icon search
icon search
icon search
icon search
home icon Home > cultura
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

CULTURA

A difícil arte do sucesso

Escrito por Stéphane Koechlin, 'Jazz Ladies' traz perfis de grandes e pequenas cantoras, e seus percalços para chegar ao topo.

Publicado em 10/10/2012 às 6:00


Aproveitando os bons ventos que sopram no mercado editorial brasileiro para biografias relacionadas à música, chega às lojas hoje um livro fundamental para os amantes do jazz. Escrito pelo crítico do prestigiado jornal Le Figaro, Stéphane Koechlin, Jazz Ladies (Companhia Editora Nacional, 160 págs., R$ 44,90) costura perfis de grandes e pequenas cantoras que vêm fazendo história na música popular desde o começo do século passado.

O recorte utilizado por Koechlin é o da luta que muitas dessas cantoras - boa parte negra, pobre e marginalizada - teve que travar para chegar ao estrelato. Esses perfis nem sempre são lisonjeiros. O autor também mostra que muitas não conseguiram se manter sob os holofotes, revelando teias de inveja, farpas e brigas entre as estrelas.

A obra mostra os percalços de muitas estrelas para chegar ao topo do sucesso. É o caso de Ella Fitzgerald (1917-1996) e sua dificuldade para emplacar na orquestra de Chick Webb – naquela primeira metade do século 20, ser 'canarinho' de uma orquestra importante era o ápice de uma carreira, como explica o livro.

“A recém-chegada, de pele clara, não chocaria o público puritano”, escreveu Stéphane Koechlin. “Ella pensava em Billie Holiday, em sua beleza negra, e sonhava imitá-la, a ponto de colocar uma flor em seus cabelos (...) No início desprezada pela grande Billie, Ella procurou apoio, pois sua entrada na orquestra de Chick Webb provocou muito rebuliço e despertou os velhos reflexos sexistas. ‘Ela era gorda e desajeitava, não impressionava ninguém’, afirmou (...) o saxofonista Garvin Bushell”.

Esse é o tom do livro, que passeia por becos e ruas escuras das biografias de Nina Simone (1933-2003), Sarah Vaughan (1924-1990), Dinah Washington (1924-1963), Bessie Smith (1894-1937),Ma Rainey (1886-1939), Lil Hardin (1898-1971), além de, claro Ella e Bille (1915-1959), entre tantas outras – desse rol, ficou de fora apenas Amy Winehouse, que despontara no ano em que este livro foi lançado originalmente, em 2006.

Jazz Ladies começa com um perfil de duas cantoras jovens, a quem o autor atribui “o trunfo do terceiro milênio”: Madeleine Peyroux e Norah Jones, pinçando de suas biografias a carreira até então e aspectos nebulosos de suas vidas pessoais (no caso de Norah, a relação dela com o pai, o famoso Ravi Shankar). Também aborda a carreira de Diana Krall e suas rusgas com a veterana Dee Dee Bridgewater.

Rusgas, aliás, é o que não falta ao livro, que se faz valer mesmo a partir do segundo capítulo, o que mostra o nascimento das primeiras ‘jazzwoman’, passando pelo surgimento das primeiras cantoras de blues na América do Norte.

O texto de Koechlin confronta biografias, memórias e entrevistas. Uma das partes mais quentes do livro é aquela dedicada a Nina Simone. “Um belo dia ela enlouqueceu. Nenhum marido fiel a tranquilizava: então o espírito de Nina Simone se foi, de repente. Ela esbarrou numa parede depois de acreditar que poderia modificar uma sociedade cerceada, tão puritana e branca. Ela teve que se render ao óbvio: os negros nunca ocupariam o lugar que mereceriam naquele país”.

Koechlin descreve Simone como uma pessoa instável, que fez de suas memórias “um tecido de lendas e de falsas verdades por causa da imensa infelicidade de uma musicista frustrada e furiosa” e confronta vários de seus depoimentos, como aquele em que ela narra a chegada dos The Rolling Stones à sede da gravadora Chess Records nos Estados Unidos.

Segundo o livro, Nina teria dito que ao chegarem lá, se depararam com o lendário Muddy Waters (1913-1983) pintando o teto da gravadora em troca de alguns trocados. “Nina denunciou a cruel ironia dos saqueadores brancos que vinham explorando o filão negro destruído, jogado no lixo por culpa de uma nação cega e racista. Em algumas linhas, inventou um mito”.

Bill Wyman, ex-baixista dos Stones, mais tarde desfaria o mito, declarando que ao chegarem a Chess Records foram recebidos, sim, por Waters (um das maiores referências do grupo), mas este, gentilmente, se ofereceu para ajudar o grupo com as malas – episódio que acabou sendo retratado no filme Cadillac Records, de 2008.

Ainda segundo o livro, Nina abominava as comparações que os fãs faziam entre ela e sua antecessora, Billie Holiday. “‘Nós fomos comparadas porque éramos negras. Isso é racismo.

Ninguém me comparou a Maria Callas e, no entanto, sou mais diva que qualquer uma’”, citou o livro, em referência a uma entrevista não creditada.

Stéphane Koechlin aproveita as últimas páginas do livro para sugerir uma discografia básica de “clássicos indispensável” e publica o rol de referências bibliográficas, a grande maioria, publicada na França.

Ricamente ilustrado e com jeito de almanacão, Jazz Ladies consegue ser consistente ao mergulhar nas raízes mais obscuras da música norte-americana, às vezes revelando um lado b que as autobiografias e as gravadoras costumam deixar de lado muitas vezes.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp