Stepan Nercessian não interpreta. No palco, ele ‘recebe’ o Chacrinha!

Stepan Chacrinha

Já faz algum tempo que o Brasil vive, no teatro, uma espécie de era dos musicais biográficos. Há também aqueles que não são biográficos, mas inspirados na obra de um artista.

Os musicais estão aí, para o bem e para o mal. Recentemente, João Pessoa viu Elis, Cássia Eller e, neste sábado (03), Chacrinha.

Para o mal, vou resumir com uma queixa que vem do público mais exigente de teatro: costumam ser ruins como dramaturgia, se pensarmos na qualidade do texto e nas soluções encontradas para a encenação.

Para o bem: permitem um saudável reencontro (encontro, aos mais jovens) com pedaços do Brasil. Memória onde falta memória.

Brasil sem memória? Sim!

No teatro A Pedra do Reino, onde foi apresentado Chacrinha, o Musical, quando perceberam que Pedro Bial era um dos autores do texto, espectadores jovens perguntaram prontamente: “Bial, aquele do Big Brother? Como pode?”

E ouviram como resposta: “Bial fez outras coisas além do Big Brother!”. Como repórter, estava ao vivo na queda do muro de Berlim. Como documentarista, fez um longa sobre Jorge Mautner.

Escrito por Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, dirigido por Andrucha Waddington, Chacrinha, o Musical não é apenas um espetáculo biográfico. O que ele tem de mais atraente é a recriação dos programas do Chacrinha, como se estes estivessem sendo assistidos ao vivo.

No Brasil de hoje, tomado pela chatice do politicamente correto, só quem foi contemporâneo sabe como era inacreditavelmente louco o delírio tropicalista do velho Abelardo Barbosa.

Ótimo entretenimento, o espetáculo ganha força no segundo ato, quando, da plateia, somos conduzidos à ilusão de que os programas do Chacrinha estão ocorrendo ali, ao vivo.

Os personagens (cantores, jurados, executivos como Boni) são todos mostrados em tom de caricatura.

Chacrinha, não. No palco, temos uma fidelíssima recriação da figura que conhecemos na vida real.

E tudo se completa porque Stepan Nercessian não interpreta o velho guerreiro! Ele “recebe” o Chacrinha!