Mulher é baleada e namorado é suspeito

Bacharel em direito Érica Vanessa Lira, 31 anos, foi atingida por um disparo de arma de fogo no rosto; namorado é o principal suspeito.

Mais um caso de violência contra a mulher foi registrado na Paraíba, dessa vez no bairro do Bessa, em João Pessoa. O caso aconteceu na noite da última quarta-feira, quando a tranquilidade de um pequeno edifício de apenas três andares foi mudada com uma discussão que levou a uma tentativa de homicídio.

Segundo informações da polícia e familiares da vítima, a bacharel em direito Érica Vanessa Lira, 31 anos, foi atingida por um disparo de arma de fogo no rosto, a bala entrou na região do nariz e se alojou na nuca. O principal suspeito do crime é um advogado, namorado da vítima. Ela se encontra internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Emergência e Trauma, na capital, segundo o último boletim divulgado no fim da tarde de ontem.

No apartamento de Érica Vanessa Lira, a polícia encontrou sangue espalhado pelo chão do quarto e do corredor que leva à sala. A janela aberta que a bacharel nunca costumava abrir tinha marcas da mão dela, já os lençóis da cama estavam espalhados e com sangue e cobriam as apostilas que Érica usava para estudar para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Segundo o delegado de Homicídios, Bruno Victor Germano, a tentativa de assassinato aconteceu por volta das 21h da última quarta-feira. O delegado afirmou que possivelmente o próprio namorado da vítima telefonou para a polícia informando o crime.

“A gente suspeita disso porque nem os vizinhos tinham se dado conta do fato. A polícia chegou ao local cerca de 5 minutos depois”, disse.

De acordo com o delegado, a bacharel foi quem abriu a porta do apartamento para a polícia e no local havia indícios de luta corporal. “Ela estava com a roupa rasgada e possivelmente houve uma briga. Todos os indícios são para o namorado da vítima, mas não conseguimos ouvir isso dela, porque ela tentava falar, mas não conseguia”.

Vizinhos da vítima disseram não saber informações sobre o namorado dela. “Eu não o conhecia, mas também nunca ouvi nada estranho, nem briga nem nada deles. Só que ontem foi aquele movimento estranho, aquele choro agoniado, nós chamamos por ela e ela não respondia, quando eu desci a polícia já estava chegando”, relatou o engenheiro Nélio de Araújo, um dos vizinhos da vítima.

O delegado afirmou que um vizinho que preferiu não se identificar disse que às vezes o suspeito chegava embriagado, fazendo manobras perigosas com o carro em frente ao prédio.

A família da vítima, que mora em Cajazeiras, no Sertão, revelou que o casal estava se relacionando há apenas seis meses, mas parecia viver uma relação harmoniosa e feliz.

A mãe da vítima, Maria das Neves, relatou que constantemente conversava com a filha, que dizia estar feliz com o namorado, o advogado Itamar Montenegro, 35 anos.

“Eles planejavam uma viagem para a Argentina no dia dos namorados, estavam com a passagem comprada e tudo. A gente está sem entender ainda o que aconteceu”, finalizou.

PREOCUPANTE

Para a coordenadora executiva do Coletivo Feminista Cunhã, Luciana Cândido, a violência contra mulher é um fator preocupante e de ordem pública. De acordo com ela, os casos de violência são frequentemente observados dentro da própria casa da vítima.

Para a coordenadora executiva do Cunhã, observar casos como o da bacharel em direito Érica Lira é impactante, principalmente no Brasil, que tem uma lei que ela considera como modelo para o mundo.

“Isso demonstra que esse problema da violência vai além, tem uma cultura que precisa ser quebrada. Esse machismo é estimulado de diversas maneiras, mas é uma cultura que precisa ser desconstruída. Não tem explicação essa violência”, concluiu.

Dados do Núcleo de Análise Criminal e Estatística (Nace) da Secretaria da Segurança e da Defesa Social (Seds) mostram que no primeiro bimestre deste ano 15 mulheres foram assassinadas na Paraíba. Os crimes contabilizados como casos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) – homicídios dolosos e crimes dolosos que resultaram em morte. Em todo o ano passado, foram contabilizados 118 casos, enquanto que em 2012 foram 139 vítimas.

3 Perguntas Para Maria das Neves Lira

JP: A senhora teve alguma relação com o namorado da sua filha?

Eu passei 3 dias em João Pessoa na Semana Santa. A gente viajou para o Rio Grande do Norte e ele me pareceu uma pessoa muito boa. Conhecemos a família dele, que inclusive é da igreja e tudo mais. Além disso eles estavam em um relacionamento que estava começando, tudo o que víamos era que tudo estava bem.

JP: Qual o estado em que a família ficou ao saber do ocorrido?

Nós ficamos sem acreditar. Estamos mal, indignados e surpresos. Eu estou me sentindo péssima com tudo isso, principalmente porque não imaginávamos nada. Eu só ouvia ela nas ligações dizendo o quanto estava feliz, cheia de planos e projetos.

JP: Como a família agirá agora?

Minha filha está mal, na UTI, com a bala alojada na nuca. Eu vou ficar aqui até que ela saia desse quadro, se é que ela vai sair, né? Esperamos muito que ela saia dessa e também que a justiça seja feita. A gente sabe como é nesse país, mas tenho certeza que se não for feita a justiça aqui, será feita no céu. (Colaborou Luzia Santos)