Casa está superlotada

Com capacidade para cinco, local abriga 26 meninas, mas há atividades no espaço.

Outro dado levantado pela pesquisa feita por Ana Luíza Félix e Wânia Di Lorenzo está relacionado à quantidade de adolescentes que vivem na Casa Educativa. O local tem capacidade para apenas cinco internas e já na época da coleta das pesquisadoras abrigava 19 meninas. Até a última quarta-feira, o número de adolescentes no local era de 26.

As gestoras da unidade também reconhecem que o espaço é pequeno para acolher as internas e informaram que, até o primeiro semestre do ano que vem, as atividades de ressocialização desenvolvidas na Casa Educativa serão realizadas em um novo espaço.

O primeiro Centro de Ressocialização Feminina funcionará no prédio da antiga penitenciária ‘Bom Pastor’, que será reformado a partir de janeiro do ano que vem, segundo informações da Fundação do Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Alice de Almeida (Fundac).

A presidente da Fundação, Sandra Marrocos, explicou que o novo espaço terá as dependências conforme as recomendações da Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e comportará até 80 adolescentes, diferente da unidade em funcionamento, cuja capacidade é para apenas cinco internas. “Será a primeira unidade feminina para adolescentes da Paraíba e atenderemos à legislação para que as atividades possam ser realizadas da melhor maneira possível”, disse.

Ainda segundo Sandra Marrocos, a nova unidade continuará recebendo adolescentes de todo o Estado e a expectativa é ampliar as parcerias para oferecer novas oficinas de capacitação. “Vamos continuar com o Programa Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e com as parcerias com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Vamos oferecer também oficinas de artesanato e bijuterias”, completa.

COMPORTAMENTO MASCULINIZADO

Embora o foco da pesquisa não tenha sido o comportamento das adolescentes, as pesquisadoras observaram um processo de masculinização em duas das meninas consultadas no período de realização do estudo. O modo de se vestir, gestos e vocabulário lembravam características masculinas, segundo as pesquisadoras.

De acordo com a bacharel em Direito Ana Luíza Félix, esse tipo de comportamento das adolescentes pode ser entendido como uma forma delas se inserirem nos grupos dos quais participavam. “Elas sentiam que entrariam mais facilmente no mundo do tráfico se elas se masculinizassem. Até a verbalização delas era voltado para a aceitação no grupo. Era aquela coisa, o homem tem mais força, mais coragem. Então, elas tentam se ‘masculinizar’ para ter a visão de todos que fazem parte do grupo”, explicou.

Para o psicólogo Gleidson Marques, esse comportamento demonstrado pelas meninas que participaram da pesquisa pode ser motivado pelas questões da tendência grupal. Ou seja, se a pessoa se “adapta” às características de determinado grupo para participar ou “ser aceita” nele. “O que a gente vê em muitas adolescentes é que elas estão quebrando esse “rótulo feminino”, nas roupas, piercings. Tudo isso é uma forma de se adequar a um grupo específico.

Ainda segundo o psicólogo, as meninas que demonstram esse tipo de comportamento podem querer não demonstrar fragilidade e se espelham na identidade do “líder” do grupo. “Os meninos de determinados grupos podem demonstrar esse comportamento estereotipado dentro da linguagem grupal, corporal e as meninas pensam que não podem mostrar tanta fragilidade. O adolescente tem essa tendência muito grande de acompanhar um grupo. Pode até existir o mais, a pessoa mais forte do grupo e que “comande” ou delegue tal comportamento.

Mas, como todos estão pactuados lá, em uma mesma identidade, não sei se tem alguém que seja superior”, explicou o especialista.