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CULTURA

O argentino mais querido

Escritores comentam o centenário de Julio Cortázar, celebrado no Brasil com relançamento de obras e publicação de biografia.

Publicado em 26/08/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/03/2024 às 10:54

"Foi, talvez sem se propor a isso, o argentino que se fez querer por todo mundo", dizia o amigo Gabriel García Márquez (1927-2014) em Eu Não Vim Fazer um Discurso (2011). Julio Cortázar (1914-1984) não é apenas o escritor argentino mais querido do mundo. É também o mais traduzido hoje, dia do seu centenário.

Desde 2009, quando os 'hermanos' criaram o Programa Sur (uma chancelaria que apoia as traduções de autores argentinos), a instituição recebeu 26 pedidos de tradução das obras de Cortázar para línguas como o sérvio, o armênio e o macedônio.

Os números superam os registrados pelo mestre Jorge Luís Borges (1899-1986), que deu o impulso inicial na carreira do discípulo, publicando o conto 'Casa tomada' na revista 'Sur'.

No Brasil, por exemplo, seus livros têm ganhado novas edições pela Civilização Brasileira. O Jogo da Amarelinha (1963) saiu em outra tradução no ano passado, no cinquentenário. Mais recentemente, depois de relançar obras como Bestiário (1951) e publicar inéditos como Papéis Inesperados (2010), o selo da Record colocou de novo nas prateleiras livros como Final do Jogo (1956) e Um Tal Lucas (1979). Sua mais recente biografia (Notas para uma Biografia, de Mario Goloboff) será lançada pela DSOP durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

A ficção de Cortázar alimenta também outras ficções. Um dos escritores entrevistados pelo JORNAL DA PARAÍBA para compor uma bibliografia básica do autor (confira no box), W. J. Solha afirma que, para ele, O Jogo da Amarelinha foi tão importante que Maga, personagem que desaparece em Paris, nas páginas do original, reaparece em Israel Rêmora (1975), seu primeiro romance.

"Ela tem com meu personagem um filho a quem dá o nome de Rocamadur, como o primeiro, morto na França", explica Solha.

O Jogo da Amarelinha é também o livro predileto de outros dois escritores entrevistados: Jairo Cézar e Débora Ferraz. Para ele, pelo que chama de "naturalização do absurdo"; para ela, por ser "um livro infinito".

"Na verdade, em Cortázar, a distância entre loucura e sanidade é um curto salto de um pé só para casa ao lado", justifica Jairo.

"É um clichê, uma falácia, e uma mentira também, afirmar que O jogo da amarelinha é um grande livro que li", declara Débora.

"Primeiro porque não é um grande livro, mas vários grandes livros. Sempre tem algo que escapa da leitura, sempre tem um novo jeito de ler que você não testou ainda e que precisava ser experimentado. E é justamente isso o que uma obra de arte pode fazer de melhor por um ser humano: inquietá-lo a ponto de, querendo remontar a obra, desmontar a si mesmo e suas convicções", complementa.

Esta estrutura prismática da prosa de Cortázar é um elemento destacado também por André Ricardo Aguiar, que cita outro romance: História de Cronópios e de Famas (1962). "Acho o livro mais feliz do Cortázar, um jogo de referências que beira o nonsense. Também é o mais livre, o mais apto a ser desmontado pelo leitor. Sem regras, como um labirinto feito só de entradas e saídas."

'MESTRE DO CONTO'
Para Bruno Gaudêncio, Cortázar foi sobretudo um "mestre do conto", com coletâneas relevantes como Bestiário (1951) e As Armas Secretas (1959). "Leio e releio sempre procurando captar as camadas de sentidos presentes na ficção", diz Bruno.

"Impressiona-me o domínio da linguagem, bem como o jogo de sentidos contido nas narrativas."

Rinaldo de Fernandes e Maria Valéria Rezende também nutrem um interesse especial por Bestiário. Ela chama o primeiro livro de contos de Cortázar de "primeiro amor" e afirma que relê o livro todo ano desde a década de 1970, quando o descobriu.

"Tenho uma preferência por livro fino que diz tudo o que tem a dizer", ela reflete.

Rinaldo, também crítico literário, já escreveu um ensaio sobre o conto que empresta o título à reunião de textos breves. Segundo ele, a história é um "exemplo marcante do realismo fantástico sutil, que se faz nas dobras da narrativa, levando o leitor a entrar no universo mágico quase sem perceber."

Sobre as comparações com Jorge Luís Borges, levantadas por se tratarem dos dois maiores cânones da literatura argentina, Roberto Menezes se pronuncia: "Uma comparação direta dele com o Borges é uma coisa absurdamente desproporcional.

Borges é Deus, Cortázar é um santo qualquer", brinca o escritor, que traz para a lista dois livros: O Livro de Manuel (1973) e Octaedro (1974).

"Octaedro é um livro que tem oito contos mesmo. Eu acho o livro com enredo e linguagem mais interessantes. Acho que a única coisa maiorzinha que li dele foi O Livro de Manuel. Em resumo: Cortázar é bom, um dos melhores escritores argentinos do século passado, mas é só isso. Borges é universal, e não preciso mais de nenhum adjetivo pra ele", sintetiza.

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Jornal da Paraíba

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