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VIDA URBANA

Cândida Vargas superlotada

Direção diz que problema é histórico; em 2012 unidade teve recorde de atendimento, com 48% das usuárias de JP e 52% de outras cidades.

Publicado em 08/09/2013 às 12:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:23

“Eu moro em Mata Redonda, distrito de Alhandra, e vim para João Pessoa para ter minha filha, que nasceu aqui na Cândida Vargas, através de parto cesariano”, relata a dona de casa Marta dos Santos, 25 anos. Ela faz parte do grupo de mulheres que residem em municípios do interior da Paraíba, mas que buscam a maternidade municipal Cândida Vargas para dar à luz os seus bebês, o que acaba gerando uma superlotação na unidade.

Marta dos Santos diz que se houvesse maternidade na cidade onde mora, jamais optaria viajar em trabalho de parto por mais de 30 quilômetros, até chegar à capital. “Se em Alhandra tivesse uma maternidade eu teria minha filha lá mesmo, mas por lá não tem. A opção de quem mora em cidades do interior é vir para João Pessoa. Além de tudo é um trajeto muito desconfortável, a pessoa com o barrigão, sentindo contrações e pedindo a Deus que chegue logo e que ocorra tudo bem”, revela.

Para agravar ainda mais a situação, Marta lembra que ainda teve o processo de retorno à cidade onde mora e a volta à capital para a consulta pós parto. Cinco dias depois do nascimento da filha, a dona de casa precisou esquecer-se do pós-cirúrgico, para na companhia do marido, Iran Domiciano de Lima, trazer a filha à capital para realizar os exames na recém-nascida e só então no retorno definitivo para casa ter o descanso necessário.

“Minha filha nasceu dia 20, três dias depois eu recebi alta e fui para casa, sendo que no dia 28 eu tive que voltar para a Cândida Vargas para fazer os exames nela. Infelizmente, é a realidade de quem mora lá, é o preço que pagamos por não ter uma maternidade em nossa cidade. É algo que desde o pré-natal a gente já sabe que vai dar à luz aqui em João Pessoa”, denuncia.

Assim como Marta dos Santos, uma estudante de 16 anos que mora em Santa Rita, Região Metropolitana de João Pessoa, buscou o Instituto Cândida Vargas para ter o bebê, mas segundo a mãe da adolescente, Damiana Gonzaga dos Santos, a filha já estava com nove meses e 14 dias de gestação, mas ainda não havia conseguido atendimento na unidade de saúde.

“Quando ela fez 9 meses e 8 dias nós viemos, fizeram o exame de toque, disseram que ainda dava para esperar um pouco mais e nos mandaram embora para retornar no dia 28, ou seja, com 9 meses e 14 dias para ela fazer uma cesariana, caso nesse intervalo ela não entrasse em trabalho de parto. Retornamos na data combinada, com tudo pronto, enxoval e tudo mais, sendo que mais uma vez fizeram o toque e mandaram para casa. Já não sei o que fazer, porque em Santa Rita não tem maternidade, é o primeiro filho dela e ela sofre de asma, tenho medo que aconteça algo de ruim com minha filha ou minha neta que está para nascer”, afirma pesarosa.
A adolescente confessa que além de estar ansiosa para ver o rostinho da filha, se sente cansada e apreensiva pelo fato de ter que ficar indo e voltando de uma cidade à outra na tentativa de dar à luz.

O caso da moradora de Santa Rita é exemplo do que pode acontecer como consequência da superlotação na maternidade Cândida Vargas, que apesar de ser um hospital municipal, realiza atendimento a pacientes de diversas cidades do Estado, não se restringindo apenas àquelas que compõem a Região Metropolitana da capital.

A situação enfrentada pelo Instituto Cândida Vargas é reconhecida pelo diretor técnico da unidade, Juarez Alves Augusto, que embora ressalte o esforço da maternidade para atender à demanda, diz que “a superlotação do Cândida Vargas é histórica”, afirma. “Para se ter uma ideia, em 2012, batemos um recorde nos atendimentos, onde tivemos apenas 48% de pacientes de João Pessoa, e 52% de outros municípios”, completa Juarez Alves Augusto.

FALTA REDE DE MATERNIDADES

O principal motivo da superlotação no Instituto Cândida Vargas, apontado pelo diretor técnico da unidade, Juarez Alves Augusto, é a ausência de uma rede de maternidades por todo o Estado da Paraíba. “Resultado disso é que termina por desaguar um grande número de parturientes aqui na capital, onde dispomos apenas de quatro maternidades, sendo que exceto o Cândida Vargas, as outras três são com número de leitos bem limitados, como as maternidades do Edson Ramalho, Frei Damião e Hospital Universitário. Como nós trabalhamos com o perfil ‘vaga sempre’, não podemos nos recusar de receber nenhuma gestante. Então, sempre trabalhamos com a capacidade acima dos 100%”, declara.

Ele considera que “João Pessoa está carente de alguns leitos de obstetrícia, pois é humanamente impossível a maternidade continuar trabalhando acima de 100% da capacidade instalada”.

Com 32 anos de experiência em obstetrícias, Juarez Alves acredita que o que faz aumentar a procura pelo Cândida Vargas é a contínua reestruturação da maternidade, já que nos últimos anos a prefeitura investiu recursos bem elevados para a construção da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto, com sete leitos, ampliação da UTI neonatal e criação da unidade de cuidados intermediários, “além de ter aumentado significativamente o número de leitos, o que elevou, significativamente, o número de internações de nascidos vivos nos últimos quatro anos”.

Embora a demanda tenha aumentado após a reestruturação do Cândida Vargas, o diretor técnico da unidade afirma que no ano passado, houve um recorde nos atendimentos, no que diz repeito a pacientes de outras cidades, dos quais se destacam com maior número de demanda de Bayeux, Santa Rita, Sapé, Mamanguape, Conde, Cabedelo, Alhandra, Caaporã, Rio Tinto, Mari, Pitimbu e Jacaraú. “Ressaltando que recebemos pacientes de toda a Paraíba, além de cidades limítrofes, como Goiana e Itambé, em Pernambuco, e cidades de divisas do Rio Grande do Norte. Então, temos 52% da nossa demanda vinda de fora da capital”, diz.

Para o obstetra, “o que o governo do Estado poderia fazer era melhorar a rede de maternidades espalhadas na Paraíba, visando evitar a superlotação no Cândida Vargas, na rede municipal”.

[Juarez Alves Augusto destaca que a superlotação do Cândida Vargas não tem relação com o fechamento da Maternidade Santa Maria, que funcionava em Mangabeira, e que dispunha de 35 leitos. O diretor técnico diz que “existe uma PPI (Programação Pactuada Integrada) em nível estadual, onde é feita uma pactuação municipal. A gestão pública de saúde é feita no modelo tripartite. São recursos federais, estaduais e municipais”.

DIFICULDADE É MANTER EQUIPE

Após um levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), a coordenadora de Saúde da Mulher, Fátima Moraes, informa que nos municípios citados não faltam maternidades, com exceção de Mamanguape que está sendo finalizada a construção do hospital e maternidade. “Os demais têm maternidades, mas a dificuldade é de recursos humanos, ou seja, para a maternidade funcionar hoje é necessário ter uma equipe mínima composta por obstetra, anestesista e pediatra e muitos municípios alegam que não têm condições de manter essa equipe todos os dias da semana. Então, nos dias que a equipe não está completa eles encaminham as pacientes para as maternidades de João Pessoa”, diz.

Como solução para desafogar os atendimentos na Maternidade Cândida Vargas, Fátima Moraes garante que o Estado está estruturando a rede materno-infantil, através do programa 'Rede Cegonha'. “Foram elaborados planos municipais e planos regionais para melhorarmos essa assistência no Estado, inclusive a Maternidade Cândida Vargas faz parte desse projeto. E através da Rede Cegonha foram disponibilizados recursos federais para reforma, ampliação e aquisição de equipamentos, a fim de organizarmos essa assistência”, afirma.

A coordenadora de Saúde da Mulher da SES reconhece a superlotação da Cândida Vargas, mas sugere que a gestão municipal deve orientar as gestantes a darem à luz nos locais onde residem. Porém, destaca que para isso, “é preciso que os leitos obstétricos que estão disponíveis e habilitados para os serviços que realizam partos de risco habitual (parto normal) precisam estar funcionando. Isso se dá através da contratação de profissionais habilitados para realizarem o parto”.

“A superlotação da Cândida Vargas existe como todos sabemos, assim como das demais maternidades de João Pessoa, como Frei Damião e Edson Ramalho, e o Isea em Campina Grande. A solução é cada município começar a assegurar que as suas gestantes tenham os seus bebês nos seus locais de residência. A contratação de recursos humanos é a contrapartida dos municípios para a rede materno-infantil funcionar”, alega.

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Jornal da Paraíba

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