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ECONOMIA

Sem incentivos peixe perde atratividade

Apesar da campanha da 10ª Semana do Peixe, realizada durantre setembro, falta de incentivos dificulta barateamento do pescado.

Publicado em 03/09/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:05

Estima-se que no país o consumo médio é de nove quilos de peixe por ano por habitante, quando a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de pelo menos 12 quilos. Uma das razões para este cenário é ainda o salgado preço desses produtos, consequência da baixa produção local, que a cada ano fica mais fraca, aliada à falta de incentivos aos pescadores.

Há 3 anos no Mercado de Peixe de Tambaú, em João Pessoa, a comerciante Gilvaneide Silva Barbosa percebe que o volume de peixes está diminuindo, obrigando os pescadores a buscar produtos em praias vizinhas. “Muito dos peixes que vendemos são do nosso litoral, mas o pescador está pescando também nas praias do Pará e Rio Grande do Norte, porque a produção aqui na Paraíba vem diminuindo. Isso eleva os custos da pesca e também de nossa venda”.

Apesar da campanha da 10ª Semana do Peixe, realizada entre os dias 1º e 15 deste mês pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), ainda é difícil baratear o preço do pescado devido à falta de incentivo financeiro, explicou a comerciante. “Ano passado tivemos ajuda para diminuir o preço do peixe. Mas este ano não soubemos nenhuma informação da campanha. Se os pescadores não tiverem nenhum tipo de incentivo do governo federal, então não conseguimos vender o peixe mais barato”.

O preço do produto varia de acordo com a espécie desejada e como a peça será adquirida: inteira, sem cabeça ou em postas. O mais barato é aquele vendido com cabeça, custando em média R$ 22,00 o quilo. Em postas, o valor pode ficar 18% mais caro, preço médio de R$ 26,00. No comparativo com a carne bovina, por exemplo, o peixe sai em desvantagem. O quilo da alcatra é encontrado a R$ 17,00 já fatiada em bifes, enquanto a carne patinho tem preço médio de R$ 15,00, também fatiada.

Para o presidente da Associação dos Comerciantes de Pescado e Derivados da Paraíba, Nivaldo Cunha, além da diminuição na produção, outro obstáculo encontrado são os altos custos enfrentados pelos pescadores, que nem sempre têm garantida de retorno financeiro. “O custeio da pesca é muito alto. São 10 dias em alto mar, então é preciso combustível, equipamento, gelo, alimentação dos pescadores, entre outras coisas. O pescador pode voltar com uma tonelada de peixes ou pode voltar com menos de 100 quilos”, disse. Estima-se que cada embarcação custe em média R$ 700 mil por pescaria.

A concorrência no mercado também influencia no preço final repassado ao cliente, explicou Nivaldo. “No Mercado de Peixe de Tambaú nós concorremos diretamente com os pescados da Feira de Jaguaribe. Lá são os próprios pescadores que vendem seus peixes. Aqui os comerciantes compram dos pescadores, por isso o peixe sai mais caro”, disse.

NOS SUPERMERCADOS

Outro concorrente dos mercados de peixes são os supermercados, que costumam vender os peixes em condições mais atrativas. De acordo com o presidente da Associação dos Supermercados do Estado da Paraíba, Cícero Bernardo, o setor também vem enfrentando retração no volume de vendas do pescado. “Está mais difícil trabalhar com peixe porque anda ventando muito e os pescadores estão preferindo não entrar no mar. Percebemos que as distribuidoras estão com menor volume de peixe, então o preço costuma ficar mais alto”.

Segundo o representante dos supermercadistas, a falta de incentivo público impede os comerciantes de diminuir o valor dos pescados. “A Semana do Peixe, organizada pelo governo federal, é voltada para a publicidade, divulgar a importância do consumo do peixe. Não temos incentivos para baratear o preço. Se houvesse algum abatimento financeiro durante a semana, com certeza o produto seria vendido mais barato para o cliente”, apontou Cícero.

Para aproveitar a divulgação da Semana do Peixe, promovida pelo Ministério da Pesca, o Grupo Pão de Açúcar anunciou que cerca de 100 itens da seção da peixaria terão produtos com de até 25% de desconto nesse período.

BAIXA PRODUÇÃO DEIXA PESCADO CARO

O superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura na Paraíba, Samuel Coelho de Lemos, disse que a baixa produção é o principal fator para o valor alto dos peixes, em comparação com a carne bovina e de frango. “Falta produção. Há uma demanda reprimida de pescados e a lei de mercado determina que havendo pouca oferta e grande procura não tem como baratear”, disse

A perspectiva do ministério, segundo Samuel Coelho, é equiparar o preço do pescado ao frango, entretanto a produção precisa ser aquecida para que se chegue a este patamar. “Na Paraíba produzimos em tanques, redes e escavados, ainda em pequena escala, mas já vislumbramos uma produção satisfatória para atender todo o mercado e ainda exportar para outros Estados e países”, previu.

Segundo Samuel Coelho, o governo federal tem políticas de incentivo à produção do pescado em todo o país. “Por meio do Plano Safra da Pesca e Aquicultura, foram liberados recursos na ordem de R$ 4,1 bilhões para serem investidos na pesca e aquicultura, para que possa aumentar a produção de pescados, tanto na extração (pesca) como no cultivo”, disse.

De acordo com o superintendente, os pescadores interessados podem recorrer ao incentivo através dos bancos parceiros. “Os valores são liberados através do BNB, Caixa Econômica e Banco do Brasil, disponíveis para pescadores artesanais, industriais e aquicultores. Há uma linha especial com juros negativos, onde o pescador pode solicitar R$ 2.500,00 e pagar apenas R$ 1.875,00, no prazo máximo de 24 meses”, explicou.

O incentivo, segundo o superintendente, pode potencializar a comercialização dos peixes, alterando o preço final ao consumidor. “São recursos destinados a aquisição de equipamentos, como canoas, redes e freezers, dando melhor condição de trabalho ao pescador e aquicultor, aumentando sua produção e renda. Esses incentivos farão com que a produção aumente e consequentemente caia o preço do pescado”, disse Samuel Coelho.

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Jornal da Paraíba

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