Será que Bolsonaro fica inelegível nesta quinta-feira, 29 de junho?

Presidente Jair Bolsonaro, discursa durante solenidade de sanção da lei de capitalização da Eletrobrás. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto/Reprodução) pelo Tribunal Superior Eleitoral prossegue nesta quinta-feira (29). A expectativa é por uma condenação que deixe o ex-presidente inelegível por oito anos.

Bolsonaro está sendo julgado por ter reunido um grupo de embaixadores, em julho do ano passado, para dizer mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Nesta quarta-feira (28), resgatei a íntegra do que escrevi no dia seguinte à reunião do então presidente Jair Bolsonaro com os embaixadores. É o que segue:

“Bolsonaro mente sobre urnas a estrangeiros”. “Sem provas, Bolsonaro ataca urnas diante de embaixadores”. “Alegações falsas – TSE e candidatos reagem a ataque de Bolsonaro à eleição”.

Pergunte a qualquer pessoa de esquerda o que ela acha da Folha de S. Paulo, do Estadão e de O Globo, e a resposta, com absoluta certeza, não será positiva. Pois bem, nessa ordem, (Folha, Estadão, Globo), essas são as manchetes de hoje, terça-feira, 19 de julho de 2022, dos três maiores jornais brasileiros.

William Waack, jornalista de direita, disse, na CNN, que o mundo está sabendo oficialmente que o Brasil é uma republiqueta que elege seus políticos com urnas fraudulentas e que o próprio presidente dessa republiqueta se encarregou de denunciar o sistema eleitoral para o resto do mundo.

Waack se referia ao encontro de Jair Bolsonaro (Foto/Reprodução) com um grupo de embaixadores, em Brasília. Bolsonaro, ainda segundo Waack, se transformou no primeiro caso, nos tempos modernos, de um mandatário, chefe de governo, chefe de estado, que convocou o resto do mundo para emporcalhar a imagem do seu país.

Na TV Globo, no Bom Dia Brasil, em seu comentário, Miriam Leitão disse que Bolsonaro mentiu e cometeu crimes de responsabilidade em série. Miriam afirmou que “o presidente mentiu muito”, além de ter ameaçado a realização das eleições de outubro.

Tem uma coisa que achei muito importante no comentário de Miriam Leitão, jornalista que tem o meu respeito. Ela disse que a reação ao que Bolsonaro fez está vários tons abaixo do que deveria ser porque o presidente está usando todo o poder que tem para ameaçar a democracia brasileira.

Este é o ponto crucial. A Bolsonaro, tudo é permitido desde que ele tomou posse, em janeiro de 2019. Bolsonaro comete crimes de responsabilidade e nada acontece. Bolsonaro ataca as instituições, rasga a Constituição e nada acontece. Bolsonaro defende o fechamento do Congresso e do STF e nada acontece.

Estamos, agora, a pouco mais de dois meses da eleição presidencial, Bolsonaro avança em seu discurso claramente golpista, envolve as Forças Armadas, porque fala por elas, e nada acontece. Qual será o limite? Quando, afinal, o Brasil democrático estará vários tons acima do presidente? Ou testemunharemos tudo passivamente?

O que vimos ontem – assistam, vejam os 40 minutos da fala do presidente – não poderia acontecer numa democracia plena. Sob Bolsonaro, é triste constatar, mas é verdade, não somos mais uma democracia plena. Somos um arranjo de democracia cotidianamente ameaçada por este homem eleito por quase 58 milhões de brasileiros.

A ditadura militar chamava seus opositores de subversivos. Jair Bolsonaro defende a ditadura militar  que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Curiosamente, os subversivos de hoje não são os seus opositores. Quem promove escalada subversiva, como assinala a Folha em seu editorial, é o presidente.

Nesse mesmo editorial, a Folha diz que basta de negociar com promotores da ditadura. Resta saber, na prática, como será dado esse basta ao presidente Jair Bolsonaro. Se é que será dado.

Pois é. Ao presidente, enquanto no exercício do cargo, não foi dado nenhum basta. Mas ao ex-presidente, o primeiro basta parece estar vindo agora, menos de um ano depois da reunião com os embaixadores.

Se confirmada a inelegibilidade, teremos uma eloquente demonstração de que pode custar caro atentar contra a democracia, como Bolsonaro fez explicitamente durante os quatro anos do seu governo.