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QUAL A BOA?

Morreu Sérgio Ricardo. Há tempo que o Brasil anda esquecido dele

Publicado em 23/07/2020 às 14:17 | Atualizado em 22/06/2023 às 12:53

Sérgio Ricardo morreu nesta quinta-feira (23).

O compositor estava hospitalizado no Rio de Janeiro.

Tinha 88 anos.

*****

Eu tinha oito anos quando vi Sérgio Ricardo pela primeira vez.

Foi em 1967, no mesmo festival em que fui apresentado a Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Sua música - Beto Bom de Bola - foi vaiada, e ele atirou o violão na plateia.

O episódio (as imagens estão no documentário Uma Noite em 67, sobre aquele festival de MPB) é destacado agora nos necrológios do artista, mas é injusto que a gente lembre dele por causa do instrumento jogado no público.

Sérgio Ricardo tem uma presença importante na música popular e no cinema.

Associá-lo à Bossa Nova e ao Cinema Novo resume tudo. Mas ainda há mais.

Nascido em Marília (SP) em 1932, João Mansur Lutfi era seu nome de batismo. Virou Sérgio Ricardo, diferente do irmão Dib, que conservou o Lutfi no nome artístico e foi grande fotógrafo de cinema.

Com pinta do galã que não foi, Sérgio Ricardo começou fazendo A Bossa Romântica, título do seu segundo LP. Logo aderiu à vertente engajada da Bossa Nova. No show histórico do Carnegie Hall, já cantava Zelão.

Em 1964, fez a música de Deus e O Diabo na Terra do Sol.

"O Sertão vai virar mar/O mar vai virar Sertão"

Ou: "Que a terra é do homem/Não é de Deus nem do diabo"

A trilha que compôs está na antologia da nossa música popular. O filme de Glauber Rocha é um dos pontos altos da nossa cinematografia.

Sempre chamou minha atenção que um filho de libanês, nascido no interior de São Paulo, tenha assimilado com tanta sensibilidade a música nordestina, incorporando-a para sempre ao seu cancioneiro.

Fazer música para cinema não foi suficiente. Sérgio Ricardo quis fazer cinema. Esse Mundo é Meu é música e é filme.

Juliana do Amor Perdido tem esse título lindo.

A Noite do Espantalho, já na primeira metade dos anos 1970, é um musical delirante filmado no agreste de Pernambuco com Alceu Valença e Geraldo Azevedo, os dois ainda em início de carreira.

Discos? Gosto, muito particularmente, daquele LP de 1973.

Na capa, o artista com a tarja a calar sua boca.

Shows? Inesquecível vê-lo ao lado do poeta Thiago de Melo em Faz Escuro Mas eu Canto.

Era belo e desafiador. As canções do músico, os versos do poeta. O Hino à Bandeira a nos dizer que a noite ia ter fim.

"Tenho pra minha vida a busca como medida/O encontro como chegada e como ponto de partida"

A voz, as melodias, as letras, tudo tão forte, tão bonito, tão singular - é a grande música de Sérgio Ricardo.

Em Bacurau, Kleber Mendonça Filho usou Bichos da Noite na cena do cortejo fúnebre de Dona Carmelita, a personagem de Lia de Itamaracá.

"São muitas horas da noite/São horas do bacurau"

No nosso novíssimo cinema, um tributo a Sérgio Ricardo, a Glauber Rocha e ao Cinema Novo.

Lançado no ano passado, o último CD de Sérgio Ricardo sintetiza, logo no título, o que ele foi: Cinema na Música de Sérgio Ricardo.

Pena que o Brasil anda esquecido dele.

Já faz tempo.

Imagem

Silvio Osias

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