Bloco ‘Anjo Azul’ abre as prévias carnavalescas de João Pessoa

Bloco pré-carnavalesco, que tem como tema o universo transexual, faz lavagem da Escadaria de Malagrida amanhã, às 17h30, no Centro.

Conservando a tradição de 22 anos de existência, a 22ª Lavagem da Escadaria de Malagrida acontece amanhã, a partir das 17h30, na rua Gabriel Malagrida, conhecida como o Beco da Faculdade de Direito. O evento, que foi criado pelos organizadores do bloco pré-carnavalesco Anjo Azul, vai contar com a participação dos foliões, amigos do bloco, grupos culturais, sociais e de tradições africanas. Na prática, a lavagem da escadaria será feita com cânticos, águas, flores, e águas aromatizadas, simbolismos que serão conduzidos pelo ‘Pai Sebastião’. Além disso, a lavagem vai contar com a animação da bateria da Escola de Samba Unidos do Róger. A expectativa é reunir  dezenas de pessoas que tradicionalmente participam da ação todos os anos. 

Segundo Edmay Cirilo leite, a primeira lavagem da escadaria aconteceu em 1994, com a inauguração do Bar Anjo Azul, momento que reuniu personalidades do Estado e gerou grande repercussão. A primeira lavagem de Malagrida teve o intuito de lavar a sujeira do beco decadente e de boemia, segundo Edmay, no local é possível encontrar até hoje bares, pessoas urinando e muitas profissionais do sexo. O local também é considerado um pelourinho, onde ancestrais sofreram, padeceram e muitos morreram naquele espaço. A lavagem tem como objetivo também pedir bênçãos aos espíritos ancestrais dos negros e familiares que habitaram na rua nos séculos passados, bem como de Gabriel Malagrida.

"Politicamente, onde ficava os três poderes, toda a sujeira era jogada aqui. O pessoal saía da Assembleia e vinha para um bar aqui próximo e se reunia, como ponto intelectual. E tinha uma briga de poderes muito forte. Um formigueiro de opinião. Um antro de hipocrisia. E a lavagem era para fazer justamente essa limpeza e ao mesmo tempo pedir proteção aos espíritos ancestrais para que possamos ocupar o espaço e que eles nos protejam. Aqui nunca aconteceu nada, em 22 anos, um reduto de todas as tribos".

A presidente da Associação Cultural e Recreativa Anjo Azul (Acra), Dulce Edith Lós, por sua vez, conta que a associação, ao realizar mais uma lavagem, está buscando como antigamente agradecer e pedir proteção ao Folia de Rua, para que não haja mortes, brigas e confusões. "Esse é o simbolismo da lavagem, que remonta à antiga Roma e à antiga Grécia, e posteriormente os africanos, que também usavam a lavagem com cânticos simbólicos para agradecer aos seus deuses e pedir proteção. É esse o sentido da lavagem e o simbolismo que o bloco Anjo Azul perpetua desde sua fundação".

Conforme Dulce Edith, só após 22 anos de luta, de engajamento social em defesa do patrimônio e cultura histórica de João Pessoa e da Paraíba foi que a Acra conseguiu que a prefeitura realizasse a reforma da escadaria, com nova estrutura e corrimões. "É importante que as pessoas saibam da lavagem e conheçam essa cultura que existe desde a antiguidade clássica, que promove a comunhão de todas as tribos. Além disso, pelo beco passam vários blocos que estão na programação do Folia de Rua, o beco é um ponto de encontro, momento de celebrar a comunhão e a paz, ao som de frevo, afoxés, e sambas", mencionou a presidente da Acra. 

Este ano, o Bloco Anjo Azul traz como tema o universo transexual. o Anjo Azul é fundador do Folia de Rua e originou a Acra, idealizou também o bloco as anjinhas, que trabalha o universo feminino. Os dois blocos também saem nesta sexta-feira, a partir das 17h30.