ECONOMIA
Selic sobe para 10% e desagrada empresários
Taxa básica de juros aumentou em 0,5 ponto percentual, indo de 9,5% para 10% ao ano.
Publicado em 28/11/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 12:25
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, aumentou a taxa básica de juros (a Selic) em 0,5 ponto percentual, indo de 9,5% para 10% ao ano. É a sexta reunião seguida do Copom em que os juros sobem. A decisão foi unânime. Esse é o patamar mais alto desde janeiro de 2012, quando a Selic estava em 10,5%. Em março de 2012, a taxa foi reduzida para 9,75%, e as quedas continuaram até atingir o mínimo de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e março de 2013.
A Selic é usada pelo BC para tentar controlar o consumo e a inflação, ou estimular a economia. Analistas já esperavam uma alta da taxa de juros para combater a alta de preços, que tem preocupado o governo. A inflação oficial acelerou para 0,57% em outubro.
Ao fim da última reunião do ano, o Copom divulgou que “dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril, decidiu por unanimidade elevar a taxa Selic para 10% ao ano, sem viés”.
A resistência da inflação, que segue bem acima do centro da meta de 4,5% desde 2010, no entanto, frustrou aquele que era um dos principais objetivos da presidente Dilma Rousseff. A presidente chegou a dizer que os juros haviam alcançado patamar "mais civilizado" e que, graças ao "compromisso com a solidez das contas públicas", havia criado um "ambiente para que a taxa de juros caísse".
A mistura de juros baixos com a taxa em 7,25% ao ano em 2012, câmbio desvalorizado e aumento do gasto público, no entanto, não impulsionou o crescimento econômico e os investimentos, mas pressionou a inflação.
No mercado, as previsões são de um IPCA mais alto em 2014. As decisões do governo de afrouxar ainda mais as regras do superávit primário e de mexer na Lei de Responsabilidade Fiscal (proposta abandonada temporariamente) também contribuem para a expectativa de mais pressão inflacionária. Outro temor dos analistas são os efeitos da mudança na política monetária nos Estados Unidos e da piora nas contas externas brasileiras.
A taxa básica de juros do Brasil agora é a mais alta do mundo. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cada subida de 0,5 ponto percentual na Selic equivale a acréscimo aproximado de R$ 3 bilhões/ano na dívida. A taxa Selic cresceu 2,75 pontos percentuais no ano – passou de 7,25%, em abril, para os atuais 10% – e as expectativas dos analistas financeiros apontam para mais aumentos no início de 2014.
EMPRESÁRIOS CRITICAM
Para o economista Rafael Bernardino, a decisão do BC significa mais uma dose de desânimo para o mercado de uma forma geral. “Numa economia já estagnada isso significa mais uma dose de desânimo porque induz aumento de juros de uma forma geral. Os investimentos estão aquém do necessário e a alta dos juros compromete o futuro da economia”, afirmou.
Para o presidente do Centro das Indústrias do Estado da Paraíba (Ciep), João da Matta, o aumento repercute negativamente na iniciativa privada. “Isso não é bom porque inflaciona os juros e o custo das empresas, comprometendo a lucratividade”. Ele acrescentou que a atitude do BC atinge principalmente a indústria porque com a alta das taxas bancárias, elas têm seus compromissos mensais onerados. “E esse aumento deve ser repassado de alguma forma para o produto, recaindo no consumidor final”.
O presidente da Associação Comercial de Campina Grande, Álvaro Morais de Barros, afirmou que o comércio também deverá sofrer retração nas vendas a partir de janeiro.
“Como esta alta não é repassada de forma imediata, acredito que não chegue no comércio até no final de ano, mas apenas em janeiro. Não tenho dúvida que a taxa de juro mais elevada vai repercutir nas compras com cartão de crédito, fazendo com que os parcelamentos longos fiquem mais caros, causando retração nas vendas. Como o crédito vai ficar mais difícil, o aumento diminui a circulação de dinheiro no comércio”.
FALTA CONVICÇÃO AO GOVERNO, DIZ SINDICATO
A Força Sindical criticou ontem à noite a decisão do Copom de elevar a taxa básica para 10% ao ano. Em nota distribuída à imprensa, o presidente da entidade, Miguel Torres, disse que a medida demonstra a "falta de convicção" do governo com relação ao crescimento econômico e, sobretudo, com relação ao desenvolvimento.
"O Copom insiste no aperto monetário, colocando a taxa básica de juros nas nuvens, e o Brasil permanece entre os países com as maiores taxas de juros do mundo. Esta opção trará consequências prejudiciais ao consumo, à produção e ao emprego", destacou Torres. "Para a Força Sindical, a política monetária precisa ser subordinada ao projeto de desenvolvimento do país, e não o contrário", avaliou.
De acordo com Torres, combater a inflação é importante, mas, segundo ele, parece que o crescimento econômico foi deixado para depois e não se sabe para quando. "Enquanto isso, a economia não sai do lugar. O governo deve ousar e buscar alternativas de médio e longo prazos, fugindo das armadilhas do curto prazo", afirmou, acrescentando que, na economia real, o trabalhador amarga "taxas de juros extorsivas".
Para o presidente da Força Sindical, o governo reedita medidas paliativas que, no longo prazo, acabam por demonstrar a ausência de um projeto consistente e robusto de crescimento sustentado da economia. "De que adianta os sindicatos batalharem por ganhos reais com taxas de juros exorbitantes? O aumento da Selic facilita as importações de um lado e reduz as exportações de outro. Em outras palavras, gera empregos no exterior e dificulta a venda de produtos brasileiros para outros países", criticou.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o retorno da taxa Selic aos dois dígitos é uma péssima notícia para o Brasil. Dificultará ainda mais a retomada do crescimento doméstico, principalmente se levada em consideração a perspectiva de redução da liquidez internacional. (Com agências Estado e Brasil, e colaboração de Alexsandra Tavares).
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