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CULTURA

Faroeste gaúcho

Escritora gaúcha Carol Bensimon fala sobre seu novo romance,  a road novel, 'Todos Nós Adorávamos Caubóis'.

Publicado em 27/11/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 12:25

Em texto recente da coluna que mantém no jornal Zero Hora, Carol Bensimon cita uma frase da norte-americana Vanessa Veselka: “O homem na estrada é solitário. A mulher na estrada é sozinha”. Esta poderia ser a epígrafe de Todos Nós Adorávamos Caubóis (Cia. das Letras, 192 páginas, R$ 37,00), novo romance da escritora gaúcha, uma road novel protagonizada por duas mulheres que caem na estrada e, para lembrar um trecho de Thelma & Louise (1991), referência que paira nas páginas, partem para o meio do nada e chegam muito perto de lugar nenhum.

Se o trauma da ausência vinha se firmando como o tema central na obra da jovem narradora, o livro que chega às prateleiras é o primeiro ponto de inflexão em uma carreira que começou com Pó de Parede (2008) e Sinuca Embaixo D'Água (2009). A exemplo das heroínas Cora e Julia, Carol Bensimon se deixou abandonar com leveza em uma jornada lúbrica e imprevisível, embalada pelos acordes de Led Zeppelin e sem se orientar por nenhum GPS.

“Nunca há uma leveza total, porque, ao menos para mim, escrever um romance não é algo exatamente tranquilo”, contesta a autora, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA.

“E estou falando do sentimento que vem do processo em si, que é longo, inseguro, estressante, e não da temática da obra em construção. Feita essa ressalva, bem, é claro que, além de me incomodar um bocado, eu também me diverti escrevendo esse romance. Ele é mais luminoso que meus livros anteriores, as personagens me cativaram muito à medida que foram se tornando mais complexas”.

O ‘faroeste gaúcho’ de Bensimon tem início na capital Porto Alegre e se embrenha em um Rio Grande do Sul bastante diferente, por exemplo, daquele que o turista brasileiro conhece nas excursões à serra, fugindo do calor tropical. São cidades estranhas, com nomes esquisitos. Pequenos pontos no mapa que vão sendo circulados por Júlia enquanto Cora pisa fundo no acelerador com suas botas Doc Martens.

Estradas vicinais e caminhos alternativos que, segundo Carol Bensimon, ajudaram a “desviar do trabalho pesado”: “Havia essa porção de lugares interessantes a explorar”, diz ela, traçando um paralelo entre os atalhos da criação e a trajetória das personagens. “Fui tomada por uma espécie de sentimento de potência, de liberdade, muito semelhante ao que essas narrativas envolvendo deslocamentos aleatórios costumam me causar como leitora ou espectadora”.

Ou aquele sentimento de potência e liberdade que dá quando a gente ouve um bom solo de guitarra, ela poderia completar. Todos Nós Adorávamos Caubóis ganhou trilha sonora que pode ser ouvida na página de Carol no Mixcloud. Entre as faixas, canções de Bruce Springsteen, The Radio Dept e, claro, o bom e velho Led Zeppelin.

“Quando não estou conseguindo avançar na escrita, é bem comum eu colocar os fones de ouvido e ficar olhando para uma paisagem qualquer, meio neutra. Isso me ajuda a entrar na história. Não pode ser qualquer música, claro, mas algo que faça sentido ‘colar’ àquela narrativa”, conta a escritora que, na hora ‘H’, larga os fones: “No momento da escrita propriamente dita, de ficar mexendo em palavras, construindo frases com um certo ritmo etc, ouvir música me atrapalha. Sobretudo se tiver letra”.

O FEMININO VOLÁTIL

Além da música, a relação das personagens com o cenário é tensionada pela amizade ambígua entre Cora e Julia, que se reencontram após uma temporada fora do país e têm pela frente, em quilômetros de asfalto e noites em lugares inóspitos, várias questões mal-resolvidas. “Eu escrevi esse romance motivada por uma série de coisas, e uma delas era a vontade de retratar essa sexualidade feminina volátil, que é uma coisa muito contemporânea”, admite Carol Bensimon, que não demonstra hesitação ao tocar no assunto.

“Dez anos atrás, eu acho que esse seria um livro sobre ‘como é difícil e doloroso gostar de alguém do mesmo sexo’, mas esse definitivamente não é o caso do Todos Nós Adorávamos Caubóis, de 2013, ou ao menos eu não o enxergo assim”, opina. “Ao mesmo tempo, é óbvio que a história de Cora e Julia só é tão confusa e carregada de tensão sexual porque lidar com esse desejo tem lá sua dificuldade para ambas as personagens”.

Falando ainda em literatura e gênero, Carol Bensimon foi um dos nomes citados pelo seu companheiro de Granta (2012), Vinícius Jatobá, em um artigo publicado na Inglaterra que defende a tese de que “as mulheres brasileiras estão escrevendo melhor do que seus pares masculinos”. Carol aplaude a iniciativa: “Achei muito corajoso o que o Jatobá escreveu nesse artigo para a revista britânica Litro, pois, até onde eu sei, ninguém ousou afirmar isso antes. Como mulher e escritora, óbvio que simpatizo com a ideia. Mas, falando sério, não posso emitir uma opinião razoavelmente embasada porque ainda não li a maioria das mulheres que o Jatobá cita, como Elvira Vigna, Andrea Del Fuego, Beatriz Bracher. Espero fazer isso em breve”.

As leituras de suas contemporâneas entram, talvez, no rol dos projetos que Carol Bensimon, também tradutora, pretende conduzir após seu duelo eastwoodiano com os Caubóis...“Talvez eu toque alguns outros projetos antes de entrar no próximo romance”, diz ela que, como boa aventureira, afirma ter uma “muitíssimo vaga ideia” do próximo destino que lhe aguarda na prosa.

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Jornal da Paraíba

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