CULTURA
Quadrinista vencedor do prêmio Jabuti fala sobre trabalho de criação
Wagner Willian conta ao JORNAL DA PARAÍBA como foi o processo criativo da novela gráfica 'Bulldogma'.
Publicado em 22/03/2016 às 8:00
Quadrinhos, cervejas, alienígenas e um cachorro são elementos da aventura urbana Bulldogma (Editora Veneta, 320 páginas, R$ 59,90), álbum de Wagner Willian – potiguar radicado em São Paulo há mais de 20 anos.
Autor de Lobisomem Sem Barba (Balão Editorial), segundo lugar na categoria Ilustração do prêmio Jabuti 2015, a protagonista de Bulldogma surge justamente de um dos contos ilustrados dessa obra anterior: Deisy Mantovani é uma ilustradora freelancer de embalagens, livros infantis e histórias em quadrinhos.
“É baseado na realidade”, atenta o quadrinista. “De certa forma, ela é um alter ego, tem um pouco disso. Levantar uma problemática para trazer o que acontece nesse mercado, que nem tudo que reluz é ouro”.
Até o tema de abduções alienígenas partiu do mundo real: enquanto folheava os classificados, o autor se deparou com um anúncio no qual o indivíduo estava vendendo o imóvel por estar cansado de ser abduzido. É para um apartamento localizado numa dessas regiões que a Deisy Mantovani se muda com seu buldogue Lino.
“O elemento sobrenatural existe só para questionar a realidade em si. Serve para traduzir melhor essa realidade emocional dela”, explica. “O buldogue é um valor afetivo, como se fosse um refúgio para ela”.
Mantovani passa seu tempo entre filmes de ficção científica, vídeos do Youtube sobre ufologia e questões filosóficas sobre a realidade. Além da busca frenética por freelas, festas e romances complicados. “Trabalhar em casa significa trabalhar muito mais. A vida social vai pras cucuias”, analisa Willian.
Juntamente com a sci-fi, o quadrinista coloca no caldeirão da sua aventura urbana um clima de Nouvelle Vague – movimento cinematográfico francês dos anos 1960. “Tem isso das coisas irem ao sabor do vento”, aponta.
Outra influência que pode-se traçar um paralelo em Bulldogma, segundo Wagner Willian, é uma pitada do nonsense do norte-americano Daniel Clowes, quadrinista de Como uma Mão de Veludo Moldada em Ferro (lançada no Brasil pela Conrad, em 2002).
Falando em moldar, Wagner conta que o processo criativo foi complicado, no qual a estrutura narrativa inicial se estendia em causalidades. Ele trabalhava com um personagem que se encontrava com outro; esse outro passava a ser acompanhado pelo autor e assim por diante.
No caos de idas e vindas de personagens, Deisy Mantovani apareceu em três monólogos. Decidindo colocá-la como protagonista, outras partes da sua extensa narrativa viraram Deus é o Jiraiya, publicada no site Nébula (medium.com/nebula) e O Homem que Era Um Javali, ainda em desenvolvimento.
“Foi complicado porque fui escrevendo e desenhando. À medida que a narrativa foi se alargando, o primeiro monólogo foi pro fim, o segundo foi pra não sei onde... Criar e destruir. Se for para resumir, o processo criativo foi esse”.
E sobre o calhamaço que é Bulldogma afetar os leitores? “Se não for pela leitura, será pelo seu peso”, brinca.
Comentários