CULTURA
Sonoridade exótica
Melody Gardot concebeu o novo repertório associada ao brasileiro Heitor Pereira.
Publicado em 14/06/2012 às 8:00
Foi em uma viagem ao Marrocos que Melody Gardot teve o ‘insight’ para o seu novo trabalho, The Absence (Universal, R$ 35), um disco exótico, inspirado no deserto marroquino, mas também nas ruas de Lisboa, nos bares de Buenos Aires e no nosso belo Litoral, onde a cantora norte-americana passeou por um mês inteiro, de barco.
Certamente, os fãs que se apegaram ao disco anterior, My One and Only Thrill (2009), obra-prima que projetou a voz envolvente e as canções melancólicas de uma cantora que descobriu seu talento ao sofrer um acidente que lhe deixou inúmeras sequelas, irão estranhar o clima ensolarado e plural do novo trabalho, digno de um disco de Paul Simon.
Melody Gardot concebeu o novo repertório associada ao brasileiro Heitor Pereira. “Eu precisava de um parceiro (...) louco o bastante para entender o quão séria eu sou quando digo ‘Eu quero tocar folhas de palmeira e uma tábua de lavar’ – e fazer isso funcionar”, declarou a cantora.
Coube ao músico-produtor a tarefa de fazê-la “tocar uma tábua de lavar”. Ou quase isso. Heitor Pereira é o Heitor TP, guitarrista que acompanhou Caetano, e depois Sting e Simply Red, e deixou os palcos para compor trilhas para cinema, assinando produções como Meu Malvado Favorito e Simplesmente Complicado.
A produção de Heitor leva o disco por uma montanha-russa de timbres, ritmos e arranjos, sempre com acabamento sofisticado.
Abre com um samba-jazz de vários sotaques (‘Mira’), flerta com o tango (‘Goodbye’, ‘If I tell you I love you’, uma das melhores faixas do CD) e temperos indianos (‘Impossible love’) e passeia por climas mais soturnos (‘So long’ e ‘So we meet again my heartache’), consagrados no álbum anterior.
Gardot continua cantando divinamente bem até quando se arrisca no português (vide ‘Se você me ama’, dueto com o próprio Heitor). Os arranjos (também a cargo do produtor) privilegiam as cordas e uma percussão genuinamente brasileira (conduzida pelo fantástico Paulinho DaCosta).
Mas o disco fica solto em meio a tantas referências, sobretudo com as carlinhosbrownices de Pereira, como em ‘Iemanja’, algo como Você Já Foi à Bahia? encontra O Rei Leão no repertório de Carmem Miranda.
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