As janelas para a Borborema

A produção audiovisual de Campina Grande continua crescendo. Com base nas inscrições do Comunicurtas UEPB, o mais importante festival da região, são cerca de 30 obras entre curtas e médias-metragens produzidos neste semestre.

“Ano passado foram 111 curtas produzidos na Paraíba, sendo mais de 40 de Campina Grande”, analisa o cineasta e coordenador do setor de audiovisual do Departamento de Comunicação da UEPB, André da Costa Pinto.

Recentemente, André preparou o elenco e produziu quatro curtas: Sobre Cabelos, de Lincoln Ferdinand, Amador, de Nathan Cirino, Ricardo, um Grande Homem, de Marcelo Cardins, e Inominável, de Felipe Lavorato (este último apenas como preparador de atores).

“Tenho notado um aumento grande do audiovisual desde o surgimento do Comunicurtas, que está na sua oitava edição este ano”, aponta o realizador Lincoln Ferdinand, que atribui ao próprio festival (a ser realizado em agosto) o incentivo de se tornar cineasta.

Sobre Cabelos é “uma metáfora sobre pessoas que fingem o que não são”. Para a narrativa, atores foram obrigados a raspar totalmente os cabelos, inclusive a atriz Pattrícia de Aquino. “Foi uma saga achar uma atriz que fizesse isso”, revela Ferdinand. “Mas ela é uma atriz que já tem um amadurecimento e se preparou psicologicamente”. Os cabelos foram doados para o Hospital do Câncer.

Já Amador tem um viés baseado no analógico, segundo seu diretor, Nathan Cirino. “O filme se passa no final dos anos 80”, conta. “Um cara recebe uma fita VHS e, através dela, fica sabendo que a namorada vai ser assassinada. Assim, ele vai tentar evitar sua morte”.

Por fim, Ricardo, um Grande Homem mostra uma mulher que convive com a solidão até encontrar o personagem do título, que irá modificar sua vida, e Inominável gira em torna da dificuldade das relações sociais dentro de casa quando o poder fala mais alto.

QUESTÕES DE ESPAÇO
No quesito de longas-metragens, onde figura filmes como Onde Borges Tudo Vê e Ferrolho, ambos de Taciano Valério, Costa Pinto revela que está preparando seu segundo longa, O Tempo Feliz que Passou. “Será rodado em Barra de São Miguel (terra natal do cineasta) e terá como protagonista a Guta Stresser (que está no elenco de seu longa de estreia, Tudo que Deus Criou)”.
Sem revelar muito, o diretor diz que será baseado em fatos reais e se passa no tempo atual, mas “toda a sua construção do filme remeterá aos anos 70”.

Mesmo com uma safra fílmica em crescimento, o cenário de Campina Grande enfrenta problemas como as questões de espaço para exibição dos trabalhos audiovisuais.

“Independente da qualidade e quantidade, não adianta essa obsessão de ser um pólo audiovisual se dificilmente é exibido fora de Campina”, observa Ramon Porto Mota, que está finalizando o média O Desejo do Morto, com Fernando Teixeira no elenco como um velho que planeja seu enterro.

Por não existir um lugar adequado para a exibição da produção paraibana, Mota aponta os festivais como a única vitrine para as obras.

“Hoje em dia a gente ’sobrevive’ dos festivais”, compartilha da mesma opinião Moema Vilar, produtora cultural da Cozinha de Produção. “Não é à toa que estão surgindo festivais em cada canto da Paraíba”.

Em Campina Grande, Moema exemplifica no Comunicurtas a janela para os trabalhos locais. “Todo mundo quer sua estreia no Comunicurtas, uma prova de que os festivais, de fato, são o caminho para exibir, estudar e discutir cinema”.