Violência afasta alunos das escolas na Paraíba

Pesquisa aponta que 10,9% dos estudantes paraibanos não comparecem às aulas por falta de segurança; ronda escolar tenta reduzir violência.

“Os ‘caras’ passam na rua atirando e a gente tem que ficar em casa, porque é perigoso ir para a escola”. O relato de Diego Soares (fictício), 8 anos, exemplifica a constatação da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2012 (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou que 10,9% dos estudantes paraibanos, nos últimos 30 dias (no período da pesquisa), não haviam comparecido à escola por falta de segurança no trajeto para a instituição de ensino. A pesquisa foi realizada com 3.222 alunos, matriculados em 97 turmas distribuídas em 75 escolas públicas e privadas.

Para reduzir crimes e casos de violência, a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania (Semusb) de João Pessoa, iniciou ontem o projeto ‘Ronda Escolar’, em 12 escolas municipais localizadas em comunidades que apresentam alto índice de violência. A primeira escola visitada foi a Damásio Barbosa da Franca, no Distrito Mecânico, onde Diego Soares estuda no 2º ano do Ensino Fundamental. Ele conta que sente medo principalmente do ‘carro vermelho’, que trafega rápido e já matou um homem a tiros.

Já Milena Oliveira (fictício), 8 anos, revelou que já não pode brincar na esquina de casa, por medo dos ‘homens maus’. “Quando tem tiro eu fico com muito medo e passo até 20 dias sem ir pra escola. O homem mau matou até um cachorro que estava na rua”, contou a menina. Porém, a violência constatada no entorno das instituições de ensino não afasta apenas alunos, mas também impõe medo em professores e funcionários das escolas, e nos pais dos estudantes.

Inicialmente dez guardas municipais foram capacitados para atuar de forma preventiva com a comunidade escolar. “Temos outros 170 guardas municipais que ainda passam pelo curso de formação e devem também ser capacitados para atuar na Ronda Escolar. As escolas foram escolhidas pela Secretaria de Educação, mas esperamos que até o fim do ano todas as 95 escolas municipais sejam atendidas”, afirmou Betânia Carneiro, coordenador do projeto Ronda Escolar.

As rondas dos guardas municipais serão feitas nos três turnos e irão possibilitar a integração com alunos, funcionários da escola e moradores da comunidade.

“Muitas vezes os alunos ficam três dias sem vir à aula e a gente só sabe que é por conta da violência quando a assistente social vai visitá-los. Eles estão no meio de tiroteios, presenciam brigas de gangues, os quintais de suas residências são utilizados como rota de fuga e muitas vezes os próprios familiares estão envolvidos nestes crimes”, revelou Adriana Bastos, diretora da Escola Damásio Franca.

Na manhã de ontem, os guardas que integram a Ronda Escolar, foram apresentados aos alunos e lançaram um convite para que as crianças troquem suas armas de brinquedo por revistas educativas que serão entregues na própria instituição de ensino. O projeto piloto foi aprovado pela diretora Adriana Bastos.

“Acho que isso tudo só vem a somar, já que sofremos com a questão da violência. Essa semana um aluno do turno da noite chegou a invadir a escola e fazer ameaças, o que nos deixou fragilizados. Recebemos apoio da Patrulha Escolar e investimos em itens de segurança, a exemplo de grades, mas a presença da Guarda Municipal aqui na escola será de muita importância”, concluiu Adriana.