CULTURA
Adeus ao último malandro
Sambista que sofria de diabetes e insuficiência renal, morreu nesta quarta-feira (25) no Rio de Janeiro. Dicró estava com 66 anos.
Publicado em 27/04/2012 às 6:30
Depois que a união dos cantores espanhóis Plácido Domingo e José Carreras com o colega italiano Luciano Pavarotti ganhou o mundo a bordo do CD The 3 Tenors in Concert (1994), três sambistas de verve hilária e satírica pegaram carona na ideia e se reuniram para gravar um dos grandes discos de samba da década passada.
Lançado no ano seguinte ao disco dos tenores, Os 3 Malandros in Concert combinava o talento de Moreira da Silva (1902-2000), Bezerra da Silva (1927-2005) e Dicró em faixas como ‘Jogando com o capeta’, ‘Os três pagodeiros do Rio’ e ‘Malandro não vacila’, entre outros.
Dicró, único remanescente do trio, nos deixou na última quarta-feira, em decorrência de um infarto. O músico, de 66 anos, era diabético e passou mal após voltar de uma sessão de hemodiálise, em Magé, na Baixada Fluminense (RJ).
Carlos Roberto de Oliveira – o apelido surgiu no tempo e que compunha sambas para um bloco de Nilópolis, quando assinava apenas as iniciais do nome, ‘De C.R.O.’ -, Dicró nasceu em Mesquita, no dia 14 de fevereiro de 1946 e como artista era, frequentemente, comparado ao nosso Genival Lacerda, ao utilizar rimas de duplo sentido em canções de humor escrachado.
Depois de integrar a ala de compositores da Beija-Flor (em Nilópolis) e da Grande Rio (em Caxias), partiu para carreira solo, onde se destacou como sambista de letras bem-humoradas, ocupando lugar de destaque ao lado dos citados Moreira e Bezerra, e também Osmar do Breque e Germano Mathias.
Estreou em disco em 1977, na coletânea A Hora e a Vez do Samba, distribuído pela Continental, selo que lançaria, no total, sete discos do sambista até 1986. Nesse LP, Dicró se destacou com duas músicas próprias: ‘Barra pesada' (parceria com José Paulo) e 'Mão no fogo'.
Foi a senha para sua estreia solo, no ano seguinte, com o LP Barra Pesada. No disco, o músico já se destacava pelas letras bem-humoradas, sempre retratando lugares do Rio de Janeiro, além de personagens do cotidiano suburbano, como a sogra (vide 'Botei minha sogra no seguro' – o tema, aliás, se tornou recorrente no repertório), a ex-mulher e os políticos. Outras canções que fizeram a fama do sambista são ‘A vaca da minha sogra’, ‘Funeral do Ricardão’, ‘Olha a rima’ e ‘Chatuba’.
Dicró gravou pouco – 12 discos no total, incluindo o projeto ‘Os 3 Malandros’. Seu último álbum foi em 2002, quando lançou Dicró no Piscinão, referência ao ‘Piscinão de Ramos’, obra inaugurada em 2001 e da qual foi o principal incentivador, sendo até chamado de ‘O prefeito do Piscinão’.
Em 1991, Dicró estreou como dramaturgo com o texto O Dia em que eu Morri e, em 2010, foi contratado pela Rede Globo para estrelar a série 'Supercorrespondente no Mundo dos Bacanas', no Fantástico.
O corpo de Carlos Roberto de Oliveira foi enterrado ontem, no final da tarde, no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, cidade natal do sambista, Região Metropolitana do Rio.
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