VIDA URBANA
Câncer de mama: após a cura, mulheres têm baixa autoestima
Consequência físicas e psicológicas permanecem mesmo após o tratamento.
Publicado em 22/10/2017 às 8:00
O câncer de mama é o mais comum dentre as mulheres na Paraíba, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer. A doença é tratável e completamente curável, principalmente se descoberta no início – mulheres que iniciam o tratamento ainda no estágio I têm chances de cura próximas a 100%; no estágio II, esse número é de 93%.
Entretanto, as dificuldades provocadas pelo câncer de mama não somem magicamente após a cura: muitas mulheres têm que lidar com as consequências físicas e psicológicas da doença, como insegurança, falta de autoestima e a falta de interesse sexual. Tais fatores são agravados nos casos em que a mulher realiza a cirurgia de mastectomia – tratamento comum contra o câncer que envolve a retirada de uma ou das duas mamas.
De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SUS), 63, 5 mil mulheres realizaram cirurgia para remoção dos seios entre os anos de 2008 e 2013 em todo o Brasil, quando os dados foram disponibilizados pela última vez. O número representa uma cirurgia a cada 40 minutos.
Segundo a psicóloga, ginecologista e obstetra Wanicleide Leite, os problemas que afligem as mulheres após a cura do câncer existem e não são suficientemente debatidos. “Depois da cura, quando passam as fases de choque e de medo da morte, muitas mulheres são acometidas pela vergonha”, conta a médica. “A mama, afinal, é um símbolo da mulher e tem representações que remetem à maternidade, à sensualidade e a uma identidade própria”, explica.
Ao perder os seios, muitas mulheres veem também minguar sua autoestima e, consequentemente, a confiança em si mesma, inclusive no âmbito sexual. “Após o tratamento vêm as cobranças para retomar o curso normal da vida, em seus diversos aspectos: no trabalho, em casa, na vida afetiva e sexual. E muitas pacientes sentem que não vão dar conta, entrando em um processo de depressão, de negação de si mesmas, de sua beleza, de sua vida sexual”, diz Wanicleide Leite. “Muitas não conseguem nem se olhar no espelho”, lamenta.
Tratamento psicológico e apoio do parceiro são fundamentais
De acordo com a terapeuta, o suporte psicológico profissional é essencial para mulheres que acabaram de sair do tratamento contra o câncer. “O trabalho na autoestima é feito a partir da aceitação do próprio corpo e em perceber-se como desejável e desejada. A mulher precisa voltar a ter autoconfiança em sua sensualiade; a pensar nas relações afetivas, em sexo”, explica Leite.
A utilização de produtos de beleza específicos, de brinquedos sexuais e de medicamentos servem de suporte para a mulher aceitar e abraçar sua nova realidade. Um dos apoios mais fundamentais, entretanto, vem do parceiro ou parceira da paciente.
“A pessoa com quem essa mulher mantém um relacionamento afetivo e sexual é essencial para a superação dessas questões. Ela pode assistir a paciente através do amor e da compreensão, e muitas vezes uma terapia de casal também é necessária para que ambos possam compreender as particularidades da relação que emergem após a doença”, comenta a psicóloga. “No final, o diálogo – seja ele com um profissional, com o companheiro e consigo mesma – é o grande aliado da mulher na reconstrução de sua vida”, conclui.
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