CULTURA
As 'loucuras' da colagem
Artista carioca, radicado em João Pessoa Zélio Visconti, realiza a exposição 'Peripécias... no Mundo da Colagem' na capital.
Publicado em 01/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 15:19
"É um desenho? É uma pintura? Não! É uma colagem". Esta é, segundo Zéllo Visconti, a reação costumeira do público diante de sua obra. O artista carioca, radicado em João Pessoa há 3 anos, faz hoje na capital sua terceira exposição individual, Peripécias... no Mundo da Colagem. A mostra fica em cartaz até o dia 30 de abril pelo projeto Arte na Empresa do Hall de Exposições Energisa (localizada no quilômetro 25 da BR-230, no Cristo). A entrada é gratuita.
Um dos principais articuladores para a criação do primeiro espaço da Caixa Cultural, em Brasília (DF), Visconti é aposentado pela Caixa Econômica Federal e escolheu a Paraíba como morada depois de viver durante 37 anos no Planalto Central. "Eu vim para João Pessoa em 2011 para visitar uma pessoa que tinha comprado uma obra minha e me encantei com a cidade", revela. "Aqui encontrei o meu oásis.
Uma cidade que me ofereceu qualidade de vida, pessoas simpáticas e bem-humoradas."
O artista, que trabalhou primeiro como mecanógrafo e depois como desenhista, conta que a ideia de criar o então chamado Conjunto Caixa Cultural, onde atuou como gerente de núcleo e estreitou a sua relação com a arte, surgiu com o intuito de abrigar o acervo adquirido pela instituição com obras que ilustravam os bilhetes de loteria emitidos na década de 1980.
"Até então o meu ofício não tinha nada a ver com a arte. Era uma coisa puramente burocrática", recorda-se.
Hoje, após a aposentadoria, Visconti afirma que já tem "uma base para poder dar uma de metido e dizer que vive de arte". Na Paraíba, sua primeira exposição individual foi em Campina Grande, em 2011. A segunda foi já em João Pessoa, no ano seguinte. Peripécias..., que cumpre um roteiro itinerante pelos espaços da Energisa a partir deste mês, tem uma ligeira diferença das demais: ela representa uma fase mais "solta" da sua colagem.
"Toda a minha colagem é feita sobre tela", explica Visconti, que se considera um "João cata-tudo" que manipula todo o tipo de material que encontra em seus passeios pelas ruas. "No papel, eu tinha um limite: não podia usar muita coisa molhada. Na tela, eu me solto mais. Nas Peripécias... eu assumo toda a loucura da colagem."
As onze obras que passaram pela curadoria do Arte na Empresa, segundo ele, dão a ilusão de imersão ao espectador.
"É aquela parte ilusória que o espectador tem, de fantasiar e de entrar na tela", define Visconti. Para ele, a oportunidade de expor na Energisa promoveu o seu encontro com o primeiro ambiente cultural que conheceu assim que pôs os pés na Paraíba.
"Logo que cheguei do aeroporto, ainda sem conhecer a cidade, eu perguntei para o taxista o que era aquele espaço na BR", lembra. "Fazer uma exposição itinerante pela Energisa vai me render bons frutos, já que eu não faço arte só para ficar na parede. A minha missão como artista é outra."
Morador do bairro do Manaíra, Visconti luta, hoje, para movimentar os espaços públicos do bairro, como a Praça Chateaubriand Arnaud. "É o tipo de espaço que não tem nada de ruim, mas também não tem nada de bom. Não quero ir embora daqui sem ter enfrentado a falta de compromisso de algumas pessoas nem deixado a minha contribuição", dispara, elogiando a cena artística da capital, feita por colegas como Chico Ferreira, Elpídio Dantas, Tito Lobo, Jonas Lourenço e Margarete Aurélio. "Eles me passaram uma luz que clareou o meu trabalho e deu um toque mais clean, mais mágico no que eu ando fazendo."
Comentários