George Harrison fez canção para a única brasileira que gravou com os Beatles. Você sabia? Ouça

George Harrison fez canção para a única brasileira que gravou com os Beatles. Você sabia? Ouça

Lizzie Bravo (na foto, com John Lennon), a única brasileira que gravou com os Beatles, morreu aos 70 anos. Era um ícone para os fãs do grupo no Brasil. Nas redes sociais, li muitos depoimentos sobre Lizzie. Histórias simples, de gente que esteve com ela ao menos uma vez ou que acabou ficando sua amiga. Estive diante dela há mais de 40 anos, e, por incrível que pareça, não conversamos sobre Beatles. Foi assim:

Em 1979, João Pessoa recebia pela segunda vez o Projeto Pixinguinha. Os shows eram no Cine Santo Antônio, a dois quarteirões da minha casa. Na segunda semana, vi Egberto Gismonti ao vivo pela primeira vez. Uma experiência inesquecível. Mais inesquecível ainda para a minha avó Stella, que, nos seus 80 anos, confessou que estava diante da maior experiência musical da sua vida.

No último dia, assim que o show terminou, subi no palco com minha avó e tentei conduzi-la ao camarim do grande músico brasileiro. Reconheci imediatamente quem estava na porta do camarim improvisado por trás da tela do cinema do nosso bairro. Era Lizzie Bravo.

Pedi que permitisse nossa entrada. Lizzie argumentou que não seria possível. Egberto não receberia ninguém naquela noite. Insisti, mais ou menos assim, surpreendendo-a por saber seu nome: “Lizzie, minha avó tem 80 anos, está aqui encantada com o que viu, não é possível que ela não consiga cumprimentar Egberto”. E ela nos levou até ele.

Vovó e Egberto Gismonti se tornaram grandes amigos, e eu deixei de conversar, ao menos um pouco, com a única brasileira que gravou com os Beatles.

A história de Lizzie Bravo é incrível. Em 1967, com 16 anos incompletos, ela foi para Londres. Seu objetivo: conhecer os Beatles. Dando plantão na porta dos estúdios de Abbey Road, não foi difícil chegar perto deles. Agora, gravar com eles, isso, definitivamente, não estava nos planos de Lizzie.

Mas aconteceu. Foi num domingo frio, no dia quatro de fevereiro de 1968. Paul McCartney apareceu na porta do estúdio, e lá estavam Lizzie e sua amiga Gayleen Pease. Paul perguntou se elas sustentariam numa nota aguda, Lizzie disse que sim, e logo estavam as duas gravando Across The Universe com os Beatles.

Lizzie Bravo era apaixonada por John Lennon, mas se aproximou mais de Paul. Na Ultimate Beatles Encyclopedia, organizada por Bill Harry, o nome dela é verbete na página 120.

Uma vez, George Harrison lhe ofereceu carona, e ela, intimidada, disse não. Quando os Beatles se separaram, George gravou, no álbum triplo All Things Must Pass, uma canção composta para Lizzie e suas amigas – as garotas que davam plantão em Abbey Road. É Apple Scruffs.

Em agosto de 1979, eu já conhecia a história de Lizzie Bravo. Sabia que fora casada com Zé Rodrix, que era “a esperança de óculos” da letra de Casa no Campo e que fizera vocal em discos de grandes artistas brasileiros. Mas ainda não conhecia a versão de Across The Universe em que aparece a voz dela. O registro, que não é o do álbum Let It Be, estaria disponível logo depois num vinil chamado Rarities e, mais tarde, na compilação Past Masters.