ECONOMIA
Alta da inflação leva famílias a parcelarem feiras
Nos supermercados da capital, o uso cartão de crédito chega a representar o dobro do número de pagamentos no débito ou à vista em dinheiro.
Publicado em 31/07/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 14:40
A alta da inflação intensificou o parcelamento em compras no cartão de crédito das feiras em algumas redes de supermercados de João Pessoa. Com o crescimento do parcelamento, que sinaliza perda do poder aquisitivo das famílias, algumas redes já chegaram até dobrar o limite mínimo de R$ 50,00 para R$ 100,00 para frear a opção de dividir compras. Nos supermercados da capital, o uso cartão de crédito chega a representar o dobro do número de pagamentos no débito ou à vista em dinheiro.
Para o presidente da Associação de Supermercados da Paraíba (ASPB), Cícero Bernardo, o cenário reflete uma realidade nacional, em tempos em alta inflacionária sobretudo nos alimentos. “Em consequência disso, endividamento cresceu e o setor supermercadista sentiu suas vendas desaqueceram nos últimos dois meses”, acrescentou.
Como uma 'bola de neve', a inflação elevou os custos de vida da população que passou a gastar mais. Com orçamento doméstico mais comprometido por mês, caiu no 'crédito' das operadoras de cartão e, como a conta chega no mês seguinte junto com a necessidade de comprar de novo, a 'bola' do endividamento só cresce.
O gerente de um supermercado na capital, Arlindo Matias, contou que a venda de crédito é mesmo muito frequente. “O brasileiro, no geral, não tem muita responsabilidade com o crédito, ele compra por impulso e não pensa muito no amanhã. Um dia desses, uma cliente apareceu na empresa com 13 cartões de crédito e não conseguiu fazer a compra, porque não tinha limite em nenhum deles. Eu mesmo prefiro não ter um”, mencionou.
É por isso que, na opinião do empresário do Super Box Brasil Cleisson Luiz, a maioria das pessoas que resolvem comprar no 'fiado' não conseguem mais sair desta modalidade. “O consumidor compromete o salário do mês seguinte com as compras do mês atual. Quando vai comprar novamente, não dispõe do dinheiro, daí utiliza o crédito mais uma vez”, disse.
O perigo deste mau hábito, lembrou o diretor do SPC Brasil em João Pessoa, Lindembergh Vieira da Cunha, é que o excesso de parcelamento das contas rotineiras está entre as maiores causas da inadimplência na capital. “Mesmo sabendo que o consumo da feira é imediato, o consumidor ignora os juros dos cartões [que chegam a 22%] e continuam se endividando. Quando se dão conta, não conseguem mais pagar as faturas”, comentou.
O economista Lucas Milanez explicou que a melhor alternativa é organizar as contas e pagar, dentro do mês, os produtos que o orçamento familiar puder e precisar consumir. “Você adquire um produto no cartão de crédito e acha que não gasta dinheiro com ele. Isso cria a falsa ilusão de que não precisará arcar com os custos, contudo a fatura chega no mês seguinte e para ser paga de uma vez só. O melhor é comprar à vista e pedir desconto, se for possível”.
Além disso, Milanez lembrou que o 'crédito' deve ser usado para fins específicos.
“O crédito precisa ser utilizado para uma compra planejada e somente quando não houver condições de fazê-la à vista. Fora isso, a família precisa ter o dinheiro em mãos quando a fatura chegar, para não atrasar o pagamento e depois ter que arcar com os altos juros dos cartões”, concluiu.
Pesquisa do Proteste divulgada na edição de ontem do JORNAL DA PARAÍBA mostra que juros do cartão de crédito oscilam de 93% a 654% ao ano em caso de atraso.
POSTOS DE GASOLINA
Se nos supermercados é assim, nos postos de gasolina também. De acordo com o gerente de uma rede de postos da capital Geovan Queiroga, o consumidor não só deixa para pagar o combustível que abastece no mês seguinte, como opta por pagar mais caro pelo litro para ter a opção de parcelar a compra.
“Você sempre vai precisar abastecer o carro, então só está empurrando o endividamento pra frente”, destacou.
SETOR LIDERA COMPRAS POR IMPULSO
Conhecidos como templos do consumo, que despertam desejos em mulheres e homens de qualquer idade ou classe social, os shopping centers perderam espaço para os supermercados como o lugar onde as pessoas mais fazem compras por impulso. Segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) para avaliar como o brasileiro lida com as ferramentas de crédito, 34% dos entrevistados admitem gastar mais do que o planejado quando estão em supermercados contra 25% em shopping centers. As lojas online, como e-commerces e sites de compras coletivas, apareceram em terceiro lugar, com 19%.
Segundo o estudo, as compras sem planejamento nos supermercados são uma prática comum na maior parte das classes sociais, mas demonstram ser mais recorrentes entre as famílias da classe C. Em cada dez entrevistados da classe C, pelos menos quatro responderam que são mais impulsivos nos supermercados contra 29% dos consumidores das classes A e B. Os shopping centers são responsáveis pelas compras por impulso para 27% dos entrevistados das classes A e B enquanto que na classe C o percentual é de 22%.
Na avaliação do gerente financeiro do SPC Brasil Flávio Borges, a transformação dos supermercados em estabelecimentos com maior variedade de produtos é uma das razões que explicam o descontrole do orçamento das famílias quando visitam esses lugares.
“Hoje os supermercados oferecem além de itens básicos para alimentação da família, higiene e limpeza da casa. As grandes redes investem cada vez mais para despertar o desejo de consumo", avaliou.
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