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SILVIO OSIAS

O Brasil perde um grande pensador do cinema

Jean-Claude Bernardet morreu em São Paulo aos 88 anos.

Publicado em 14/07/2025 às 7:34


				
					O Brasil perde um grande pensador do cinema
Foto/Reprodução.

1976 ou 1977. Não sei precisar o ano. Meu pai e eu nos aproximamos de uma rapaziada de esquerda que começava a atuar politicamente dentro da UFPB. O Brasil caminhava para a abertura, e era hora de reorganizar os centros e diretórios acadêmicos.

Nossa atividade foi no campo do cineclubismo. Meu pai, um intelectual comunista também apaixonado pela magia da película em movimento, assumiu a operação dos projetores de 16 milímetros. Foi muito rica a experiência de exibir filmes no campus.

Uma vez, no CCHLA, foram exibidos vários filmes brasileiros. Lembro que havia O Profeta da Fome, de Maurice Capovilla, e Viramundo, de Geraldo Sarno, na programação.

Além dos filmes, havia a presença especialíssima de Jean-Claude Bernardet como principal debatedor. Àquela altura, Bernardet tinha 40 anos ou um pouco mais.

O carisma, a lucidez, a riqueza do conteúdo, o amor ao Brasil e ao cinema brasileiro, as necessárias provocações em críticas às vezes severas, o olhar atento ao cinema produzido em São Paulo, as relações entre o cinema e o social, o cinema e o político, o cinema e o mercado - havia tudo isso na fala sedutora de Jean-Claude Bernardet.

Terminados os debates, no começo da noite, o crítico e cineasta Jurandy Moura disse que levaria Bernardet no hotel e que daria uma carona ao meu pai e a mim. A conversa sobre o cinema e a realidade nacional não se encerrou no percurso entre a UFPB e Jaguaribe.

Em frente à nossa casa, descemos os quatro do carro, e, com todos sentados no terraço, fiquei ouvindo o papo riquíssimo de Jean-Claude Bernardet com meu pai.

Sei que nem todos os cinéfilos amam o cinema brasileiro, mas os que amam não podem prescindir, pelo menos, da leitura do livro Brasil em Tempo de Cinema.

Brasil em Tempo de Cinema é um livro que Jean-Claude Bernardet lançou em 1967. Há poucos livros tão importantes sobre o cinema brasileiro quanto este de Bernardet. Tão importantes e, certamente, de leitura tão obrigatória.

Jean-Claude Bernardet nasceu na Bélgica em agosto de 1936 e veio para o Brasil na adolescência, naturalizado brasileiro desde 1964. Era identificado como escritor, ensaísta, crítico, roteirista, ator e diretor. Perseguido e cassado pela ditadura militar, também foi professor de cinema na UNB e na USP.

Gosto de lembrar que, em 1967, com o diretor Luiz Sergio Person, escreveu o roteiro de O Caso dos Irmãos Naves, um dos grandes momentos do cinema produzido no Brasil.

Mas prefiro sintetizar Bernardet como pensador. Um grande, brilhante e indispensável pensador dos caminhos do cinema brasileiro. Com a dimensão dos maiores que tivemos.

Numa certa medida, podemos dizer que Jean-Claude Bernardet era "filho" de Paulo Emílio Sales Gomes, outro pensador - talvez o maior de todos - do cinema brasileiro. A eles, junto os nomes de Alex Viany, Ismael Xavier e José Carlos Avellar.

Jean-Claude Bernardet teve uma velhice difícil. Era soropositivo há anos, tinha câncer e estava praticamente cego. Muito fragilizado foi como o vi pela última vez, um pouco antes da pandemia, numa edição do Fest Aruanda que homenageou Ruy Guerra.

Neste sábado, 12 de julho de 2025, perdemos Jean-Claude Bernardet. Aos 88 anos, depois de sofrer um acidente vascular cerebral, ele morreu num hospital em São Paulo.

Quase 60 anos nos separam do lançamento de Brasil em Tempo de Cinema, mas sua leitura segue necessária como extraordinário legado de Bernardet. O cinema brasileiro era a vida e o amor ao Brasil pulsando no coração e na mente de Jean-Claude.

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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