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CULTURA

O jazz do disco de estreia de João Senise

Filho do tarimbado saxofonista Mauro Senise, estreante lança disco com regravações de standars americanos.

Publicado em 03/10/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:47

O estreante João Senise tem a sorte de ter dois “pais”. E que pais! Filho do tarimbado saxofonista Mauro Senise, foi criado com o padrasto Gilson Peranzzetta, outra fera dos arranjos (responsável por alguns dos melhores discos de Ivan Lins, para você ter uma ideia), sem perder o contato com o pai, afinal Mauro e Gilson trabalham juntos até hoje (veja texto abaixo).

Mas o jovem João, que cresceu sonhando em ser presidente da República, se formou em Jornalismo e chegou a trabalhar com política, não enveredou pela música instrumental, como poderia sugerir as filiações paternais. Ele acaba de lançar um disco de standars americanos (em sua maioria), regravando canções imortalizadas nas vozes de Frank Sinatra, Tony Bennett, Chet Baker, entre outros.

João Senise, 24 anos, estudou piano dos 4 aos 17 anos, e chegou a integrar o coral da escola por 2 anos. Em um passado recente, jogando Rock Band no videogame, tomou gostou pelo canto e empresta seu vozeirão aveludado às 14 faixas do CD Just in Time (Biscoito Fino).

À reportagem, João diz que a influência do jazz veio do pai, mas coube ao padrasto a direção musical do projeto, assim como os arranjos. “O Gilson costumava reclamar que eu me metia muito nos arranjos. Ele falava: pô, quer ensinar o padre a rezar missa?!”, comenta, entre risos.

Canções como ‘Cheek to cheek’, ‘All of me’, ‘Come fly with me’ conservam a melodia tradicional com muito requinte. Senise só sai da esteira dos grandes clássicos americanos para revisitar Eric Clapton e Peranzzetta.

Do guitarrista inglês, escolheu a balada ‘Tears in heaven’. Do padrastro, gravou o samba-canção ‘Sorriso de luz’ (parceria com Nelson Wellington) e ‘Love dance’, canção de Gilson com Ivan Lins e letra, em inglês, de Paul Williams, cantada em dueto com Lins, que surpreende cantando em tom mais grave.

Ivan Lins é uma das participações especiais do disco (e João não esconde a vontade de gravar um tributo a ele). O contrabaixista Zeca Assumpção, o baterista João Cortez, o saxofonista Ricardo Pontes e, claro, o pai Mauro estão entre os convidados do garoto, que conhece essa turma desde pequeno, transformando as gravações em um grande encontro de “tios”.

“O Zeca me levava para a escola", recorda. "Todos eles, eu conheço desde criança, o João, o Ricardo, o Idriss (Boudrioua)”, enumera. “Por um lado, me senti em casa, mas por outro, com uma certa responsabilidade, porquê eles têm mais anos de carreira do que eu tenho de vida”.

À vontade em repertório que escolheu por afinidade, João Senise estreia bem, e muito bem acompanhado. “Me deu um certo frio da barriga, porquê ‘o’ Sinatra gravou 90% desse repertório, mas com todos esses músicos à disposição e os arranjos do Gilson, que mexe com a harmonia inteira, uma coisa tão criativa que eu acho que deu para trazer uma roupagem nova ao que já é muito batido”, comenta.

DUPLA ENCONTRA MONPOU

Mauro Senine e Gilson Peranzzetta estão de disco novo na praça. Jasmim (Biscoito Fino) é um projeto atípico da dupla, gravado em uma igreja com a participação do percussionista Amoy Ribas (que havia trabalhado com a dupla em Noel Rosa: 100 Anos).

Intercalando obras do compositor catalão Federico de Mompou (1893-1987) com composições de Peranzzetta, o repertório de 12 faixas foi gravado em cinco dias em dezembro de 2011 dentro da Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, reconhecida como a igreja com a melhor acústica do Rio de Janeiro.

Foi nesse ambiente sacro, que deixa escapar um discreto estalado da madeira do altar ou um ranger dos bancos, que o trio desenvolveu as canções delicadas de Mompou, compositor apontado como o único discípulo e sucessor de Debussy, cuja timidez o impediu de se apresentar para grandes platéias, mas em 94 anos de vida, deixou um conjunto de grandes peças, com a composição para piano ‘Impresiones ítimas’ (de quatro partes), ‘Pajero triste’ e 'Secreto VIII', as três presentes no CD.

Com Mauro no sax e na flauta, Peranzzeta ao piano e Amoy tocando uma marimba de vidro, o trio executa com rara sensibilidade as obras de Mompou e as composições de Peranzzetta (três delas, inéditas: ‘Mansamente’, ‘Para um anjo’ e ‘Orvalho’) balanceando entre o erudito tradicional e o improviso do jazz.

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Jornal da Paraíba

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