VIDA URBANA
Saiba como vivem as vítimas de Acauã quase 10 anos após tragédia
Há cerca de 10 anos, em torno de 4.500 famílias tiveram suas casas submersas após o rompimento da barragem de Acauã, no Agreste paraibano.
Publicado em 13/03/2011 às 13:33 | Atualizado em 13/04/2023 às 14:52
Alberto Simplício
Do Jornal da Paraíba
Há cerca de 10 anos, em torno de 4.500 famílias tiveram suas casas submersas após o rompimento da barragem de Acauã, no Agreste paraibano. Hoje, as vítimas – que foram relocadas para vilas rurais denominadas de agrovilas - enfrentam, nestes locais, a falta da infraestrutura em escolas, postos de saúde e pouco aproveitamento da agricultura e piscicultura, segundo relatório do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).
As vilas Pedro Velho e Riachão ficam no município de Aroeiras e abrigam 500 e 139 famílias, cada uma delas. Melancia e Cajá fazem parte do município de Itatuba e abrigam 125 e 139 famílias, respectivamente. No município de Natuba, ficam as comunidades Costa, com 120 famílias e Água Paba, com 70. Todas elas sofrem com sérios problemas socioeconômicos e de infraestrutura.
Na comunidade Nova Melancia, município de Itatuba, hoje a maioria dos moradores sobrevive da pesca. A dona de casa Roseni Fonseca, 30 anos, faz parte de uma das 125 famílias que vivem no local. Ela conta que, graças a barragem, ninguém mais pode morrer de fome, pois há peixe para comer, mas por outro lado muitas coisas precisam ser feitas para que a vida da população relocada melhore. “Ninguém pode dizer que a obra de Acauã não é importante. Todo mundo reconhece, mas quem teve suas casas submersas merecia um tratamento melhor”, opinou.
A antiga comunidade de Melancia dispunha de uma escola e a construção de um posto de saúde seria iniciada. A escola até hoje funciona de maneira improvisada em duas casas de placa, medindo 40 m² cada e o posto de saúde nunca foi construído para atender à população. As casas são semelhantes às que os moradores receberam quando tiveram que abandonar suas antigas moradias.
A professora Evânia Cleide, 40 anos, diz que os pais perderam o gosto de mandar seus filhos estudarem no espaço e que a infraestrutura do local atrapalha as aulas. “Tem dia que a gente não tem nem hora do recreio, pois não tem onde as crianças brincarem. Ensino educação infantil e confesso que não tem como a gente desenvolver as dinâmicas de modo satisfatório. Dentro da escola não cabe ninguém e fora não há espaço propício”, disse.
Na escola Bélio Pereira de Andrade, que só tem nome nos documentos oficiais, estão matriculados, neste ano, 80 alunos que cursam até a quarta série do ensino fundamental. “Da quarta em diante os alunos vão para a cidade. As condições das estrada, muitas vezes, não permitem que eles cheguem”, denuncia.
O marido da professora, José Ilton Ferreira, 40 anos, disse que há vários meses não arranja emprego. “Não tem emprego por aqui. Antes eu vivia da plantação, criava animais, mas a barragem inundou tudo e hoje é difícil arranjar serviço na região”, lamentou.
Muitos dos antigos agricultores, que viviam do trabalho na roça e da criação de animais, hoje são registrados como pescadores e se dizem satisfeitos somente pelo fato de todos os anos serem beneficiados pelo seguro-desemprego, pago a esses profissionais na época em que a pesca é interrompida.
Piscicultura
Para a grande maioria, os quatro meses de seguro são o único período em que eles têm a oportunidade de lucrar um salário mínimo mensal, já que a piscicultura, apesar de na região existirem condições ideais para se desenvolver, não está sendo potencializada. A maioria não está organizado para a atividade.
A Associação dos Piscicultores de Acauã, onde um projeto de criação de tilápias em tanques-rede foi implantado em 2006, segundo o presidente Luis Pedro de Andrade, reúne apenas 12 associados. Na época da fundação, eram 21. A produção atual é de no máximo três quilos de peixe mensalmente.
Luiz Pedro reconhece que se o projeto tivesse mais apoio, poderia produzir até 15 mil quilos por mês. A produção é vendida localmente e parte da produção também é comprada pelo governo. O quilo custa R$ 4,50.
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