Ney Matogrosso, 80 anos neste domingo, permanece atento aos sinais

Ney Matogrosso, 80 anos neste domingo, permanece atento aos sinais

Ney Matogrosso (Foto: divulgação) faz 80 anos neste domingo (01/08).

Lá se vão 48 anos desde a explosão dos Secos e Molhados, em 1973.

O grupo – uma pancada nos rigores da ditadura militar – teve vida curta. Apenas dois discos. O primeiro, um primor.

Ney era maior do que os Secos e Molhados, com a singularidade da sua voz e a ousadia da performance nos palcos.

Sozinho, fez um disco de estreia (Água do Céu – Pássaro, de 1975) excepcional.

Em 1981, ao regravar um velho êxito regional do paraibano Antônio Barros (Homem com H), viveu um segundo momento de grande sucesso comercial (o primeiro, os Secos e Molhados), lotando os lugares por onde passava com seu show.

O masculino e o feminino se fundiam em Ney, homossexual assumido, com uma deliciosa ambiguidade quando ele dizia que era homem com H.

O álbum Pescador de Pérolas, de 1987, trazia o registro ao vivo de um show no qual Ney abria mão da performance com a qual ficara conhecido.

Agora, cantava clássicos da música popular, vestindo um terno branco e sem qualquer pintura no rosto.

Tinha ao seu lado músicos como Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Raphael Rabello.

Àquela altura, o artista já se aproximava dos 50 anos e conquistara a liberdade para fazer o que quisesse, ao seu modo.

E foi o que ele fez.

Gravou A Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos.

Fez um voz & violão impecável com Raphael Rabello.

Dedicou um disco inteiro ao cancioneiro de Chico Buarque, outro aos sambas de Cartola.

Mas sempre esteve atento aos sinais, como diz o título de um dos seus discos mais recentes: quando gravou Pro Dia Nascer Feliz, que se transformou num standard do rock BR dos anos 1980, ou quando, mais tarde, foi para o estúdio dividir um álbum com Pedro Luís e A Parede.

Ney estava na estrada com o seu Bloco na Rua – show de forte, mas não óbvio, conteúdo político – no momento em que a pandemia fechou os teatros e casas de shows.

Agora, aos 80, grava um disco chamado Nu com a Minha Música.

É o título de uma canção que Caetano Veloso fez e gravou há 40 anos.

É uma bela canção.

E tem um verso nos qual precisamos crer:

“Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor”.

Ney Matogrosso tem motivos para cantá-lo.

Neste domingo, ele faz 80 anos como um dos grandes artistas da música brasileira.

São incontáveis as razões para que tenhamos muito orgulho dele.