Em busca de preços justos, agricultores inovam e descartam atravessadores

Pequenos produtores da Paraíba procuram alternativas para comercializar seus produtos de forma rentável.

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Produtores rurais de Jacaraú comercializam no Ponto de Cem Réis, em João Pessoa.

Frutas, verduras e hortaliças são alimentos comuns nas cozinhas das cidades, mas poucas pessoas param pra pensar no caminho que a comida precisou fazer para chegar até ao prato e às prateleiras de feiras e supermercados. Especialmente quando produzidos por pequenos agricultores, os hortifrutigranjeiros comumente precisam percorrer longas distâncias até a mesa do consumidor. Sem condições de levar a produção de regiões interioranas do Estado para cidades como Campina Grande e João Pessoa, muitos produtores rurais recorrem (ou recorriam) à figura do atravessador para escoar seus produtos.

O atravessador é, basicamente, a pessoa que coleta a produção do pequeno agricultor e a leva até o consumidor final das cidades. O problema é que, sem outra alternativa para comercializar a colheita, muitos produtores rurais cediam a condições abusivas e preços baixos impostos pelos atravessadores. “Muitos produtores ficam reféns dos atravessadores”, diz Sandra Vidal, bióloga da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado da Paraíba (Emater/PB). “O preço que a maior parte dos atravessadores cobra, na maioria dos casos, não cobre nem o custo de produção dos agricultores”, avalia.

Segundo Rogério Oliveira, produtor rural do município de Jacaraú, no Litoral Norte, cerca de 70% do valor final com a venda de produtos agrícolas vai para o bolso do atravessador. “É uma conta injusta e difícil para o agricultor”, lamenta.

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Além de venda através de redes sociais, pequenos produtores comercializam em feiras.

Na busca por negócios mais proveitosos, os produtores rurais inovam em soluções criativas e começam a utilizar a tecnologia para se aproximar de quem consome. Rogério, por exemplo, participa de  uma associação de agricultores orgânicos que utiliza uma rede social como uma importante ferramenta de negócios. “Nós criamos grupos com as pessoas interessadas na compra das frutas e verduras e entregamos cestas prontas a vários consumidores de João Pessoa”, explica ele.

Toda semana há um “cardápio” diferente. Os produtores anunciam nos grupos a lista de produtos disponíveis na cesta e quem tiver interesse, encomenda. A associação, composta por 20 agricultores de quatro assentamentos da região de Jacaraú, entrega as cestas nas cidades de João Pessoa e Cabedelo. “As entregas são geralmente realizadas às quintas, diretamente na residência de quem pediu”, diz Rogério, que vive do sítio de 8 hectares onde trabalha com a família. “Todos os produtos são orgânicos, o que é saudável para quem compra; e o preço é justo para quem trabalha na terra, eliminando o atravessador”, elabora.

Para ele, a necessidade de recorrer a terceiros para comercializar suas frutas e verduras era injusta ao produtor. “Sempre saíamos perdendo. Agora, com ajuda da tecnologia, conseguimos vender os frutos de nosso trabalho a preço justo e viver com dignidade”, comemora Rogério.

Alternativas

É por isso que os pequenos produtores da Paraíba procuram cada vez mais alternativas para comercializar seus produtos de forma rentável. Conforme Sandra Vidal, o atravessador está se tornando peça cada vez mais obsoleta no jogo do agronegócio do Estado; são três, segundo ela, os principais caminhos que levam o produtor para longe do mediador com o consumidor.

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Produção de associação de agricultores do município de Jacaraú.

O primeiro deles são as Feiras da Agricultura Familiar, feiras realizadas com determinada frequência (geralmente são semanais, quinzenais ou mensais) em pontos estratégicos. Em João Pessoa, por exemplo, existe a feira realizada na sede da Emater, na BR-230, em Cabedelo, na Grande João Pessoa, que ocorre toda sexta-feira a partir das três horas da manhã. Nas feiras, os produtores podem negociar diretamente seus produtos com o consumidor final. Além delas, existem as Feiras Agroecológicas, que vendem exclusivamente produtos orgânicos – ou seja, que foram cultivados sem o uso de agrotóxicos. Em João Pessoa, segundo a Emater, são doze feiras desse tipo que acontecem com regularidade.

O segundo caminho adotado pelos agricultores para fugir dos atravessadores é escoar a produção através de contratos com os governos municipais e estaduais. Existem dois programas federais para estimular essa prática: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que obriga escolas públicas a adquirir uma porcentagem de alimentos de agricultores familiares; e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), onde o governo adquire os produtos diretamente com os agricultores ou associações e posteriormente os doa para populações vulneráveis. “São práticas com preços justos e valores muito mais proveitosos a quem produz”, comenta Vidal.

Por fim, existem casos de cooperativas formadas entre os produtores e os próprios consumidores. “Muitos produtores levam a colheita para pontos de coleta nas cidades; um grupo de voluntários recolhe os produtos e faz a venda final junto aos consumidores, cobrando apenas os custos de transporte ou até nada, às vezes”, explica Vidal. “É uma maneira de, assim, encurtar as distâncias de uma maneira que seja proveitosa para todos”, finaliza.