As lágrimas de Lula são lágrimas de justíssima e verdadeira emoção

Em 1989, parei diante da televisão para ver, ao vivo, a diplomação do presidente eleito Fernando Collor porque era um momento histórico. Não votei (nem, jamais, votaria) em Collor, mas era a primeira diplomação de um presidente na reconstrução da democracia brasileira. Achei importante testemunhar aquele instante. Depois, só vi reportagens sobre as diplomações dos presidentes eleitos (o choro de Lula em 2002, inesquecível), nunca mais as solenidades na hora em que elas aconteceram. Passaram a ser corriqueiras, atos protocolares da vida democrática.

Nesta segunda-feira, 12 de dezembro de 2022, voltei a acompanhar a diplomação de um presidente. Claro. Porque nada é normal no Brasil depois que, por quatro anos, fomos governados por Jair Bolsonaro, um político que, a despeito de ter sido eleito por 57 milhões de votos, sempre se colocou contra a democracia, nunca escondeu seus mais abjetos desejos golpistas. A diplomação do presidente eleito Lula e do vice eleito Alckmin não seria, então, um mero ato protocolar, mas um acontecimento histórico que precisava ser solenemente testemunhado.

O diploma que o Tribunal Superior Eleitoral entregou a Luiz Inácio Lula da Silva é um diploma conferido, no fundo, por 60 milhões de brasileiras e brasileiros. É a confirmação eloquente de que essas pessoas, mais do que em Lula, mais do que no PT, votaram na democracia, votaram pela preservação do estado democrático de direito. Na urna eletrônica, apertaram o número 13 não necessariamente por amor ao candidato (muita gente, sim), mas pela consciência de que a democracia estava gravemente ameaçada e de que era necessário fazer alguma coisa.

Lula sabe disso. Lula disse isso em seu discurso de pouco menos de 15 minutos. A Folha de S. Paulo criticou a sua menção à herança maldita que está recebendo do presidente Jair Bolsonaro, como se fosse mera repetição do discurso de duas décadas atrás, mas a Folha está errada. O PT não tinha razão quando, em 2003, falava em herança maldita dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Mas está coberto de razão agora, em 2022, porque o que Bolsonaro deixa para Lula é muito mais do que um governo ruim. É um país desconstruído.

Lula, a rigor, fez um discurso comedido, sem excessos. O grande discurso da solenidade foi, na verdade, o do presidente do TSE. Sem pronunciar uma só vez o nome do presidente Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes foi contundente na síntese que fez do processo eleitoral. Não recorreu a eufemismos na hora de classificar os criminosos que atentaram contra a eleição e, em última análise, contra a democracia. Sem precisar dar nome aos bois, ofereceu fotografias que não deixam dúvida alguma sobre quem são os fotografados.

A tarde desta segunda-feira (12) foi uma tarde de celebração para quem disse sim à democracia e não ao golpismo. Os caminhos que o governo Lula vai percorrer não serão fáceis. O fim do mandato de Bolsonaro não exclui a extrema-direita da vida política nacional. Mas é inegável que, com sua grande história, Lula devolve ao Brasil a normalidade das relações políticas e da vida democrática. Suas lágrimas (Foto/Reprodução), ao discursar após ser diplomado, são lágrimas de justíssima e verdadeira emoção.