Fotógrafo conta que duelou com fã até conseguir registro de Amy Winehouse

No ramo há 13 anos, Felipe Gestera destaca história por trás de sua foto para o JORNAL DA PARAÍBA.

Já parou para pensar em como certos momentos conseguem ser capturados pelas lentes de uma câmera? Enquanto alguns surgem de forma inesperada, como se esperassem o olhar atento do fotógrafo, outros demandam maiores esforços e sacrifícios. Uma dessas histórias envolvendo coragem e empenho foi contada por Felipe Gesteira.

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Fotógrafo conta que duelou com fã até conseguir registro de Amy WinehouseProfissional premiado, com 13 anos de carreira, Gesteira enxerga a fotografia de forma sublime. "É o limite infinitesimal de uma emoção, fração do espaço-tempo transformada em obra de arte, mídia, mensagem”, opina, confessando, no entanto, que essa visão surgiu somente depois de muito tempo no ofício. 

“Quando iniciei no fotojornalismo, eu era fotógrafo de moda e eventos, além de fazer alguns trabalhos autorais. Achava ingenuamente que entendia de fotojornalismo até começar meu estágio como repórter fotográfico no JORNAL DA PARAÍBA e descobrir que, apesar de dominar a técnica, a linguagem visual era outra. Fo ali que comecei meu aprendizado”, observa.

A foto escolhida por Gesteira para a matéria tem grande valor sentimental não apenas pela personalidade retratada, a cantora Amy Winehouse, mas pela aventura. Ela aconteceu quando ele e o colega, o jornalista André Cananéa, na época editor de Cultura do JORNAL DA PARAÍBA, foram assistir, credenciados, ao show da artista em Recife (PE). 

Gesteira lembra que não estava com uma lente para grandes distâncias e foi para o evento esperando que eles não ficassem muito longe do palco. “Ledo engano. Ao chegarmos lá fomos informados de que não poderíamos ficar no ‘fosso’, um espaço destinado à imprensa que fica exatamente entre o palco e o público”, diz, trazendo à tona o fato de que até as fotos de cima do palco haviam sido proibidas. "Foi aí que eu disse a mim mesmo pela primeira vez naquela noite ‘eu não voltarei sem a foto!’".

Decidido, o fotógrafo escondeu a câmera, burlou a segurança e se posicionou bem perto do palco, isso uma hora antes do show. Segundo ele, havia muita gente na frente, mas mesmo assim a proximidade era suficiente para garantir a foto do jornal. O único obstáculo era uma fã da artista, que começou uma confusão por estar sozinha e não conseguir assistir à apresentação. 

“Como o som estava muito alto, eu não entendia bem. Achava que queriam me expulsar por conta da câmera. Não era. Atrás de mim estava uma menina, com cerca de 16 anos e não mais que 1,60m de altura, sozinha”, conta, narrando que foi ameaçado por três homens enquanto a menina chorava copiosamente. "Foi quando disse a mim mesmo pela segunda vez naquela noite: ‘eu não voltarei sem a foto!’".

Acordo e cooperação

Para acalmar a garota, Gesteira tentou um acordo. "Eu disse ‘Vamos resolver? Você me deixa tirar a foto e eu te dou a visão do palco que você jamais teria se eu não estivesse aqui’", revela. Bem sucedido em sua proposta, ele regulou todos os ajustes da câmera, entregou o equipamento para a fã e a colocou em sua corcunda, fazendo questão de orientar: “Não mexa em mais nada, só aproveite a vista e faça muitas fotos”.

Com o problema solucionado, Gesteira diz que, assim que a apresentação começou, olhou para cima e percebeu a jovem, com as mãos levantadas, gritando em êxtase, apegada ao seu conselho, de aproveitar o show. "Fizemos imagens assim por três músicas inteiras. Ela desceu, me entregou a câmera e fui embora. Até hoje não sei seu nome para creditar devidamente a coautoria. Minha parceira de show fez 50 fotos e só uma não ficou tremida: a foto da capa do caderno de Cultura”, conclui sobre a noite inesquecível. 

*Sob supervisão e edição de Phillipe Xavier