População ainda tem medo de consumir os remédios genéricos

Médico, ao prescrever medicamentos, pode proibir a substituição do remédio de marca pelo genérico, mas a proibição só é válida caso haja aviso por escrito na receita.

Jacqueline Santos, do Jornal da Paraíba

Luís Cornélio da Silva toma pelo menos três tipos medicamentos por dia e gasta uma média de R$ 700 por mês com remédios para controlar a pressão arterial e os batimentos cardíacos. Mesmo com o elevado gasto, ele não tenta fazer economia comprando produtos mais baratos e revela que nunca arriscou usar comprimidos genéricos no combate aos problemas de saúde. O medo do aposentado em tomar os medicamentos genéricos também acompanha o cotidiano de muitos pacientes que precisam recorrer à terapia medicamentosa no tratamento de doenças mais sérias.

Essa constatação se reflete em números: após dez anos da comercialização desse tipo de produto no Brasil, desde a criação da Lei 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, a participação dos genéricos no mercado farmacêutico não ultrapassa os 18%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos). “Faço uso de três medicamentos todos os dias que são de uso contínuo. Tenho muito zelo pelo meu coração e jamais vou tomar genérico, pois não creio que ele ofereça o mesmo resultado que os outros. Posso até comprar para o estômago, mas em relação à complicação cardíaca e para controlar a pressão não tomo nunca o genérico, mesmo que me ofereçam bem mais barato”, disse o aposentado, de 79 anos.

A resistência não está restrita apenas a consumidores como Luís Cornélio, que confessou não acreditar na eficácia do medicamento, mas também a classe médica, que além de duvidar dos efeitos das substâncias tendem a manter a tradição de receitar remédios de laboratórios “conceituados”. Existem três tipos de produtos: o de marca, considerado pela maior parte dos profissionais da saúde como os mais confiáveis; os genéricos que passaram pelos testes de controle de qualidade e foram atestados quanto à eficácia; e o grupo dos similares, os quais os médicos não consideram seguros pela ausência das análises de biodisponibilidade e bioequivalência.

Segundo o diretor do departamento de fiscalização do Conselho Regional de Medicina na Paraíba (CRM-PB), Eurípedes Mendonça, os conselhos são favoráveis à prescrição dos genéricos, no entanto, ainda há descofiança por conta da insuficiência nos processos de inspeção dos órgãos de fiscalização. Ele afirmou que apenas 1% dos medicamentos no país é fiscalizado e, embora os genéricos sejam regulamentados, existe o risco de ocorrerem falsificações por laboratórios clandestinos. “A medicina era para prescrever sempre genéricos já que, pelos testes de comprovação, são tão confiáveis quanto os de referência e são teoricamente mais baratos, no entanto, há uma certa desconfiança se eles realmente passaram pelas avaliações”, disse.

Mendonça destacou ainda que, segundo denúncias, a resistência por parte dos médicos em receitar os genéricos está relacionada à bonificação que os profissionais recebem para prescrever produtos dos grandes laboratórios, que financiam premiações como brindes e até viagens para outros Estados.

A presidente do Conselho Regional de Farmácia na Paraíba, Tereza Davi Marques, ressalta que os genéricos têm a mesma eficácia dos produtos de referência, mas revela que o mercado desses produtos ainda é pequeno, apesar dos avanços. Quanto aos similares, ela afirmou que não existem comprovações de que tenham a mesma qualidade e, portanto, não são recomendados. “A grande maioria dos médicos utiliza na receita o nome popular e não costumam prescrever os genéricos, no entanto, muitos recomendam a substituição, caso não seja encontrado o indicado”, informou.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que o médico, ao prescrever medicamentos, pode proibir a substituição do remédio de marca pelo genérico, mas a proibição só é válida caso haja aviso por escrito na receita.