Mestre da canção popular do Brasil e da Bossa Nova, Carlos Lyra faz 90 anos

Hoje, quinta-feira, 11 de maio de 2023, é dia de celebrar a vida de um dos nossos grandes compositores. Mestre da canção popular do Brasil e da Bossa Nova, o carioca Carlos Lyra (Foto/Divulgação) está fazendo 90 anos.

Claro que o maior compositor da Bossa Nova é Tom Jobim, até porque Tom é o maior compositor popular do Brasil. Mas, se ficarmos na Bossa Nova e tirarmos Jobim do páreo, ninguém supera Carlos Lyra, intérprete sensível do repertório autoral, craque absoluto das belas melodias e de refinados desenhos harmônicos ao violão.

Um primoroso guia para quem quer se debruçar sobre o cancioneiro de Lyra é o cdbook Eu & a Bossa (Casa da Palavra/2008), um livro de 250 páginas que traz dois CDs/síntese do trabalho do compositor.

Carlos Lyra fez música e letra e também botou música em letras escritas por Vinícius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Gianfrancesco Guarnieri, Ruy Guerra, Paulo Cesar Pinheiro. Seu parceiro mais importante foi Vinícius, com quem compôs Coisa Mais Linda, Minha Namorada, Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, Primavera, Samba do Carioca e esse pequeno samba perfeito chamado Você e Eu.

Lobo Bobo, Saudade Fez um Samba, Se É Tarde Me Perdoa e Canção que Morre no Ar, Lyra fez com Ronaldo Bôscoli. Já O Negócio É amar tem como parceira Dolores Duran.

Em duas das suas músicas mais importantes, Maria Ninguém e Influência do Jazz, Carlos Lyra fez sozinho melodia e letra.

Quem, no auge da Bossa Nova, confessou gostar muito de Maria Ninguém, gravada por João Gilberto, foi a então primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy. Do You Want To Know a Secret, do primeiro disco dos Beatles, lembra muito Maria Ninguém, semelhança que Rita Lee identificou três décadas depois, quando gravou a música de Lyra.

Nara Leão era chamada de musa da Bossa Nova e, no apartamento dos seus pais, costumava reunir a nata do movimento. Mas, em 1964, quando começou a gravar, ela procurou dialogar com os os mestres do samba tradicional. Esse caminho procurado por Nara lembra o que Carlos Lyra, ao seu modo, já havia feito.

Nara fez como intérprete, Lyra fez como autor. Se a alguém deve ser atribuída a politização da Bossa Nova, é a Carlos Lyra, que atuou no CPC da UNE, compôs (com Vinícius) o Hino da União Nacional dos Estudantes e cantou os versos de Guarnieri: “Feio não é bonito/O morro existe, mas pede pra se acabar/Canta, mas canta triste/Porque tristeza é só o que se tem pra contar/Chora, mas chora rindo/Porque é valente e nunca se deixa quebrar”.

Maria Moita, talvez a primeira canção feminista do Brasil, é de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. Música forte, de tristes constatações: “Deus fez primeiro o homem/A mulher nasceu depois/Por isso é que a mulher/Trabalha sempre pelos dois”.

Em 1972, os versos iniciais de Maria Moita foram citados por Caetano Veloso em You Don’t Know Me: “Nasci lá na Bahia/De Mucama com feitor/Meu pai dormia em cama/Minha mãe no pisador”.

Grande admirador de Carlos Lyra, Caetano Veloso fez uma homenagem a ele na letra de A Bossa Nova É Foda: “O magno instrumento grego antigo/Diz que quando chegares aqui/Que é um dom que muito homem não tem/Que é influência do jazz”. Pode até não ser de fácil compreensão, mas é uma bela homenagem. Ouçamos Lyra.