Titá Moura fala da angústia de um quarentenado no single ‘Toque de Recolher’

Música está sendo tocada na programação da Cabo Branco FM.

Foto: Fabi Velôso/Divulgação

Titá Moura fala da angústia de um quarentenado no single 'Toque de Recolher'

O músico paraibano Titá Moura lançou o single “Toque de Recolher” na terça-feira (9). A música, uma resposta e o reflexo da inquietação de um quarentenado, também tem um lyric video, que já está disponível no Youtube.

“Toque de Recolher” já está tocando na Cabo Branco FM. A canção chega em meio à pandemia de Covid-19 que, em 11 de março de 2020, foi declarada “global” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Tomado pela comoção planetária, o cantor resolveu dar à luz sua contribuição artística sobre o assunto. 

Em entrevista à Cabo Branco FM, Titá disse que a letra veio após o anúncio da OMS, em isolamento social. “Já ali nutrindo saudades, porque a vida abruptamente se modificou”, declarou o artista. Por isso, toda a produção da música aconteceu de forma caseira, durante reclusão adotada, como diz a letra, “por livre e espontânea falta de vontade”.

O choque

Nos primeiros versos, ele canta: “Meu amigo, você que sempre foi bem mais informado do que eu/ Que em geral só sirvo para fazer canções/ Como essa sem resposta”. Apesar do eu-lírico endereçar a mensagem a um “amigo”, Titá explica que não consegue “dar um rosto a essa saudade”, e completa: “Eram muitos rostos que naquele momento passavam por mim e provocavam sentimento de saudade, da abstinência do toque, do abraço[…]”.

Naturalmente, pela natureza da arte, o ouvinte pode endereçar a angústia e a saudade para qualquer pessoa muito querida. E, afinal de contas, ele mesmo pode ser o “amigo” em questão. Isso sublinha-se porque a pandemia, apesar de assumir diferentes formas para cada um de nós, atingiu a todos.

Entretanto, há uma motivação inicial. Dias antes do início das restrições e do isolamento social na Paraíba, Titá havia feito uma participação no show de um amigo, o músico Chico Limeira. “Cheguei cedo antes do show, a gente ficou tomando uma cerveja e conversando. Ele tava num ar de muita preocupação, e eu confesso que ainda estava um pouco distraído”, contou.

Titá explicou que sabia o que estava acontecendo, mas não conseguia alcançar a dimensão daquilo. Perguntava-se se todo aquele terror que víamos nos noticiários internacionais nos alcançaria.

Então veio o choque. A declaração da OMS. As restrições. O isolamento social e a suspensão de diversas atividades.

Em seguida, vieram as mortes. “A treta era muito maior do que eu tava conseguindo alcançar e por isso que eu começo dizendo ‘meu amigo, você que sempre foi bem mais informado do que eu…’. Então é um pouco a minha consciência gritando que era preciso ligar o alarme”, disse Titá.

Lo-Fi e reclusão no relato de uma ausência

“Pandemia”, substantivo feminino, (do grego pandemía, -as, o povo inteiro). A palavra ganhou uma pluralidade que não deveria. Uma gama de significados que nos coloca em barcos diferentes e que, no entanto, decreta toque de recolher para todos. Para alguns o toque de recolher é aquele que aprisiona a empatia, anulando-a.

Para Titá, é o que ele sintetiza no relato de uma ausência, da angústia e da saudade que a reclusão impõe. No relato de alguém que queria abraçar, mas já não pode. Por isso, a canção gera grande identificação com os ouvintes. O isolamento também tem sua parcela de culpa na escolha estética da canção.

O vídeo de ‘Toque de Recolher’ tem imagens feitas pelo celular que resgatam, segundo o artista, uma estética Lo-Fi e instantânea. Além de outros aspectos, trata-se de um estilo que utiliza programações eletrônicas e tecnologias de baixo custo.

Por isso, há a possibilidade de produção musical mais artesanal, mais caseira, facilitando também a produção para artistas que não dispõem de muitos recursos. “Eu nunca tinha pisado nesse terreno, tudo que eu tinha produzido até hoje foi dentro de uma cadeia que não é Lo-Fi, né, gravando em estúdios com grandes recursos”, explicou o cantor. 

Segundo ele, a ideia veio do produtor Rafa Chaves, que adotou a estética, com sua contribuição à distância. “[É] bem diferente das canções que eu já havia lançado anteriormente[…]. E eu gosto muito do resultado porque ela tem essa despretensão que traz uma verdade que uma canção como essa, que tem uma dimensão muito afetiva, precisava”, completou Titá.

A arte e o autocuidado

O artista destaca duas coisas que a reflexão durante o isolamento social trouxe. A primeira está relacionada ao bombardeamento de notícias ruins que recebemos todos dias em relação à pandemia. Por exemplo, na última terça-feira (16), a Paraíba atingiu a marca de cinco mil óbitos em decorrência da Covid-19.

“Tem coisas que a reclusão trouxe que são pra sempre. Primeiro, comigo, tem essa coisa da valorização da saúde mental, que eu negligenciava muito. Essa circunstância de estar sendo todo o dia alvo de notícias ruins e de tanta dor na humanidade faz com que você se preocupe com o autocuidado”, explicou o músico.

A segunda coisa: o poder da arte. “O poder de salvar as pessoas e fazer com que elas, apesar de toda essa dor, continuem com esperança, continuem tendo motivos para acreditar. Porque o mundo e o próprio sistema tem todo dia nos negado isso e a arte é o contraponto”, pontuou Titá.

‘Toque de Recolher’ tem produção de Rafa Chaves, que gravou os instrumentos e criou programações eletrônicas em home studio; pianos e sintetizadores de Helinho Medeiros; imagens captadas por Brygida Freire, namorada de Titá; e edição do músico Elon. A canção é uma realização da Faniquito Produções e já está no ar na Cabo Branco FM.