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COTIDIANO

Severino Araújo e a Tabajara. Um pouco de memória!

Publicado em 24/01/2017 às 6:47 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46

Um revival tipicamente carioca trouxe Severino Araújo de volta a João Pessoa no início da década de 1980. A Tabajara ressurgiu nas domingueiras do Circo Voador, em meio ao rock do Barão Vermelho, e voltou a comandar os bailes carnavalescos do Clube Cabo Branco. Foi quando vi a orquestra pela primeira vez e conheci o maestro. Àquela altura, um homem com 65 anos que regia seus músicos com um vigor e um charme absolutamente invejáveis. Fazendo lembrar o que André Previn disse certa vez: que, neste tipo de maestro, um simples gesto pode valer muito mais do que o que se aprende nas escolas que formam os regentes.


				
					Severino Araújo e a Tabajara. Um pouco de memória!

No domingo de carnaval de 1982, a Prefeitura aproveitou a presença da Tabajara em João Pessoa e contratou a orquestra para uma apresentação no Parque Solon de Lucena. Fiquei em cima do palco, perto dos músicos. O baterista Plínio Araújo e os percussionistas iniciaram a batida do frevo, e os metais começaram a executar vários prefixos que remetiam ao gênero nascido em Pernambuco. Aos poucos, o ritmo mudou para samba, e, aí, ouvimos a introdução do “Meu Sublime Torrão”, de Genival Macedo, nosso hino popular. Era a abertura irresistível de mais uma grande performance da big band e, para quem a via pela primeira vez, a confirmação de uma lenda.

Filho de mestre de banda, Severino (como seus irmãos Zé Bodega, Manoel, Jaime e Plínio) cresceu entre o choro e o jazz. Seu ídolo era Benny Goodman, com quem tentava parecer quando empunhava o clarinete durante os bailes da Tabajara. Quando trocou João Pessoa pelo Rio de Janeiro, na década de 1940, já era um gigante diante da orquestra, cujo comando assumira aos 21 anos, mas o talento de arranjador só viria a se consolidar um pouco mais tarde, depois que teve aulas com Koellreutter. Os arranjos de Severino Araújo não estão apenas nos discos da Tabajara. Também nas antológicas gravações que Jamelão fez do repertório de Lupicínio Rodrigues.

Severino está nas antologias do choro com “Espinha de Bacalhau”, peça de dificílima execução, verdadeiro teste para os músicos. E nas do frevo com “Relembrando o Norte”, que é muito mais para ouvir do que para dançar. Foi vendo o maestro e sua orquestra que Sivuca, menino em Itabaiana, sonhou com o futuro e tirou do naipe de saxofones timbres que incorporaria à sua sanfona. Se pularmos no tempo para muitas décadas na frente, veremos que uma orquestra como a de Spok não existiria sem as influências da Tabajara. É a ela que devemos atribuir os parâmetros para a incorporação do jazz ao frevo promovida pelo jovem maestro pernambucano.

Em 1996, num baile da Tabajara no Clube Cabo Branco, levei o amigo Francelino para conhecer Severino Araújo. Na apresentação, disse que ele era exímio professor de Português, amante da música e grande colecionador de discos. Francelino comentou com o maestro que tinha mais de 10 mil CDs em seu acervo. Severino não se impressionou com o número e respondeu: “Pois eu só tenho 300 CDs de jazz (os músicos da sua geração pronunciavam “jáiz” e não “djéz”) e isto me basta”. Fiquei pensando que era uma boa quantidade para quem quisesse ter uma discoteca básica de jazz. Naquela noite, a Tabajara abriu o baile tocando “Body and Soul”.

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Silvio Osias

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