Lembranças de Dom José (a propósito de Dom Aldo)

A renúncia do arcebispo Dom Aldo Pagotto torna inevitável a lembrança de Dom José Maria Pires. Pela convicção de que um não esteve à altura da cadeira que o outro ocupou por 30 anos.

Dom José, mineiro de Córregos. Dom Pelé, Dom Zumbi. Homem de fala mansa, bela voz, sorriso inesquecível. Posições firmes combinadas com rara capacidade de diálogo e, quando necessário, conciliação.

Se o assunto for a liturgia católica, guardei na minha memória o Sermão das Sete Palavras de uma sexta-feira santa, na Catedral. Conduzida por ele, a celebração ganhava um significado especial, mais denso, mais profundo. Como não vi em nenhum outro pastor.

Se pensarmos no homem do seu tempo, tenho a imagem da missa de Natal na Praça João Pessoa. No acampamento dos camponeses. Muito antes do MST e suas imensas e inaceitáveis distorções. Ou da passeata no centro de João Pessoa, com Dom José ao lado dos estudantes no conflagrado ano de 1968.

E há as doces transgressões. A Cantata Para Alagamar apresentada na Igreja de São Francisco, e a fala do arcebispo: uma obra que unia três homens de nome José.  Ele próprio (um pastor cristão), Waldemar José Solha (um ateu) e José Alberto Kaplan (um judeu). Querem maior lição de tolerância e de convivência harmoniosa com as diferenças?

E a Missa dos Quilombos, celebrada no Recife, com Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e a música de Milton Nascimento.

Conheci Dom José em 1966, quando ele chegou à Paraíba. A foto a seguir me foi oferecida por ele em maio daquele ano.

DOM JOSÉ