Quem mandou matar Marielle Franco? Cinco anos esta noite

Rio de Janeiro, quarta-feira, 14 de março de 2018. Às nove da noite, a vereadora Marielle Franco, do PSOL, saiu de um debate na Lapa. Com uma assessora, ela entrou no carro que era dirigido por Anderson Gomes, seu motorista. O carro foi seguido por outro veículo até o Estácio, onde se deu a tragédia.

Quatro quilômetros desde a Lapa, meia hora depois, a vereadora foi executada com vários tiros na cabeça. O motorista também morreu. Estilhaços atingiram a assessora. Os tiros vieram do veículo que seguia Marielle Franco. Um homem fez os disparos. O outro dirigia. Cinco anos esta noite.

Marielle Franco tinha 38 anos. Como costumava dizer, era cria da favela da Maré. Mulher, preta, mãe, lésbica. Socióloga, ativista, defensora dos direitos das mulheres, dos pretos e pretas e da comunidade LGBT da cidade do Rio de Janeiro. Vereadora em primeiro mandato, eleita em 2016.

Eu já sabia da existência de Marielle Franco. Ficara muito positivamente impressionado com suas falas, uma delas, num vídeo gravado em um daqueles encontros promovidos por Paula Lavigne. Paula e Caetano Veloso recebiam as pessoas em casa em noites que eram festivas, mas também de conversas sobre as questões cruciais que o Brasil precisava e ainda precisa resolver.

Na manhã do dia 15 de março, recebi chocado e perplexo a notícia da execução de Marielle Franco. Enxergava nela um futuro na política, assim como, no mesmo campo da esquerda, enxergara em Marcelo Freixo e Guilherme Boulos. Tiros disparados covardemente no meio da noite silenciavam uma liderança que estava em construção numa cidade controlada cada vez mais por milicianos.

Quando a notícia começou a circular, muita gente quis saber quem era Marielle Franco. Mais tarde, muita gente ficou surpresa com o espaço que o Jornal Nacional deu ao fato. Ao ver o JN, entendi rapidamente que ali, naquela cobertura, já havia a percepção da dimensão que o assassinato de Marielle atingiria nesse mundo cada vez mais conectado, dentro e também fora do Brasil.

Ronnie Lessa está preso. A ele, é atribuída a autoria dos disparos que mataram Marielle e Anderson Gomes. Élcio Queiroz também está preso. Ele dirigia o carro de onde foram feitos os disparos. Ronnie Lessa morava no condomínio Vivendas da Barra. Lessa autorizou a entrada de Élcio no condomínio. De lá, os dois homens saíram para executar a vereadora naquele 14 de março de 2018.

O então deputado federal Jair Bolsonaro também morava no condomínio Vivendas da Barra. Quando Marielle foi executada, ele já se lançara na disputa presidencial. Candidato da extrema-direita, em pouco mais de sete meses, Bolsonaro estaria eleito presidente da República.

Cinco anos se passaram desde a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. “Quem mandou matar Marielle?” é a pergunta que se faz frequentemente e que precisa ser respondida. Anielle Franco, irmã de Marielle, é ministra da Igualdade Racial do governo Lula. Chegar ao mandante (ou mandantes) do assassinato de Marielle não é importante só para Anielle ou para o presidente Lula. É importante para o Brasil e para a imagem internacional do país. O luto e a luta continuam.