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VIDA URBANA

Um adolescente é levado à Justiça a cada 4 horas por alguma infração

Dados são Promotoria da Infância Infracional do Ministério Público da Paraíba  (MPPB). Aumento da violência está associado ao tráfico e consumo de drogas, sobretudo o crack.

Publicado em 11/04/2010 às 14:15

De Jacqueline Santos do Jornal da Paraíba

Observando a tabela da Secretaria de Saúde do Estado sobre óbitos por homicídios de paraibanos com idade entre 12 e 24 anos, vê-se um crescimento progressivo, ano após ano. Retratando o quadro a partir de 2005, a evolução foi de 281, 315, 331, 399 e 464 vítimas (em 2009). A quantidade vista nos anos 2008 e no ano passado ainda pode crescer, pois os dados são parciais. Toda semana, dezenas de casos são identificados pelas autoridades policiais.

“O crack está mais ampliado nas comunidades. Por conta dele, o volume de mortes está mais acentuado. Ele pode ser encontrado em todo o lugar. Antes, eram apenas pontos estratégicos e hoje não. A violência e tudo o que resulta dela é fruto desse mal, que tem assolado bastante nossa juventude”, lamenta o conselheiro tutelar Sérgio Lucena.

Se for levada em consideração a opinião de especialistas ao dizerem que quase a totalidade dos jovens que usam crack acabam cometendo delitos como roubar e furtar, é provável que as drogas estejam imbutidas na maioria dos motivos pelos quais esses meninos são levados à Justiça.

De acordo com o Ministério Público da Paraíba (MPPB), a cada quatro horas, um adolescente é representado na Justiça por conta de ter cometido alguma infração. Somente no ano passado, foram 2.443 representações contra paraibanos menores de 18 anos. Entre os atos infracionais, o tráfico de drogas entra como a terceira maior causa da violência praticada por jovens, ficando atrás inclusive de roubos e furtos.

Thiago mesmo confessou que precisa roubar para alimentar o vício de consumir por dia pelo menos cinco pedras da “rapadura da canela do diabo”, como ele denominou. O garoto disse que alguns dos seus conhecidos chegam a usar até 20 pedras de R$ 10,00 (existem unidades de R$ 5,00 e R$ 10,00 à venda nas comunidades).

“Chego na Lagoa e se tiver uma mulher dando ‘sopa’ com o celular, eu pego na hora. Posso roubar até 15 (aparelhos) de uma vez”. Mas eu também ganho dinheiro olhando carro em um restaurante e lá, como tem policial, os caras não chegam para me matar”, disse.

De cada dez infrações representadas pelo MPPB nas Varas da Infância e Juventude, uma é de tráfico de entorpecentes. Os roubos são responsáveis por 18,9% dos atos infracionais praticados por adolescentes e representados na Justiça pelos promotores. Já o número de furtos praticados por menores (633, o que representa 25,9% de todas infrações registradas no ano passado) lidera o ranking da delinquência juvenil na Paraíba.

A promotora da Infância Infracional de João Pessoa, Ivete Arruda, disse que os jovens são levados a cometer os atos mais absurdos para poder comprar a droga. “Infelizmente, vemos que a nossa juventude está se perdendo, principalmente com o crack, que está presente em 80% da Grande João Pessoa. Além de ser facilmente encontrada, essa droga tem um grande poder de dependência e para conseguir o dinheiro ele precisa praticar ações como vender o corpo, roubar e até matar”, disse, acrescentando que o cristal, um novo tipo de droga, tem atraído os adolescentes, “mas o que mais assusta é o crack”.

Até trabalhadores são “alvos” do crack

Thiago, jovem citado no início da reportagem, conheceu as drogas aos 12 anos com o pai, que era traficante. Mas elas não precisam estar tão perto dos adolescentes assim. Os locais que antes pareciam imprevisíveis, como igrejas, praças, escolas, agora são utilizados como ponto para atrair mais usuários. Os estudantes e pessoas desempregadas não são os únicos alvos. As drogas, principalmente o crack, está assolando outros segmentos, como acontece com trabalhadores da agricultura e da construção civil.

O poder de dependência é extraordinário e basta uma só experimentação para que a pessoa torne-se viciada. O conselheiro tutelar Jonathan Ribeiro, que acompanha o caso de Thiago, disse que “depois do advento do crack, o número de mortes ligadas ao tráfico aumentou consideravelmente”. Há poucos meses na função, Ribeiro destacou que os casos são frequentes, ou seja, todas as semanas aparecem famílias desesperadas em busca de uma solução para o caso dos seus dependentes.

O Ministério Público da Paraíba, através da Promotoria da Infância Infracional, focou os trabalhos em ações de conscientização tanto dos jovens quanto dos familiares, que têm um papel importante na prevenção. Vamos nas escolas e conversamos com os profissionais da educação, também atuamos junto às famílias. Mas a gente sabe que esse trabalho não pode ser feito da noite para o dia, é contínuo e precisa de que o poder público se engaje para combater o avanço das drogas”, explicou a promotora da Infância Infracional de João Pessoa, Ivete Arruda.

A falta de instituições destinadas ao tratamento dos dependentes figura como uma enorme barreira para o trabalho de recuperação dos usuários. Ivete disse que existem poucas clínicas especializadas e há um déficit grande de vagas nesses locais, além de que, em muitos casos, os pais não têm condições de arcar com os custos para manter os filhos nos internatos. “Contamos com a ajuda de entidades filantrópicas, mas não há recursos disponíveis para atender à demanda. Mas o papel de tratar não é nosso. Portanto, deve-se haver um trabalho conjunto em prol desses jovens”, acredita.

Um dos locais de tratamento para adolescentes e jovens dependentes químicos é o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps I), em João Pessoa. Os meninos têm assistência integral de psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos, assistentes sociais, enfermeiros. Eles desenvolvem atividades lúdicas e pedagógicas, todas visando à reinserção social. Ao longo de um ano em que o programa de atendimento a usuários de álcool e outras drogas está em funcionamento no Caps I atendeu cerca de 200 jovens com até 18 anos de idade. A faixa etária mínima varia.

A diretora da unidade, Mariana Montenegro, relatou casos de crianças com seis e sete anos totalmente dependentes de drogas e citou o caso de um menino de quatro anos que estava consumindo droga dada pelos próprios pais, que também eram viciados. No momento, 30 meninos e meninas são submetidos ao tratamento no centro nas modalidades intensiva (comparecem ao local de segunda-feira a sexta-feira), semi-intensivo (vão de duas a três vezes) e o não intensivo (apenas uma vez por semana).

Em parceria com instituições públicas, o Caps I recebe encaminhamentos de órgãos como a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) e de Educação de João Pessoa, Ministério Público da Paraíba e Conselhos Tutelares. Há ainda a busca espontânea dos jovens e a procura pelos pais dos dependentes. Quando o caso necessita de tratamento intensivo, os jovens passam a maior parte do dia participando de atividades na unidade, mas voltam para casa diariamente. (JS)

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Jornal da Paraíba

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