Paulo Betti, por W.J. Solha

Paulo Betti está em João Pessoa. Nesta sexta-feira (21) e neste sábado (22), ele apresenta Autobiografia Autorizada no Teatro Paulo Pontes, do Espaço Cultural.

Paulo Betti, por W.J. Solha

Hoje cedo, W.J. Solha usou as redes sociais para postar um texto sobre o ator.

Transcrevo:

Conheço o Paulo Betti há séculos. Foi casado com minha sobrinha Eliane Giardini. Conheceram-se quando ela, mal voltou de sua primeira experiência de atriz, que foi em Pombal, no nosso filme “O Salário da Morte” – dirigido pelo Linduarte Noronha, foi fazer escola de arte dramática em São Paulo, um curso que ele também frequentava. Vi os dois “estourando” pela primeira vez numa peça estrelada por ela, dirigida por ele, de 79 – “Na Carrera do Divino” – sobre os matutos paulistas. Dez anos depois, ele me impressionava pela rápida fama conquistada e pela homenagem a meu pai, na novela Tieta, quando fazia o comerciante Timóteo ( “Tudo nos trinques?” ) que sempre atendia os clientes atrás de um balcão, sobre o qual havia um porta-tesoura, em que o bico eram as pontas da ferramenta essencial da costureira, que era minha mãe, e a crista os dois aros em que eram introduzidos os dedos, trabalho em madeira feito pelo carpinteiro Fortunato Solha, as asas duas almofadinhas em que eram espetados agulhas e alfinetes. Foi ótimo ver o Paulo no cinema, depois, como o Barão de Mauá, foi ótimo “apresentá-lo” no festival Aruanda, quando nos trouxe o seu filme “Cafundó” – em 2005 ou 6 – , contando a história de nhô João de Camargo ( Lázaro Ramos) , tido como santo, lá em Sorocaba, reverenciado por minha família. Em 1993, 94, ligou-me perguntando-me como poderia falar com Horácio de Freitas – amigo meu, de Pombal, ator de “O Salário da Morte” ( que rodáramos lá ) – para convidá-lo a participar do filme “Lamarca”. Horácio, infelizmente, já estava mal. Há uns três, quatro anos, Paulo ligou-me perguntando-me se eu não teria um texto teatral com poucos atores, para leitura de texto na Casa da Gávea – centro cultural carioca fundado por ele em 92 – justamente quando Ricardo Torres, que montara minha peça “A Batalha de Oliveiros contra o Gigante Ferrabrás” em 91, em Brasília, buscava produção para levar ao palco, no Rio, um outro scropt meu, “A Verdadeira Estória de Jesus”. Foi uma festa ver, pela internet, o Paulo apresentando o grupo e falando comigo à distância. Ele é, sem dúvida, um dos tipos mais marcantes que conheci. Ao apresentá-lo, no Fest Aruanda, lembro-me de que comentei que eu era pobre, na infância, mas ele mais pobre ainda, pois eu morava na encosta de um morro e, ele, no fundo de outro, numa casa que é agora outro centro cultural, seu , Quilombinho, destinado ao “resgate da autoestima dos escravodescendentes”. Temos uma outra coincidência. Fui, num dia, anos atrás, ao enterro de meu pai, morto aos 87 anos, em Sorocaba, e, no dia seguinte, ao do pai dele, com os mesmos 87. Bem,
agora essa enorme figura chega novamente a João Pessoa, desta vez com “Autobiografia Autorizada”, cujo texto fui um dos primeiros a ler – um belo monólogo muitíssimo engraçado, extremamente verídico e humano, belissimamente escrito e, conhecendo o ator que ele é, por certo… preciosamente interpretado.