Toquinho, João Bosco, belezas e impasses do Brasil

Dois homens de 70 anos, seus violões, suas vozes, suas canções, muitas histórias. Um palco imenso e uma plateia de quase três mil pessoas recompensadas com o que viram.

Tento resumir assim o show que Toquinho e João Bosco fizeram neste sábado (21) no teatro A Pedra do Reino, em João Pessoa.

Alguém já disse que a música popular que os brasileiros produziram fala muito profundamente do nosso destino como Nação. Há de ser verdade. Um show como esse sugere que sim.

O que vimos foram dois recitais distintos que se encontram no desfecho.

Toquinho, mais informal, até mesmo no violão, que domina como poucos na sua praia. João Bosco, mais solene, perfeccionista no trato da voz e do instrumento.

Sobre eles, pairam muitas coisas. No show de ontem, destacaram a figura de Vinícius de Moraes, guiados, certamente, pela longa parceria de Toquinho com o poeta. Mas também Tom Jobim, homenageado em Chega de Saudade e, antes, num dos grandes momentos do show: aquele em que João Bosco narrou sua chegada ao Rio e ilustrou a história com Fotografia. Se vivo estivesse, Tom faria 90 anos nesta quarta-feira (25).

O cancioneiro popular é uma das belezas do Brasil. Uma das riquezas. Fotografa e comenta o Brasil. Resiste ao próprio Brasil em seus permanentes impasses.

Um show como esse, para além da alegria de quem o vê ao vivo, tem significados que nos acompanham depois que saímos do teatro.

Gosto da permanência de uma canção como O Bêbado e a Equilibrista, que começa com a Smile de Chaplin. Como brado pela anistia, evoca uma época. Emociona os contemporâneos, a plateia canta acompanhada pelo violão do autor. Vista (ouvida) assim de longe, carrega melancolia e dor.

Gosto muito do diálogo entre passado e presente. Entre velhos e novos. A generosidade dos que já chegaram a acolher os que estão chegando. Vinícius, novamente, no centro de tudo. Um homem que, como disse Chico Buarque, não viveria no mundo pragmático de hoje.

No palco, Toquinho e João Bosco tocam, cantam, contam histórias preciosas. Na plateia, contemplamos. Seus violões, suas vozes, suas músicas.

Belezas e riquezas de um lugar que, apesar de tudo, não pode deixar de ser uma promessa de vida em nossos corações.