, atraindo a atenção de empresas que antes só se preocupavam com vendas nas regiões Sul e Sudeste.
Pazzini acredita, porém, que o aperto na economia não vai subtrair a relevância desta Classe no Nordeste. “O que é importante é que ela vai mudar seus hábitos, deixando de consumir alguns produtos que não são de primeira necessidade, como troca de carro, sair menos de casa para passear, viajar, ir a restaurantes, entre outras coisas”.
Nas ruas de João Pessoa, os consumidores já estão mudando seus hábitos por causa do cenário econômico. Práticas como a alimentação fora do lar estão sendo evitadas, os planos para compra de bem durável são adiados e até as férias são organizadas de forma mais comedida.
O casal Jânio Klécio Lopes, pastor, e a esposa Islane Lopes, dona de casa, afirmou que já esperava a “onda” de aumentos em 2015.
Por isso, se programaram desde o ano passado. “Não via este aumento desenfreado desde a época do cruzeiro. Isso ficou bem visível desde o fim de 2014. Somente nas compras de supermercado percebi um aumento de 40% nestes dois meses do ano. Com tanta elevação de preço, estamos cortando despesas como comer fora”, confessou Jânio, que tem renda familiar de R$ 2,5 mil. “Tudo que é lazer e considerado como supérfluo já foi excluído da rotina da família para não interferir nas necessidades básicas da casa, como alimentação”, acrescentou Islane.
A situação econômica também obrigou o casal a adiar alguns projetos. “Além de não termos viajado nas férias em dezembro, optei por comprar um carro usado, ao invés de um novo no início deste ano”, destacou o pastor. Jânio e Islane não têm uma projeção otimista para os próximos seis meses. “Acredito que a tendência é a situação piorar até o meio do ano. As coisas só devem melhorar no segundo semestre”, acredita o pastor.
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