Espetáculo transcendental

“Queríamos transcender a linguagem”, essa era a palavra de ordem quando Paulinho Moska subiu ao palco do Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, para gravar o DVD Muito Pouco Para Todos (Sony Music), seu mais recente trabalho (também lançado em CD). “Não era pra ser um show de música.

Queríamos fazer algo corajoso sem prender a poesia. Não ser cinema, ser mais teatro e ter o seu charme”, explica o cantor e compositor ao JORNAL DA PARAÍBA.

De uma maneira experimental e indo além de um registro, o DVD conta com elementos de cena peculiares, como um robozinho que vai andando na tela atrás do artista carioca quando canta ‘Sinto encanto’ (parceria com Zélia Ducan), mas que também aparece, diminuto, dando seus passos no próprio palco.

Como diz em uma de suas músicas que “o alvo, na certa, não te espera”, o objetivo final alcançado é o resultado de “muitas ideias e poucos ensaios”, como Moska afirma no ‘making of’ da produção, presente no DVD.

“Tudo isso só foi possível por trabalhar com a mesma equipe. O Pablo (Casacuberta, diretor uruguaio) trabalha comigo no (programa do Canal Brasil) Zoombido há nove anos e fez também o DVD + Novo de Novo, além da produção musical do Nilo Romero. A coisa estava bem fechada como ideia bruta”.

Muitos dos efeitos colocados durante as 26 músicas do DVD foram feitos in loco, remetendo a câmera como um personagem, segundo a visão de Paulinho Moska. “Muitos efeitos que poderiam ser feitos posteriormente em softwares foram feitos à mão com espelhos, cristais e filtros”, aponta, explicando também que houve outros efeitos inseridos durante a pós-produção.

Um dos filtros – usado também no Zoombido – é feito com um bloco de vidro, que serve também para Moska tirar fotos com distorções. O efeito é realizado no palco e os ‘cliques’ do cantor usando como modelo convidados de seu programa no Canal Brasil são vistos na projeção: nomes como Vanessa da Matta, Nando Reis e Milton Nascimento, dentre outros, ganham novas interpretações plásticas quando é executada a música ‘Reflexo e reflexões’.

Compondo os elementos que dialogam com as músicas, várias imagens que remetem ao lado pessoal do artista, como o exame de ultrassom de seu filho caçula, Valentim, e desenhos de seu filho mais velho, Antonio.

O próprio diretor participa com seus traços. A arte de Pablo Casacuberta – além de ser mostrada no telão – é distribuída e jogada para o público durante ‘Somente nela’.

Assinando a direção artística, em determinados momentos a mise em scene de Moska faz uma alusão ao mundo circense do clown, a exemplo do começo da apresentação, quando ele pega um regador no centro do palco e faz ‘aguar’ a mão, fazendo a levantar como galhos (símbolo presente no DVD) e ‘regando’ também o público, que capta a ideia e também levanta as mãos.

“Eu fiz curso de teatro de clown na universidade”, relembra, também justificando esse lado bem-humorado da sua herança de vivacidade quando fazia parte do grupo Inimigos do Rei, no final dos anos 1980. “A melancolia do meu trabalho é exatamente a melancolia do clown. Quando faço o número do regador, eu já digo ao público que o espetáculo vai resultar em algo diferente”.

Muito Pouco Para Todos ainda conta com a participação especial do argentino Kevin Johansen, que canta e ensaia um samba entre ‘Waiting for the sun to shine’, parceria dele com Moska, e ‘Oh my love, my love’, de autoria do próprio Johansen (ambas gravadas no álbum Muito Pouco).

CHICO CÉSAR

O ponto alto do DVD é a música ‘Admito que perdi’, quando Paulinho pede às pessoas que tiverem celulares ou tablets subirem ao palco para registrar junto com as câmeras-personagens oficiais.

“Eu não sabia se iria subir duas ou 200 pessoas. Poderia dar tudo errado porque o palco é cheio de cabos espalhados pelo chão. Aconteceu uma só vez e foi aquele momento ali”.

Para Moska, o deslocamento do público era como se afirmasse “agora vocês estão gravando o DVD”. Dos 200 registros amadores, a produção recebeu mais de 50 para fazer parte da produção.

“Falei para o diretor que aquele personagem múltiplo que está filmando era como se fosse a visão de uma criança. Foi por causa dessa ideia que surgiu o título: Muito Pouco Para Todos”.

Encerrando com chave de ouro, na plateia vazia e com a equipe desmontando o palco, Paulinho canta com seu violão ‘Saudade’, composição sua e do paraibano Chico César. “A música não parecia nossa, saiu quase como um clássico. (Maria) Bethânia sacramentou quando a gravou”.

A vez mais recente que o cantor e compositor carioca esteve em João Pessoa foi na Estação Nordeste, em janeiro de 2010. De acordo com Paulinho Moska, sua nova turnê não passará pela Paraíba porque o projeto da Petrobras já chegou fechado. “Mas daqui a pouco tô aí!”, garante.