Celulares vendidos em feiras

Usados e sem documentação, aparelhos são comercializados a preços baixos, em alguns casos podem ser resultado de assalto.

A partir de R$30 é possível comprar um aparelho celular em boas condições de uso. Com cerca de R$80, pode-se adquirir um aparelho mais moderno, com acesso à internet e outras funções. Objetos a este preço não são comprados nas lojas, mas são facilmente encontrados em feiras livres de João Pessoa. Usados e sem documentação, a origem da maioria desses aparelhos é desconhecida e, em alguns casos, podem até ser resultado de assaltos.

Usar o celular como ‘moeda de troca’ por drogas é uma prática comum entre os usuários e traficantes, conforme a Polícia Civil.

A polícia acredita que a maior parte dos assaltos contra pessoas é para pagar dívidas de drogas. Daí por diante, os celulares roubados vão parar nas ‘bocas de fumo’ e podem ser revendidos em feiras, nos bairros da capital. Se comprovado que o objeto foi produto de roubo, quem compra os aparelhos pode está cometendo o crime de receptação.

De acordo com o delegado executivo da Polícia Civil (PC) da Região Metropolitana de João Pessoa, Wagner Dorta, em operações rotineiras da PC sempre são encontrados nas feiras da capital e das cidades vizinhas celulares sem documentação que comprove a origem dos objetos. No entanto, quando os vendedores não apresentam o comprovante que prove a origem legal do aparelho, é preciso investigações mais apuradas para identificar se o produto é roubado.

“De fato acontece a venda de celulares sem documentação nas feiras livres. Mas não se pode dizer que todos são roubados. Se conseguirmos comprovar que os aparelhos que circulam nas feiras são de origem ilícita, a pessoa que está de posse desse celular está cometendo um crime e pode responder por receptação de produto roubado. Quem compra também está cometendo o mesmo delito”, explicou o delegado.

Um dos locais onde podem ser encontrados celulares usados com preço abaixo do mercado é a feira realizada todos os dias em frente a Estação Ferroviária Conde D’eu, no bairro do Varadouro, na capital. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA esteve na feira e constatou diversas barracas que oferecem aparelhos usados, ainda em bom estado, vendidos entre R$30 à R$80, de diferentes marcas e modelos.

Perguntados sobre a documentação e garantia dos objetos, os vendedores informaram que os celulares não possuíam documentos. Além das barracas improvisadas, a venda dos celulares também é feita por pessoas que circulam pela feira, expondo os aparelhos nas mãos. Além dos celulares, aparelhos de som, Iphones e tablets também foram encontrados. Todos sem documentação.

Para ajudar na identificação dos aparelhos apreendidos nas feiras e comprovar o crime de receptação, o delegado Wagner Dorta orienta às vítimas a registrar a queixa de assaltos nas delegacias. “É fundamental que a pessoa que teve seu celular roubado registre a queixa e informe o modelo, marca e outras características do aparelho. Isto é importante para que a polícia combata o crime de receptação também”, completa.

MOEDA DE TROCA POR DROGAS

Durante as abordagens policiais em pontos de venda de drogas, conhecidos popularmente por ‘boca de fumo’, é comum os policiais encontrarem, além dos entorpecentes, diversos objetos frutos de roubo. Segundo comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar (5º BPM), tenente-coronel Lívio Sérgio Delgado, um celular roubado pode ser trocado por até 10 pedras de crack, dependendo do valor do aparelho.

Foi o que aconteceu com o celular da estudante Fernanda Ellen, morta no dia 7 de janeiro. Em depoimento à polícia, na época do esclarecimento do crime, o acusado pela morte da menina informou ter trocado o celular por 15 pedras de crack, em uma “Boca de Fumo”, no bairro do Varadouro, em João Pessoa.

De acordo com o tenente-coronel Lívio Sérgio, geralmente quem rouba os aparelhos durante os assaltos são usuários de drogas e os pontos de tráfico que repassam os objetos para revenda estão localizados próximos à feiras livres.

“Normalmente quando estouramos uma ‘Boca de Fumo’, encontramos muitos celulares de diferentes modelos, motos, bicicletas, eletrodomésticos. Sabemos que tudo isso é roubado.

Agora o valor que um celular tem na ‘Boca de Fumo’ vai depender do explorador (traficante). Um celular pode valer duas, três ou até dez pedras de crack, ou cigarros de maconha. A quantidade de material que pode ser trocado é muito variável”, explicou o comandante.

Assim como os policiais civis, a Polícia Militar também realiza operações em algumas feiras livres da capital a procura de drogas e objetos roubados. Conforme o tenente-coronel Lívio Sérgio, a venda dos objetos roubados, oriundos das “Bocas de Fumo”, são repassados nas feiras por pessoas conhecidas dos traficantes. “No nosso trabalho, nós percebemos que muitos desses objetos são vendidos em locais próximos às ‘Bocas de Fumo’, como a feira de Oitizeiro e a feira próxima à Cracolândia, no Varadouro. Mas, nunca é o traficante que vai vender. Geralmente são adolescentes a mando dele”, completa.
 

TER ATENÇÃO DIFICULTA ASSALTOS

Três assaltos e dois celulares roubados. Esta foi a situação enfrentada pela advogada Marta Leite. Moradora do bairro de Manaíra, ela conta que nas três ocasiões foi abordada pelos assaltantes durante o dia, nas proximidades da casa onde mora.
Segundo Marta, no último assalto, que ocorreu em janeiro deste ano, um homem em uma bicicleta a abordou e anunciou o assalto, levando a bolsa com o celular e outros pertences da jovem. “Eu já estava chegando em casa, quando ele me assaltou. Vi que ele estava armado e não reagi. Das outras vezes, os assaltantes também estavam armados e pediram logo meu celular”, lamenta.

Com o intuito de não ser vítima novamente de bandidos, a advogada toma alguns cuidados ao sair de casa. “Se eu for sair a pé, tento não levar bolsa e celular. Se eu for levar dinheiro ou documentos, coloco nos bolsos”, comenta.

DICAS
Para driblar a ação de bandidos e não sofrer outras consequências, a principal dica é ficar atento ao caminhar nas ruas. Segundo o subcomandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, major Otávio Ferreira, falar ao celular enquanto caminha ou dentro dos ônibus torna a pessoa uma vítima fácil para os assaltantes.

“Os celulares estão muito acessíveis à população, mesmo aqueles mais sofisticados. Então, se você fica falando muito tempo ao celular em ruas desertas ou com pouca movimentação, ou até mesmo nos coletivos, fica distraído e o assaltante aproveita a oportunidade. Geralmente, as mulheres são mais vítimas deste tipo de crime”, disse.

Outra recomendação do major é procurar falar rapidamente, se atender o celular em locais vulneráveis à ação de bandidos.