‘Restauração gay’ em debate

Mais uma vez a homossexualidade é discutida durante os eventos religiosos que acontecem em Campina Grande no Carnaval. Assim como em 2013, este ano, a 16° edição do Encontro para a Consciência Cristã trará a discussão para o palanque. Na próxima terça-feira, 4, o pastor Joide Miranda ministrará a palestra ‘Homossexualidade: opção ou orientação?’, defendendo a “restauração gay”. O Movimento do Espírito Lilás (MEL), entidade que luta pela diversidade de gênero na Paraíba, classificou as ideias defendidas como preconceituosas e sem embasamento científico.

Para o pastor Joide Miranda, ex-travesti e presidente da Associação Brasileira de Ex-LGBTTs (Abex-LGBTTs), que hoje dá palestras sobre o que ele define como “restauração gay”, a homossexualidade deve ser prevenida e combatida. “A homossexualidade não é doença, mas sim um comportamento aprendido e que pode ser desaprendido. Defendo a restauração da identidade sexual de qualquer pessoa que voluntariamente deseja deixar de vivenciar o estado da homossexualidade. O casamento gay é a desconstrução da família e o extermínio da raça humana”, assevera.

Em resposta à proposta de restauração apresentada por Miranda, o professor de história Renan Palmeira, presidente do MEL, diz que as afirmações incitam o preconceito generalizado. “A fala do pastor é extremamente preconceituosa. E coloca a homossexualidade como sendo o grande pecado do cristianismo, como um pecado mortal. O foco principal é em cima da reversão, que qualquer um pode ser ‘curado’. É preciso respeitar a diversidade de gênero e a escolha de vida de cada um”, defende.

O pastor Joide Miranda defende ainda que existem várias causas que levariam a pessoa à homossexualidade. “Rejeição no ventre, por exemplo, pais que desejam um menino, mas nasce uma menina; abuso sexual, que em muitos casos tiveram continuidade por anos a fio, levando ao vício pelo sexo homossexual e pais ausentes, meninos com referencial apenas feminino”, diz.

Nessa perspectiva, Miranda insiste que a “restauração gay” é possível e ressalta a própria experiência. “Sou prova viva que ninguém nasce homossexual e de que em Cristo a restauração é completa. Sabemos que o movimento ‘gayzista’ tem todo apoio da mídia para disseminar a homossexualidade nesta geração, tentando provar que as pessoas nascem homossexuais, sem base científica, e tentando impor goela abaixo uma família pós-moderna no século 21”, enfatiza.

A Lei contra Homofobia também é atacada. Para o pastor Joide Miranda, ela é absurda. “Estamos vivendo uma mentira generalizada, não estamos mais podendo falar a verdade.

Tanta intolerância dos ativistas gays revela a grande dificuldade deles aceitarem críticas, qualquer opinião contra seus ideais é logo considerada homofobia, mas há uma diferença entre discriminar conduta e discriminar pessoas”, completa.

Para o líder do Mel, as declarações refletem a ignorância de alguns membros da igreja evangélica e repercutem em preconceito. “A lei não está aí para punir declarações ou opiniões sobre homossexualidade, mas sim, atos de discriminação e, principalmente, de violência contra os homossexuais. Somos um dos países campeões de assassinatos de gays. Nossa capital é a terceira mais perigosa do Nordeste para homossexuais. Com certeza estas afirmações acabam incitando o preconceito e a violência, tratando a homossexualidade como algo abominável.”, refuta.
 

Crimes na Paraíba. Segundo dados da Delegacia Especializada Contra Crimes Homofóbicos da Polícia Civil de João Pessoa, entre 2011 e 2013 foram registrados 52 assassinatos de pessoas que se enquadram na categoria LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) na Paraíba. Foram 18 mortes em 2011, 13 em 2012 e 21 em 2013. Duas mulheres estão entre as vítimas, 18 eram travestis e 24 eram homens.