icon search
icon search
home icon Home > cultura
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

CULTURA

Geraldo Vandré em detalhes: uma biografia não autorizada do cantor

Jornalista Vitor Nuzzi conversa com o Jornal da Paraíba sobre a gênese da primeira biografia significativa do cantor e compositor paraibano.

Publicado em 14/06/2015 às 8:03 | Atualizado em 08/02/2024 às 11:56

Por que todos voltaram, menos ele? Era a pergunta que ecoava na cabeça do jornalista Vitor Nuzzi, que está lançando a biografia não-autorizada Geraldo Vandré – Uma Canção Interrompida (Scortecci Editora, 372 páginas).

Paraibano de João Pessoa, o cantor e compositor criou clássicos apresentados na febre dos festivais de música na época da Ditadura Militar, a exemplo de ‘Pra não dizer que não falei das flores’ e ‘Disparada’. Em 1968, com o AI-5 em vigência, Geraldo foi obrigado a exilar-se, partindo para o Chile e, depois, para a Alemanha e França. Voltou ao Brasil em 1973, mas não voltou aos palcos.

Uma década atrás, quando o músico completou 70 anos e estava cada vez mais recluso, Nuzzi escreveu um artigo temendo um possível esquecimento do público com relação ao paraibano. “Surgiu a ideia do livro, tendo como ponto de partida o ‘não retorno’ do compositor à vida artística”, conta.

Na última quarta-feira, foi unânime a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a necessidade de autorização prévia de um personagem biografado para a publicação.

Mas quando a polêmica estava no auge, há oito anos, Nizzi estava começando o projeto sobre Geraldo Vandré. “Procurei seis editoras, e duas disseram claramente que não se interessavam por uma biografia não-autorizada. Outras duas chegaram a sugerir mudanças – uma queria, inclusive, passar o trabalho para um ghost writer –, enquanto as duas restantes não responderam até hoje, o que pode ter sido motivado pelo receio de sofrer algum processo ou embargo”.

Quando estava começando Uma Canção Interrompida, o personagem principal foi a primeira pessoa que o jornalista procurou para comunicar a feitura da obra. “Ele respondeu que não tinha interesse, nem tempo. Não foi hostil, apenas respondeu com firmeza, manifestando sua posição. Considero que a preocupação dele é legítima, como a de toda pessoa pública que se vê retratada numa biografia”.

Segundo Nuzzi, essa edição saiu com apenas 100 exemplares, que está sendo distribuído gratuitamente pelo autor. “Era o que podia ser feito, não tinha recursos para uma tiragem maior”, explica. “Não penso em uma edição virtual. Quem sabe seja possível rodar mais livros impressos? Por enquanto estou nos 100 exemplares, mas é possível que esse novo cenário traga outras perspectivas”, diz, referindo-se à decisão do STF.

Para Vitor Nuzzi, o entendimento dos ministros foi uma vitória da liberdade de expressão. “Mas também aumenta a responsabilidade dos biógrafos, que devem ser cuidadosos em seus trabalhos”, pondera.

Ao longo dos anos, dedicados ao livro, o jornalista colheu cerca de 100 depoimentos. Poucos não quiseram falar, segundo ele. Entre eles, o de Leon Cakoff, criador da Mostra Internacional de Cinema. Em 1968, ainda estudante, foi secretário de Geraldo Vandré.

“Também considero relevantes os depoimentos dos jurados do Festival Internacional da Canção de 1968, afirmando, de forma unânime, que não receberam qualquer tipo de pressão para votar contra a música de Vandré”, frisa. “As entrevistas com Hilton Acioli (músico do Trio Marayá) e Xico de Cariño (músico da Galícia, que tocou no LP Das Terras de Benvirá) também foram ricos em informação, mas todos, de uma maneira ou de outra, ajudaram muito a compor a história”.

Novas biografias

Depois de ser vencido o obstáculo das biografias não-autorizadas no Supremo, as editoras já estão traçando planos para colocar as obras nas prateleiras das livrarias, inclusive o estopim da polêmica, Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo.
A Geração Editorial divulgou que será publicado no segundo semestre Geraldo Vandré - O Homem que Disse Não, de Jorge Fernando Bastos.
Já o jornalista paraibano Ricardo Anísio está preparando mais uma de Vandré, Pra Não Dizer que Não Falei, previsto para o começo de 2016.

"Não era cantor de protesto"

Apesar de ter uma carreira curta, de apenas 4 anos, o paraibano Geraldo Vandré vai além da música ‘Pra não dizer que não falei das flores’. Essa é a luz jogada nas páginas da biografia Uma Canção Interrompida, de Vitor Nuzzi.
“Esta foi uma preocupação central: mostrar que Geraldo tem uma obra muito maior do que as pessoas provavelmente conhecem”, aponta o jornalista. “Tem canções românticas belíssimas, como ‘Pequeno concerto que virou canção’, joias como ‘Fica mal com Deus’, ‘Porta estandarte’ e ‘Canção Nordestina’”.

O escritor relembra, também, que ele foi o autor de uma das mais importantes trilhas do cinema, com A Hora e Vez de Augusto Matraga (1966), filme dirigido por Roberto Santos com Leonardo Vilar (O Pagador de Promessas) no elenco.
Seguindo a canção que se tornou uma espécie de ‘hino da resistência’ à Ditadura Militar vigente no país, o artista ficou muito atrelado na mitológica figura do engajado e militante político.

“Creio que a lenda prevaleceu sobre a obra. Vandré não era um ‘cantor de protesto’, mas um artista preocupado com a realidade de seu país e que expressou essa preocupação em sua poesia”, define Nuzzi. “É o caso de ‘Pra não dizer que não falei das flores’, que ele já definiu como uma crônica social. Geraldo Vandré não era um militante político, nem era ligado a grupos, embora fosse clara a temática social em sua canção”.

Dentre os pontos levantados no livro sobre o que aconteceu para Geraldo Vandré parar após o exílio está a negociação da família para o seu retorno, em 1973. “Certamente foi um dos fatores. Isso incluiu uma entrevista forjada ao Jornal Nacional. Ali, ele aparece como se acabasse de chegar, embora já estivesse aqui havia um mês”, revela o jornalista. “Depois disso, ele fez tentativas de voltar, mas esbarrou na censura”.

Nuzzi também coloca o peso de haver uma certa decepção com o que o paraibano encontrou no seu retorno, em termos de indústria cultural. "A pesquisadora Dalva Silveira, de Minas Gerais, aborda bem essa questão em seu livro A Vida Não se Resume em Festivais. Segundo ela, a imprensa apropriou-se da invenção dos ‘dois Geraldos’ (Pedrosa e Vandré), muitas vezes ‘realçando ou espetacularizando os acontecimentos de sua vida, para chamar a atenção de seus leitores’. E, como ela também observa, a ditadura tentou apagar Vandré e sua obra da memória coletiva nacional”.

Outra consequência de sua volta, que trouxe indignação ao músico, foi a recondução ao cargo de servidor público com base na Lei da Anistia na fase da abertura política. Segundo Nuzzi, Geraldo Vandré era um servidor da extinta Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab), que foi exonerado com base no AI-5. “Ele se mostrou inconformado, argumentando que não havia cometido crime, portanto não poderia ser anistiado. Qual era o seu crime? Compor uma música? Esse questionamento se manteve ao longo do tempo”.

Paraíba inseparável

Sobre a Paraíba em Uma Canção Interrompida, tem uma menção sobre a homenagem que o bloco carnavalesco Muriçocas do Miramar rendeu ao artista em 2008, bem como um projeto aprovado pela Câmara de João Pessoa que previa uma escultura de Vandré no Parque Solon de Lucena, perto de onde ele nasceu, que nunca saiu do papel.

“Manifestei alguma preocupação com a possibilidade de os paraibanos esquecerem, com o passar do tempo, a obra de seu conterrâneo. Não só eles, como boa parte da geração atual”, afirma. “Um dos guias que conheci quando visitei João Pessoa, anos atrás, citou os nomes de vários artistas, mas não o dele. Acredito que isso, em boa parte, seja ao fato de Vandré pouco aparecer publicamente, mesmo em sua terra natal. Mas os sons que Geraldo ouviu em sua infância e juventude, como os cantadores, certamente permaneceu em seu trabalho. A Paraíba é parte inseparável da sua obra”.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp