Discurso de Alexandre de Moraes deixa Bolsonaro com o rabo entre as pernas

Botar o rabo entre as pernas. Não vou desenhar. Não é necessário. Todo mundo sabe o que significa. É uma expressão popular que nós usamos com razoável frequência. Aplica-se, perfeitamente, ao presidente Jair Bolsonaro que vimos, na noite desta terça-feira (16), durante a posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (Foto/Reprodução).

Foi uma noite muito importante para a democracia. Em tempos normais, não teria sido. Seria apenas mais uma posse no TSE. Mas não estamos em tempos normais. Vivemos um momento em que a democracia brasileira está sob constante ameaça. O pior e o mais triste: ameaça que vem do presidente da República, dos seus aliados próximos e dos seus seguidores.

Foi uma solenidade esperada com ansiedade e teve uma plateia pra lá de representativa. O presidente da República, o presidente do Supremo, o presidente do Senado, o presidente da Câmara, o PGR, todos os ministros do STF, mais de 20 governadores – todo mundo estava lá, a República inteira. Além de quatro ex-presidentes – Sarney, Lula, Dilma e Temer. Dilma, a traída, e Temer, o traidor, separados apenas por duas cadeiras. Ou por dois ex-presidentes.

Redondamente enganados estavam os que creram na trégua anunciada entre o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Jair Bolsonaro. Na mesa, sentados lado a lado, os dois sorriram, conversaram ao pé do ouvido, enquanto a solenidade corria de forma estritamente protocolar. O melhor, no entanto, estava reservado para o final, grand finale – o discurso de Alexandre de Moraes. Não que não tenha sido protocolar. Foi, sim. Mas, também, foi salutarmente um pouco acima do tom aguardado. Parecia até uma sequência do ato no Largo de São Francisco, semana passada em São Paulo.

O ministro que vai comandar o TSE durante as eleições de outubro disse tudo o que era imprescindível dizer. Sem meias palavras. Foi forte, contundente, corajoso. Mandou ver na defesa curta e grossa da democracia, do estado democrático de direito, das urnas eletrônicas, do trabalho do Tribunal Superior Eleitoral.

Não ficou nisso. Conceituou muitíssimo bem o que é liberdade de expressão e o quanto esta é indispensável às democracias. Mas estabeleceu o limite entre o que a liberdade de expressão permite e o que não permite. É muito diferente do que Bolsonaro defende. Melhor dizendo: é o oposto do que Bolsonaro defende.

Quer mentir? Pode mentir. Quer difundir fake news? Pode difundir. Mas saiba que tem um preço, e o TSE estará atento para decidir com velocidade. Foi o que anunciou o ministro Alexandre de Moraes. É o que a democracia espera dele.

A noite de ontem foi de afirmação da democracia. Mais do que de afirmação. Foi de exaltação mesmo. E de aviso aos golpistas: não avancem, não permitiremos. O presidente Jair Bolsonaro assistiu a tudo calado, espero que constrangido, com Lula sentado bem à sua frente. Com o rabo entre as pernas. Foi a expressão mais adequada que encontrei para definir como Bolsonaro estava.

Querem saber? Foi bonito ver Bolsonaro naquela situação. Isolado, diante de uma plateia que, por duas vezes, aplaudiu de pé as palavras do ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro estava ali feito um bicho acuado. Ele merece. Por todos males que tem feito ao Brasil e aos brasileiros, ele bem que merece.

Quando a solenidade terminou, Bolsonaro deixou o auditório como um bicho acovardado, enquanto Lula era cumprimentado efusivamente por todos. Não precisa ser lulista, basta estar ao lado da democracia para reconhecer que aquela imagem lavou a alma de muita gente. Aguardemos os próximos capítulos. Logo, logo vem o 7 de Setembro. E não vai ter golpe.