PCC usa cartas para planejar crimes na Paraíba

Polícia apura troca de correspondência entre detentos para organizar assaltos e tráfico.

No universo da globalização e do acesso rápido e fácil à internet e aos mais sofisticados veículos de comunicação de massa, uma ferramenta surgida ainda na Antiguidade continua sendo usada com frequência pelo crime organizado: as cartas.

Na Paraíba, investigações da Polícia Civil revelam que criminosos estariam utilizando esse tipo de comunicação de dentro de presídios de todo o país para planejar assaltos a banco, comandar o tráfico de drogas, lavar dinheiro e fortalecer as ações do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Em duas prisões realizadas este ano, que terminaram retirando de circulação dois dos maiores assaltantes de bancos do Nordeste, Dyllian Muniz de Queiroz, detido em Petrolina por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) de Campina Grande; e Antônio Pereira Inácio, preso no Cariri do Estado após um assalto à agência dos Correios de Livramento, a Polícia Civil paraibana descobriu que os dois mantinham, através de cartas, contatos e articulação de ações criminosas com bandidos de vários Estados do Brasil e do PCC.

As correspondências eram enviadas e respondidas de dentro de presídios de Estados como o Pará, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e de penitenciárias da Paraíba como o Sílvio Porto, PB1 e outras unidades; estimulando a colaboração entre grandes quadrilhas interestaduais de tráfico e de assaltos a bancos. O objetivo, segundo a polícia, seria fortalecer os grupos e “ajudar” os integrantes a se capitalizarem para a prática dos crimes.

Escritas à mão, as correspondências ainda guardam dezenas de contas bancárias, a movimentação financeira das quadrilhas interestaduais e ainda ordens para a prática de crimes.

Em um trecho de uma delas, apreendida com Dyllian Muniz, o remetente (cujo nome está sendo preservado) relata a situação financeira do bando: “Penso muito em você e torço por você sempre! Bom, como você sabe saí daquele lugar mas fiquei somente três meses num presídio e voltei pra tranca no Estado de São Paulo”.

Uma outra correspondência, apreendida com o assaltante Antônio Pereira Inácio, em maio deste ano, um dos membros do PCC pede ajuda financeira. “Pô meu irmão, tá me tirando para comédia, para moleque da semana. Tem alguém dentro do banco para depositar esta miséria deste dinheiro?”, pergunta.

“Nós estamos ampliando as investigações e muitas informações ainda não podemos divulgar, porque iremos chegar a outros membros dessas quadrilhas. Geralmente essas cartas entram através de familiares, ou de integrantes dos grupos quando saem do sistema. Uma coisa que identificamos, nesses dois casos, é que as duas quadrilhas compravam armas no Paraguai”, comentou o delegado regional de Campina Grande, André Rabello.