VIDA URBANA
Parques ecológicos degradados
Área de preservação para a manutenção da fauna e flora características da Zona da Mata, cede lugar a ocupações irregulares, acúmulo de lixo e retirada de recursos naturais.
Publicado em 09/02/2014 às 8:00 | Atualizado em 21/06/2023 às 13:13
A placa com o alerta de que é proibido desmatar, caçar e construir, segundo manda a legislação, parece ter sido ignorada nos Parques Estaduais do Aratu e Jacarapé, em João Pessoa, e na Mata do Xém-Xém, em Bayeux, na Região Metropolitana. O que deveria ser área de preservação para a manutenção da fauna e flora características da Zona da Mata, cede lugar a ocupações irregulares, acúmulo de lixo e retirada de recursos naturais. A Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), órgão responsável pela gestão dos parques, admite a precariedade na fiscalização, o que deixa os locais vulneráveis às intervenções humanas.
A situação mais crítica é a do parque do Aratu, no bairro de Jacarapé, na capital. Com 341 hectares de extensão, conforme informações da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), o parque abriga espécies de árvores características da Mata Atlântica e ainda de mangue. Contudo, a área está ameaçada pela ocupação irregular de dezenas de famílias, acúmulo de lixo e “depósito” de entulho de construção civil.
No interior do parque, trechos onde havia vegetação nativa transformaram-se em pequenos lotes para a construção de casebres e outros viraram até lavouras. O agricultor Alfredo Belarmino, de 77 anos, conta que chegou no Parque do Aratu há quase 20 anos. Ele cercou dois terrenos e vive do plantio de raízes. Assim como o idoso, pelo menos outras 20 famílias repetiram o mesmo ato e ocuparam vários terrenos da área verde.
“Fui um dos primeiros a chegar aqui. Depois foram chegando outras pessoas e até hoje muita gente que não tem onde morar, vem para cá. Eles vão chegando, montando as barracas e de repente constroem as casinhas”, disse o agricultor. A “urbanização” no Aratu é visível e várias “estradas de acesso” foram abertas no meio da mata. Em outros espaços, o lixo doméstico, plásticos, metais e restos de cimento se espalham entre as árvores.
A história da dona de casa Inácia Rodrigues confirma a situação relatada pelo agricultor. Desempregada, com sete filhos e sem ter onde morar, há seis anos ela construiu um casebre dentro da área do parque para abrigar a família. A poucos metros da casa dela, outras duas residências estão começando a ser construídas.
Com as ocupações irregulares, a falta de coleta de lixo e outros problemas de infraestrutura afetam os moradores. “Parece que a gente não existe. Não temos nada. Como não tem coleta, o jeito é queimar o lixo ou enterrar”, disse a dona de casa.
E o descarte inadequado de resíduos se repete na área de proteção vizinha, o Parque Estadual de Jacarapé, e na Mata do Xém-Xém. Moradores e comerciantes das proximidades denunciam que pessoas vindas de outros locais é que são os responsáveis por jogar o lixo às margens da área verde.
“Essas pessoas vem à noite, de carro, jogam o lixo aqui e vão embora. A gente já tem consciência que não podemos jogar o lixo na mata e colocamos as sacolas perto da pista para o carro da prefeitura recolher”, disse Shirlene Franklin, que mora em um sítio próximo à Mata do Xém-Xém. No Jacarapé, o lixo que agride a mata vai desde lixo doméstico até objetos eletrônicos, como aparelhos de televisão e computadores.
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