Pais na pandemia: como o novo coronavírus tem afetado a relação com os filhos?

Veja histórias de alguns pais afetados, direta ou indiretamente, pela Covid-19.

Dia dos Pais. Mais uma data emblemática no calendário de comemorações afetivas e comerciais que, em 2020, precisou se reconfigurar, por conta da pandemia do novo coronavírus. Só que, ao contrário de algumas outras datas, essa terá um significado a mais para quem sempre cuidou, ou quem sempre precisou do cuidado de pai ou de filho.

O JORNAL DA PARAÍBA conversou com alguns pais afetados direta ou indiretamente pela Covid-19, para entender melhor como as relações com os filhos mudaram em decorrência da pandemia, e como o Dia dos Pais será celebrado neste domingo (9).

Distanciamento paterno

A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende, desde o surgimento dos primeiros casos de Covid-19, o método do distanciamento social para barrar novos contágios pela doença. Na prática, quanto mais distantes fisicamente as pessoas se mantiverem, há menos chances de propagar o novo coronavírus.

No entanto, várias pesquisas já dimensionam o efeito inverso ao bem estar que o distanciamento físico entre pessoas pode provocar na mente humana. Em relações próximas, como em relacionamentos amorosos ou entre familiares, por exemplo, o impacto pode ser ainda maior. Como foi para o técnico em eletrotécnica Fabiano Oliveira, que está distante dos filhos por conta da pandemia.

Pais na pandemia: como o novo coronavírus tem afetado a relação com os filhos?
Foto: Arquivo Pessoal/Fabiano Oliveira

Fabiano mora em João Pessoa, é divorciado e tem dois filhos. Pedro Lucas, de 7 anos de idade, e Maria Helena, de 4 anos, moram com a mãe na capital pernambucana, Recife, e desde o último dia 16 de março não vêem o pai. Para ele, que era acostumado a estar com as crianças quinzenalmente, há pouco mais de quatro meses a pandemia do novo coronavírus tirou o que há de mais precioso em sua vida: a presença dos filhos.

“Sempre que eu podia, estávamos juntos. Mas, desde que começou a pandemia a única maneira que vejo meus filhos é por chamada de vídeo, e não é a mesma coisa. A gente sente que criança não dá a atenção devida; a saudade da criança é diferente. Eles querem me ver, me tocar, brincar, ficar no meu colo…”, explica.

O pai de Pedro Lucas e Maria Helena é empreendedor, e passou a trabalhar de maneira remota, em home office, durante a pandemia. Apesar disso, mantém as “saídas de casa”, já que a maior parte do trabalho dele é feito manualmente e, por isso, existe a necessidade de contato com outras pessoas e, consequentemente, a exposição à Covid-19 é maior.

Apesar da saudade, Fabiano conta que as crianças estão reagindo de maneira tranquila, pois ainda não têm a real dimensão do que representa uma pandemia e não costumam contestar os pais sobre as decisões tomadas. A saudade sem tamanho tem se tornado um problema, mesmo, é para ele, que não vê a hora de poder reencontrar os filhos.

“Eles [os filhos] são crianças que entendem quando nós falamos, aceitam com facilidade e se adaptam. Eu que não estou muito bem. A saudade é grande, sinto muita falta deles, tem dia que eu choro, é bem difícil.”, disse.

Este Dia dos Pais em 2020 será o primeiro que Fabiano passa sem os filhos, desde 2013. Segundo ele, os primeiros domingos do mês de agosto (Dia dos Pais) eram dedicados às crianças e a sua mãe, já falecida, que o criou sozinha. Mas agora, a saudade e a sensação de segurança por cumprir as recomendações de distanciamento e proteger os filhos, servirão de conforto.

“É muito complicado você ter seus filhos e não poder passar nem sequer uma hora com eles. Se eu pudesse, eu passava quinze dias isolado em casa só para ir ver eles. Pagava um teste de Covid-19 e, se desse negativo, iria direto ver eles. Eu poderia receber qualquer lembrança, mas o maior presente sempre foi ter meus filhos comigo!”, enfatizou.

Doença entre pais e filhos

Para muitas pessoas, os números de mortes causadas pela Covid-19 deixaram de ser números e se tornaram nomes. A preocupação dos órgãos de saúde com o alto risco de contágio pelo novo coronavírus entre familiares que moram numa mesmas casa, foi fundamentada durante a pandemia, com milhares de casos e de mortes de irmãos e irmãs. De pais e filhos.

Na Paraíba, já são mais de 89 mil casos de Covid-19 e quase duas mil mortes pela da doença. O campinense José Jarmesson Farias, de 36 anos, e seu filho João Pedro, de 10 anos, são dois dos milhares de casos de Covid-19 registrados em solo paraibano. Mas, felizmente, a história de pai e filho com o novo coronavírus teve um final feliz.

Jarmesson sempre sonhou em ser pai, e segundo ele, o nascimento de João Pedro o tornou uma pessoa realizada. Com o passar dos anos, a relação entre pai e filho se consolidou, e hoje, dez anos depois, eles são amigos e convivem de perto, junto à mãe do menino e esposa de Jarmesson, Juliana Farias.

Durante a pandemia, a rotina da família não mudou. Jarmesson precisou continuar trabalhando, já que o setor de entrega de medicamentos, no qual ele atua, é considerado essencial para abastecer hospitais e farmácias. Só que, infelizmente, no início do mês de junho os primeiros sintomas de uma infecção por coronavírus começaram a ser sentidos pelo motorista.

“Aquele período de quarentena eu não tive, e mesmo com todo cuidado, acabei contraindo a Covid-19 e por não saber que estava com a doença, contaminei minha família. Foi muito angustiante, fiquei muito triste, muito preocupado e me sentindo culpado por ter levado pra casa essa doença tão terrível, e por algo mais grave que pudesse acontecer com algum deles, principalmente com meu filho, João Pedro. Pedi a Deus que nada de grave acontecesse com ele. Pensei mais nele do que em mim.”, comentou.

Pais na pandemia: como o novo coronavírus tem afetado a relação com os filhos?
Foto: Arquivo Pessoal / Jarmeson Farias

Jarmesson conta, ainda, que os primeiros dias de sintomas de Covid-19 foram os piores, e saber que João Pedro também estava com a doença só piorou a situação. Eles sentiram dores no corpo, febre, dor de cabeça, indisposição, e tiveram perda de olfato e paladar, mas o mais difícil de enfrentar, segundo o pai, foi o medo.

“É uma doença horrível. Haviam dias em que eu estava bem, em outros não, mesmo com as medicações… Eu ficava com aquela preocupação se era uma recaída, se meu quadro de saúde iria piorar… É horrível. Só sabe quem passa.”, disse.

A família cumpriu o período de isolamento social tomando todos os cuidados e seguindo as orientações médicas, e já está totalmente recuperada da Covid-19. Passado o susto, agora pai, mãe e filho têm um motivo a mais para comemorar neste Dia dos Pais.

“Esse ano vai ser ainda mais especial pra mim, porque eu e meu filho conseguimos vencer uma doença tão terrível. Quantas famílias perderam um ente querido? E graças a Deus eu fui agraciado e consegui vencer junto com ele [o filho] e minha esposa.”concluiu.