Ratos de Porão chega a JP

Hoje, por volta das 23h, quando a banda Ratos de Porão subir ao palco armado na Praça Antenor Navarro, no Centro de João Pessoa, estará pagando uma dívida com os fãs paraibanos. E o público haverá de ser numeroso, já que há informações de que caravanas de outras cidades, até mesmo de outros Estados, estarão na capital para ver o grupo punk-rock mais popular do Brasil, que se apresenta pela primeira vez por aqui. O show integra a programação do projeto ‘Circuito Cultural’, que entra em sua reta final esta semana.

“João Pessoa era a única capital do Brasil que a gente não tinha tocado e agora vai rolar. Isso é muito legal”, comemora o guitarrista João Carlos Molina, o ‘Jão’, que em 1981 ajudou a fundar o grupo que, dois anos depois, receberia o icônico vocalista João Gordo. Os dois vêm a João Pessoa acompanhados pelo baterista Boka e pelo baixista Juninho, formação que está junta há mais de uma década.

Com mais de 30 anos de carreira e prestes a lançar seu 15º álbum de estúdio, além de dezenas de participações em coletâneas, de dentro e fora do Brasil, o Ratos de Porão desembarca disposto a presentear os fãs paraibanos. “A gente vai fazer um catálogo da nossa discografia para agradar aos fãs de diversas fases”, revela Jão, por telefone, entre um ensaio e outro da banda.

Portanto, o show que chega à Paraíba nem é o show comemorativo pelos 30 anos do primeiro disco da banda, Crucificados pelo Sistema (que vai render um DVD com apresentação gravada em março, no Rio), nem o do novo CD, Século Sinistro, prometido para este mês, com show de lançamento agendado para os dias 31 de maio e 1º de junho no Sesc Pompéia, em São Paulo.

Mas nem o primeiro, nem o novo álbum ficarão de fora do repertório, garante Jão, e o disco de estreia tem uma atenção especial do grupo este ano. “A gente tem umas músicas do Crucificados, ali, separadas. Esse disco é muito importante na história do Ratos. A gente também pretende tocar ‘Conflito violento’, do disco novo”, promete o guitarrista.

‘Conflito violento’ aborda os episódios que começaram com a mobilização que levou milhares de pessoas às ruas do país a partir de junho de 2013, tendo como personagem os ‘black blocs’. Com som antenado aos novos tempos, o Ratos segue, em suas músicas, pautado pelos noticiários do país, tanto quanto pelo comportamento social do mundo atual, vide ‘Viciado digital’, outra faixa do novo CD, que a banda disponibilizou em www.ratosdeporao.org.

Para um grupo que nasceu em plena ditadura militar, cantando contra a repressão (‘Máquina militar’), o grupo segue seu curso fazendo música por indignação. “No país que a gente vive, a gente tem condições de fazer uma música por dia de indignação”, comenta. “Indignação é o que continua a mover o Ratos de Porão”.

“Você vai amadurecendo sua forma de pensar”, comenta Jão, “mas a indignação é sempre a mesma, porque o Brasil é sempre a mesma bosta, é um país bizarro! Vem aí a Copa do Mundo e o Brasil não tem nem o básico, como educação e saúde”.

OLD SCHOOL

No novo trabalho, a pegada segue a mesma. Jão disse que Século Sinistro traz no DNA a mistura de punk, hardcore e metal que os fãs gostam e foi gravado do jeito que os integrantes curtem: completamente analógico. “A gente gravou (o disco) do jeito que a gente gosta, old school, com a fitona rolando ali”, comenta Jão, referindo-se ao gravador de rolo usado no processo. “A gente nunca gostou do Pro Tools e essas facilidades digitais, que deixam o som menos orgânico. Então, Século Sinistro é um disco bem orgânico”.

Século Sinistro foi gravado em São Paulo, no Family Mob Studios (um dos donos é o ex-baterista do Sepultura, Jean Dolabella), sob a produção da banda e do experiente André 'Cabelo' (que já trabalhou com Sepultura e o ex-Iron Maiden Paul Dianno). É o 15º disco de estúdio do grupo, famoso por álbuns como Cada Dia Mais Sujo e Agressivo (1987), Brasil (1989) e Anarkophobia (1991).

A banda local Warcursed, conhecida da tribo roqueira da cidade, abre o show do Ratos de Porão, a partir das 20h. Mais cedo, na programação desta quinta-feira, o Circuito Cultural contará com intervenções do Coletivo Graffiti, que tem entre seus integrantes o grafiteiro GigaBrow, e uma mostra da produção audiovisual paraibana. Toda a programação, gratuita.