Combatente do Araguaia ajuda a encontrar gerrilheiros desaparecidos

João Carlos Campos Wisnesky, 66, aceitou voltar à região quase 37 anos após a fuga para mostrar ao grupo de buscas possíveis destinos de ossadas.

Do Jornal da Paraíba

Um dos poucos a sobreviver aos combates no Araguaia nos anos 70, o ex-guerrilheiro João Carlos Campos Wisnesky, 66, aceitou voltar à região quase 37 anos após a fuga para mostrar ao grupo de buscas do Ministério da Defesa locais onde podem estar ossadas de cerca de 60 colegas desaparecidos. Indisposto com a comissão militar da guerrilha, Wisnesky voltou ao Rio ao ser abandonado na selva. Ao se ver só após esperar três dias por companheiros, largou a guerrilha. Foi a sua sorte.

Nos meses seguintes, os militares dizimaram os três destacamentos montados pelo clandestino PC do B no Araguaia (sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte de Tocantins). Só outros dois comunistas conseguiram escapar. Os demais constam da lista oficial de desaparecidos. Neste ano, levado por integrantes do GTT (Grupo de Trabalho Tocantins), Wisnesky esteve em Brasília para falar sobre como poderia ajudar. O GTT foi formado em 2009 pelo Ministério da Defesa em obediência à sentença da juíza federal Solange Salgado, que em 2003 mandou o governo devolver as ossadas às famílias.

A pesquisadora Myrian Alves mostrou a ele fotos de corpos. Ele reconheceu o ex-deputado Maurício Grabois, o Mário, que liderava a guerrilha e foi morto em 1973.

Radicado no Rio Grande do Norte, o médico Wisnesky (chamado de Paulo na guerrilha) viajou para Marabá (PA). Ele vai percorrer lugares em que a guerrilha se estabeleceu. Wisnesky é hoje um crítico da organização do movimento. Diz que, na floresta, foi posto “na geladeira’’ por contestar ordens absurdas, como a de não poder usar barba ou falar com as pessoas da terra. “Quando cheguei [em outubro de 1971] achei tudo muito estranho. Como fazer um exército popular se não podia se comunicar [com a população]? Falei isso a eles. Não me responderam.’’

Sua fuga começou a se esboçar quando os guerrilheiros do A, do qual fazia parte, foram à Transamazônica atacar um posto policial em setembro de 1973. Paulo não foi chamado. Com Hélio Navarro de Magalhães, o Edinho, hoje desaparecido, e três rapazes do Araguaia que aderiram à guerrilha, foi para outra área. “Ia de batedor. Chegamos a uma roça. Edinho me mandou atravessar com cautela. Cheguei lá, mas eles, não. Fiquei três dias parado. Ficou claro que havia sido abandonado.

Decidi voltar ao Rio.’’ No Rio, conta ter contatado o PC do B, mas, ao verificar que quase todos os correligionários foram presos ou mortos, abandonou a militância e voltou à faculdade de medicina. Nos livros sobre a guerrilha, Wisnesky pouco é citado. Nunca o localizaram. Em 1993, à revista “Veja’’, deu declarações curtas sobre o Araguaia. No Relatório Arroyo, em que o PC do B analisa a guerrilha, Paulo é tido como desertor. O ex-deputado Aldo Arantes, representante da sigla no GTT, não comentou a ajuda de Wisnesky. Renato Rabelo, presidente do partido, não quis falar.